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dentro das forças
MARIDO E OUTROS CONTOS MARIDO E OUTROS CONTOS - LÍDIA JORGE. Cronologicamente, a obra de Lídia Jorge faz parte da literatura portuguesa mais recente. Começa exatamente nos últimos vinte anos do século XX. O seu primeiro livro “ O Dia dos Prodígios ”, foi publicado em 1980. Também a sua obra mais conhecida, “ A Costa dos Murmúrios ”, data de 1988. UM POEMA DE WILLIAM BUTLER YEATS William Butler Yeats nasceu em 13 de junho de 1865, em Dublin, Irlanda. Um dos maiores poetas do século XX , autor de teatro, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1923. Grande parte da sua vida se deu na época em que a Irlanda era dominada pela Grã-BCONTOS DA MONTANHA
Tomando como base os “ Contos da Montanha ”, ( 8ª edição - Coimbra - 1996 ), vamos encontrar diversas personagens que nos mostra o universo regionalista de Miguel Torga. Nos contos de Torga as ações decorrem num emaranhado de emoções, onde as personagens vivem tais ações num tempo ilimitado, quase descrito em uma vida. JOHN DONNE: NENHUM HOMEM É UMA ILHA JOHN DONNE: NENHUM HOMEM É UMA ILHA. John Donne é um dos maiores poetas de língua inglesa. Incompreendido na sua época, esquecido por muitos séculos, é hoje reverenciado e lido em todo o mundo. Sua obra serviu de inspiração para muitos outros poetas além do seu tempo. Foi a partir de um belíssimo texto de John Donne, que o escritor OS AMANTES E OUTROS CONTOS O mundo de ficção de David Mourão-Ferreira nesses contos é assim, perturbador, a quebrar tabus, a trazer-nos um cheiro de erotismo e violência onírica em cada conto. Em 1974, foi acrescentado segunda edição mais três contos e este passou a chamar-se Os Amantes e Outros Contos. Os outros contos - Agora Que Nos Encontramos,Trepadeira
A CANÇÃO DE AMOR DE J. ALFRED PRUFROCK Um dos mais belos poemas produzidos na literatura inglesa do século XX, “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock”, com as suas imagens floridas em uma densa agonia destilada em versos livres, a traduzir um angustiante estado da alma, complexa, com palavras sopradas como uma canção simbolista, rumando ao vazio. T. S. Eliot escreveu o poema em 1912, numa época de marasmo que se REIS MAGOS, DO EVANGELHO À LENDA Os Magos no Evangelho de Mateus. As bases da lenda dos três reis magos remontam das histórias ao redor do nascimento de Cristo, ou seja, de uma narrativa de um dos evangelhos cristãos, o de Mateus. Dos quatro evangelhos – Mateus, Lucas, Marcos e João – só os de Mateus e Lucas relatam o nascimento de Jesus Cristo. VIRTUALIATRANSLATE THIS PAGE Em maio de 1939, o número 27 da revista norte-americana Detective Comics publicava a história do Batman, o Homem Morcego, codinome do milionário Bruce Wayne, defensor da justiça e dos oprimidos. Sete décadas depois, Batman é um dos mais bem-sucedidos heróis das histórias em quadrinhos, da televisão e do cinema. VIRTUALIATRANSLATE THIS PAGE Vênus e Marte. O mito de Vênus está ligado ao seu casamento com Vulcano (Hefestos), deus dos vulcões e do fogo, que em um ato de vingança contra a mãe Juno (Hera), aprisionara-a a um trono de ouro. Vulcano exigiu como condição para soltar a mulher de Júpiter (Zeus), que lhe fosse oferecida Vênus em casamento. A MÚSICA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR A MÚSICA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR. Quando o golpe militar foi deflagrado, em 1964, ironicamente o Brasil tinha na época, os movimentos de bases político-sociais mais organizados da sua história. Sindicatos, movimento estudantil, movimentos de trabalhadores do campo, movimentos de base dos militares de esquerdadentro das forças
MARIDO E OUTROS CONTOS MARIDO E OUTROS CONTOS - LÍDIA JORGE. Cronologicamente, a obra de Lídia Jorge faz parte da literatura portuguesa mais recente. Começa exatamente nos últimos vinte anos do século XX. O seu primeiro livro “ O Dia dos Prodígios ”, foi publicado em 1980. Também a sua obra mais conhecida, “ A Costa dos Murmúrios ”, data de 1988. UM POEMA DE WILLIAM BUTLER YEATS William Butler Yeats nasceu em 13 de junho de 1865, em Dublin, Irlanda. Um dos maiores poetas do século XX , autor de teatro, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1923. Grande parte da sua vida se deu na época em que a Irlanda era dominada pela Grã-BCONTOS DA MONTANHA
Tomando como base os “ Contos da Montanha ”, ( 8ª edição - Coimbra - 1996 ), vamos encontrar diversas personagens que nos mostra o universo regionalista de Miguel Torga. Nos contos de Torga as ações decorrem num emaranhado de emoções, onde as personagens vivem tais ações num tempo ilimitado, quase descrito em uma vida. JOHN DONNE: NENHUM HOMEM É UMA ILHA JOHN DONNE: NENHUM HOMEM É UMA ILHA. John Donne é um dos maiores poetas de língua inglesa. Incompreendido na sua época, esquecido por muitos séculos, é hoje reverenciado e lido em todo o mundo. Sua obra serviu de inspiração para muitos outros poetas além do seu tempo. Foi a partir de um belíssimo texto de John Donne, que o escritor OS AMANTES E OUTROS CONTOS O mundo de ficção de David Mourão-Ferreira nesses contos é assim, perturbador, a quebrar tabus, a trazer-nos um cheiro de erotismo e violência onírica em cada conto. Em 1974, foi acrescentado segunda edição mais três contos e este passou a chamar-se Os Amantes e Outros Contos. Os outros contos - Agora Que Nos Encontramos,Trepadeira
A CANÇÃO DE AMOR DE J. ALFRED PRUFROCK Um dos mais belos poemas produzidos na literatura inglesa do século XX, “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock”, com as suas imagens floridas em uma densa agonia destilada em versos livres, a traduzir um angustiante estado da alma, complexa, com palavras sopradas como uma canção simbolista, rumando ao vazio. T. S. Eliot escreveu o poema em 1912, numa época de marasmo que se REIS MAGOS, DO EVANGELHO À LENDA Os Magos no Evangelho de Mateus. As bases da lenda dos três reis magos remontam das histórias ao redor do nascimento de Cristo, ou seja, de uma narrativa de um dos evangelhos cristãos, o de Mateus. Dos quatro evangelhos – Mateus, Lucas, Marcos e João – só os de Mateus e Lucas relatam o nascimento de Jesus Cristo. VIRTUALIATRANSLATE THIS PAGE Em maio de 1939, o número 27 da revista norte-americana Detective Comics publicava a história do Batman, o Homem Morcego, codinome do milionário Bruce Wayne, defensor da justiça e dos oprimidos. Sete décadas depois, Batman é um dos mais bem-sucedidos heróis das histórias em quadrinhos, da televisão e do cinema.AMÁLIA RODRIGUES
Amália Rodrigues era o patrimônio vivo dessa verve, era o século XX português retratado em todas as décadas. Trazia uma boca excessivamente vermelha, como uma das cores da bandeira portuguesa, dona de uma voz que dilacerava os sentimentos por ela cantados, tudo nela era de um magnetismo que despertava a paixão incondicional doseu povo.
OS AMANTES E OUTROS CONTOS O mundo de ficção de David Mourão-Ferreira nesses contos é assim, perturbador, a quebrar tabus, a trazer-nos um cheiro de erotismo e violência onírica em cada conto. Em 1974, foi acrescentado segunda edição mais três contos e este passou a chamar-se Os Amantes e Outros Contos. Os outros contos - Agora Que Nos Encontramos,Trepadeira
MANOEL CARLOS
MANOEL CARLOS - O PAI DAS HELENAS. Há pouco mais de trinta anos estreava como autor de telenovelas, um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira, Manoel Carlos. Ator, adaptador de diversos teleteatros, diretor e escritor de programas humorísticos, variedades e musicais, Manoel Carlos tornou-se novelista aos 45 anos de idade. REIS MAGOS, DO EVANGELHO À LENDA Os Magos no Evangelho de Mateus. As bases da lenda dos três reis magos remontam das histórias ao redor do nascimento de Cristo, ou seja, de uma narrativa de um dos evangelhos cristãos, o de Mateus. Dos quatro evangelhos – Mateus, Lucas, Marcos e João – só os de Mateus e Lucas relatam o nascimento de Jesus Cristo. RETRATOS DE VÊNUS, POR SANDRO BOTTICELLI A Primavera Sandro Botticelli (cerca de 1477-78) Têmpera sobre madeira, 203 x 314 cm Galeria Uffizi, Florença O Nascimento de Vênus Se em “A Primavera” a figura de Vênus surge recatada, quase como uma virgem católica, na obra mais conhecida de Sandro Botticelli, “O Nascimento de Vênus”, a deusa do amor é retratada nua, absoluta, sensual, totalmente profana, como o seu mito eterno. O MUNDO E A CRISE DO PETRÓLEO DE 1973 A crise de 1973 pôs fim à fartura do petróleo, iniciando consciência de que o ouro negro era finito, e que o a sua extinção é uma questão de tempo. A Criação da OPEP. Quando descoberto no início do século XX, o petróleo passou a ser a fonte de energia mais utilizada pelas nações industrializadas. A sua produçãoestava
TEMPLÁRIOS EM PORTUGAL A presença dos Templários em solo português confunde-se com a própria história de Portugal. A ordem militar ajudou dom Afonso Henriques, primeiro rei da história lusitana, a expandir o seu reino, expulsando os mouros e consolidando as fronteiras do que se iriachamar de Portugal.
A ÉTICA DAS VIRTUDES O fim do século XX tornou o mundo globalizado, cada vez mais estreitado em suas relações através da tecnologia avançada das comunicações em massa. Várias sociedades interligam-se não só economicamente, mas culturalmente, fazendo com que costumes morai O DIA EM QUE SÃO PAULO PAROU A cidade de São Paulo é um dos maiores centros urbanos do mundo. Maior cidade brasileira, responsável por 12,26% do PIB do país, abrigando 63% de todas as multinacionais estabelecidas no Brasil. Por todas estas razões e tantas outras, São Paulo recebe VIRTUALIATRANSLATE THIS PAGE Encontra-se com Alice, aluga um barco, leva-a para um passeio no lago. Está silencioso, a falar apenas com os olhos. Durante o passeio no barco, George distancia-se das margens do lago. Alice fala dos seus sentimentos, enquanto os olhos de George estão envoltos em pensamentos cada vez mais voltados para a solução dos seusproblemas.
AMÁLIA RODRIGUES
Amália Rodrigues era o patrimônio vivo dessa verve, era o século XX português retratado em todas as décadas. Trazia uma boca excessivamente vermelha, como uma das cores da bandeira portuguesa, dona de uma voz que dilacerava os sentimentos por ela cantados, tudo nela era de um magnetismo que despertava a paixão incondicional doseu povo.
UM POEMA DE WILLIAM BUTLER YEATS William Butler Yeats nasceu em 13 de junho de 1865, em Dublin, Irlanda. Um dos maiores poetas do século XX , autor de teatro, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1923. Grande parte da sua vida se deu na época em que a Irlanda era dominada pela Grã-B JOHN DONNE: NENHUM HOMEM É UMA ILHA JOHN DONNE: NENHUM HOMEM É UMA ILHA. John Donne é um dos maiores poetas de língua inglesa. Incompreendido na sua época, esquecido por muitos séculos, é hoje reverenciado e lido em todo o mundo. Sua obra serviu de inspiração para muitos outros poetas além do seu tempo. Foi a partir de um belíssimo texto de John Donne, que o escritor A MÚSICA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR A MÚSICA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR. Quando o golpe militar foi deflagrado, em 1964, ironicamente o Brasil tinha na época, os movimentos de bases político-sociais mais organizados da sua história. Sindicatos, movimento estudantil, movimentos de trabalhadores do campo, movimentos de base dos militares de esquerdadentro das forças
CONTOS DA MONTANHA
Tomando como base os “ Contos da Montanha ”, ( 8ª edição - Coimbra - 1996 ), vamos encontrar diversas personagens que nos mostra o universo regionalista de Miguel Torga. Nos contos de Torga as ações decorrem num emaranhado de emoções, onde as personagens vivem tais ações num tempo ilimitado, quase descrito em uma vida.MITOS E FLORES
MITOS E FLORES. Desde os mais primórdios dos tempos que a beleza singular, colorida e aromática das flores ilaqueou e encantou os homens. Ainda hoje são usadas para seduzir, como gentileza ou em rituais funerários e de adeus. Apreciadas pelas culturas antigas, as flores foram usadas para fazer parte de rituais de casamento,iniciação
MARIDO E OUTROS CONTOS MARIDO E OUTROS CONTOS - LÍDIA JORGE. Cronologicamente, a obra de Lídia Jorge faz parte da literatura portuguesa mais recente. Começa exatamente nos últimos vinte anos do século XX. O seu primeiro livro “ O Dia dos Prodígios ”, foi publicado em 1980. Também a sua obra mais conhecida, “ A Costa dos Murmúrios ”, data de 1988.MANOEL CARLOS
MANOEL CARLOS - O PAI DAS HELENAS. Há pouco mais de trinta anos estreava como autor de telenovelas, um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira, Manoel Carlos. Ator, adaptador de diversos teleteatros, diretor e escritor de programas humorísticos, variedades e musicais, Manoel Carlos tornou-se novelista aos 45 anos de idade. A ÉTICA DAS VIRTUDES O fim do século XX tornou o mundo globalizado, cada vez mais estreitado em suas relações através da tecnologia avançada das comunicações em massa. Várias sociedades interligam-se não só economicamente, mas culturalmente, fazendo com que costumes morai VIRTUALIATRANSLATE THIS PAGE Encontra-se com Alice, aluga um barco, leva-a para um passeio no lago. Está silencioso, a falar apenas com os olhos. Durante o passeio no barco, George distancia-se das margens do lago. Alice fala dos seus sentimentos, enquanto os olhos de George estão envoltos em pensamentos cada vez mais voltados para a solução dos seusproblemas.
AMÁLIA RODRIGUES
Amália Rodrigues era o patrimônio vivo dessa verve, era o século XX português retratado em todas as décadas. Trazia uma boca excessivamente vermelha, como uma das cores da bandeira portuguesa, dona de uma voz que dilacerava os sentimentos por ela cantados, tudo nela era de um magnetismo que despertava a paixão incondicional doseu povo.
UM POEMA DE WILLIAM BUTLER YEATS William Butler Yeats nasceu em 13 de junho de 1865, em Dublin, Irlanda. Um dos maiores poetas do século XX , autor de teatro, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1923. Grande parte da sua vida se deu na época em que a Irlanda era dominada pela Grã-B JOHN DONNE: NENHUM HOMEM É UMA ILHA JOHN DONNE: NENHUM HOMEM É UMA ILHA. John Donne é um dos maiores poetas de língua inglesa. Incompreendido na sua época, esquecido por muitos séculos, é hoje reverenciado e lido em todo o mundo. Sua obra serviu de inspiração para muitos outros poetas além do seu tempo. Foi a partir de um belíssimo texto de John Donne, que o escritor A MÚSICA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR A MÚSICA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR. Quando o golpe militar foi deflagrado, em 1964, ironicamente o Brasil tinha na época, os movimentos de bases político-sociais mais organizados da sua história. Sindicatos, movimento estudantil, movimentos de trabalhadores do campo, movimentos de base dos militares de esquerdadentro das forças
CONTOS DA MONTANHA
Tomando como base os “ Contos da Montanha ”, ( 8ª edição - Coimbra - 1996 ), vamos encontrar diversas personagens que nos mostra o universo regionalista de Miguel Torga. Nos contos de Torga as ações decorrem num emaranhado de emoções, onde as personagens vivem tais ações num tempo ilimitado, quase descrito em uma vida.MITOS E FLORES
MITOS E FLORES. Desde os mais primórdios dos tempos que a beleza singular, colorida e aromática das flores ilaqueou e encantou os homens. Ainda hoje são usadas para seduzir, como gentileza ou em rituais funerários e de adeus. Apreciadas pelas culturas antigas, as flores foram usadas para fazer parte de rituais de casamento,iniciação
MARIDO E OUTROS CONTOS MARIDO E OUTROS CONTOS - LÍDIA JORGE. Cronologicamente, a obra de Lídia Jorge faz parte da literatura portuguesa mais recente. Começa exatamente nos últimos vinte anos do século XX. O seu primeiro livro “ O Dia dos Prodígios ”, foi publicado em 1980. Também a sua obra mais conhecida, “ A Costa dos Murmúrios ”, data de 1988.MANOEL CARLOS
MANOEL CARLOS - O PAI DAS HELENAS. Há pouco mais de trinta anos estreava como autor de telenovelas, um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira, Manoel Carlos. Ator, adaptador de diversos teleteatros, diretor e escritor de programas humorísticos, variedades e musicais, Manoel Carlos tornou-se novelista aos 45 anos de idade. A ÉTICA DAS VIRTUDES O fim do século XX tornou o mundo globalizado, cada vez mais estreitado em suas relações através da tecnologia avançada das comunicações em massa. Várias sociedades interligam-se não só economicamente, mas culturalmente, fazendo com que costumes morai VIRTUALIATRANSLATE THIS PAGE Vênus e Marte. O mito de Vênus está ligado ao seu casamento com Vulcano (Hefestos), deus dos vulcões e do fogo, que em um ato de vingança contra a mãe Juno (Hera), aprisionara-a a um trono de ouro. Vulcano exigiu como condição para soltar a mulher de Júpiter (Zeus), que lhe fosse oferecida Vênus em casamento. A CANÇÃO DE AMOR DE J. ALFRED PRUFROCK Um dos mais belos poemas produzidos na literatura inglesa do século XX, “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock”, com as suas imagens floridas em uma densa agonia destilada em versos livres, a traduzir um angustiante estado da alma, complexa, com palavras sopradas como uma canção simbolista, rumando ao vazio. T. S. Eliot escreveu o poema em 1912, numa época de marasmo que seMANOEL CARLOS
MANOEL CARLOS - O PAI DAS HELENAS. Há pouco mais de trinta anos estreava como autor de telenovelas, um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira, Manoel Carlos. Ator, adaptador de diversos teleteatros, diretor e escritor de programas humorísticos, variedades e musicais, Manoel Carlos tornou-se novelista aos 45 anos de idade. TEMPLÁRIOS EM PORTUGAL A presença dos Templários em solo português confunde-se com a própria história de Portugal. A ordem militar ajudou dom Afonso Henriques, primeiro rei da história lusitana, a expandir o seu reino, expulsando os mouros e consolidando as fronteiras do que se iriachamar de Portugal.
O DIA EM QUE SÃO PAULO PAROU A cidade de São Paulo é um dos maiores centros urbanos do mundo. Maior cidade brasileira, responsável por 12,26% do PIB do país, abrigando 63% de todas as multinacionais estabelecidas no Brasil. Por todas estas razões e tantas outras, São Paulo recebe O MUNDO E A CRISE DO PETRÓLEO DE 1973 A crise de 1973 pôs fim à fartura do petróleo, iniciando consciência de que o ouro negro era finito, e que o a sua extinção é uma questão de tempo. A Criação da OPEP. Quando descoberto no início do século XX, o petróleo passou a ser a fonte de energia mais utilizada pelas nações industrializadas. A sua produçãoestava
EUNUCOS E CASTRATI
A castração do órgão masculino gerou ao longo dos séculos os eunucos, homens que tiveram os seus testículos, pênis ou ambos, removidos, amputados. A emasculação é o ato de extirpar toda a genitália masculina (pênis e testículos). A orquiectomia consiste na remoção dos testículos. A penectomia ou falectomia é aremoção apenas
A NOITE, O CÉU, A LUA, AS ESTRELAS E OS …TRANSLATE THIS PAGE A NOITE, O CÉU, A LUA, AS ESTRELAS E OS POETAS. Quando o silêncio cobre a cidade adormecida, faço uma visita a todas as noites do mundo. Não me perco em trevas, porque tenho as estrelas a iluminar os becos em que me perco. Se na desordem do dia não tive a mesma inspiração, é porque a intensidade do Sol queimou o frio que só alua sabe
O FOGO E AS CINZAS & TEMPO DE SOLIDÃO Manuel da Fonseca, um dos maiores representantes do neo-realismo português, além de exímio contista, destaca-se também como romancista (“Cerromaior” -1943, “Seara do Vento” - 1958) e poeta (“Rosa dos Ventos” - 1940, “Planície” - 1942). É como contista que iremos analisá-lo a seguir. Ao contrário das personagens de Miguel Torga, que surgem do nada e tornam-se densas e OS NEGROS NAS TELENOVELAS OS NEGROS NAS TELENOVELAS. O Brasil é um país plural, com uma população formada por várias raças e etnias. País construído por colonizadores europeus, nativos indígenas e negros africanos em sua essência. Se o índio faz parte de uma minoria de brasileiros, negros e brancos quase que empatam em número populacional.VIRTUALIA
Encontra-se com Alice, aluga um barco, leva-a para um passeio no lago. Está silencioso, a falar apenas com os olhos. Durante o passeio no barco, George distancia-se das margens do lago. Alice fala dos seus sentimentos, enquanto os olhos de George estão envoltos em pensamentos cada vez mais voltados para a solução dos seusproblemas.
AMÁLIA RODRIGUES
Amália Rodrigues era o patrimônio vivo dessa verve, era o século XX português retratado em todas as décadas. Trazia uma boca excessivamente vermelha, como uma das cores da bandeira portuguesa, dona de uma voz que dilacerava os sentimentos por ela cantados, tudo nela era de um magnetismo que despertava a paixão incondicional doseu povo.
UM POEMA DE WILLIAM BUTLER YEATS William Butler Yeats nasceu em 13 de junho de 1865, em Dublin, Irlanda. Um dos maiores poetas do século XX , autor de teatro, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1923. Grande parte da sua vida se deu na época em que a Irlanda era dominada pela Grã-B JOHN DONNE: NENHUM HOMEM É UMA ILHA JOHN DONNE: NENHUM HOMEM É UMA ILHA. John Donne é um dos maiores poetas de língua inglesa. Incompreendido na sua época, esquecido por muitos séculos, é hoje reverenciado e lido em todo o mundo. Sua obra serviu de inspiração para muitos outros poetas além do seu tempo. Foi a partir de um belíssimo texto de John Donne, que o escritor A MÚSICA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR A MÚSICA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR. Quando o golpe militar foi deflagrado, em 1964, ironicamente o Brasil tinha na época, os movimentos de bases político-sociais mais organizados da sua história. Sindicatos, movimento estudantil, movimentos de trabalhadores do campo, movimentos de base dos militares de esquerdadentro das forças
VIRTUALIA
Encontra-se com Alice, aluga um barco, leva-a para um passeio no lago. Está silencioso, a falar apenas com os olhos. Durante o passeio no barco, George distancia-se das margens do lago. Alice fala dos seus sentimentos, enquanto os olhos de George estão envoltos em pensamentos cada vez mais voltados para a solução dos seusproblemas.
AMÁLIA RODRIGUES
Amália Rodrigues era o patrimônio vivo dessa verve, era o século XX português retratado em todas as décadas. Trazia uma boca excessivamente vermelha, como uma das cores da bandeira portuguesa, dona de uma voz que dilacerava os sentimentos por ela cantados, tudo nela era de um magnetismo que despertava a paixão incondicional doseu povo.
UM POEMA DE WILLIAM BUTLER YEATS William Butler Yeats nasceu em 13 de junho de 1865, em Dublin, Irlanda. Um dos maiores poetas do século XX , autor de teatro, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1923. Grande parte da sua vida se deu na época em que a Irlanda era dominada pela Grã-B JOHN DONNE: NENHUM HOMEM É UMA ILHA JOHN DONNE: NENHUM HOMEM É UMA ILHA. John Donne é um dos maiores poetas de língua inglesa. Incompreendido na sua época, esquecido por muitos séculos, é hoje reverenciado e lido em todo o mundo. Sua obra serviu de inspiração para muitos outros poetas além do seu tempo. Foi a partir de um belíssimo texto de John Donne, que o escritor A MÚSICA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR A MÚSICA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR. Quando o golpe militar foi deflagrado, em 1964, ironicamente o Brasil tinha na época, os movimentos de bases político-sociais mais organizados da sua história. Sindicatos, movimento estudantil, movimentos de trabalhadores do campo, movimentos de base dos militares de esquerdadentro das forças
CONTOS DA MONTANHA
Tomando como base os “ Contos da Montanha ”, ( 8ª edição - Coimbra - 1996 ), vamos encontrar diversas personagens que nos mostra o universo regionalista de Miguel Torga. Nos contos de Torga as ações decorrem num emaranhado de emoções, onde as personagens vivem tais ações num tempo ilimitado, quase descrito em uma vida.MITOS E FLORES
MITOS E FLORES. Desde os mais primórdios dos tempos que a beleza singular, colorida e aromática das flores ilaqueou e encantou os homens. Ainda hoje são usadas para seduzir, como gentileza ou em rituais funerários e de adeus. Apreciadas pelas culturas antigas, as flores foram usadas para fazer parte de rituais de casamento,iniciação
MARIDO E OUTROS CONTOS MARIDO E OUTROS CONTOS - LÍDIA JORGE. Cronologicamente, a obra de Lídia Jorge faz parte da literatura portuguesa mais recente. Começa exatamente nos últimos vinte anos do século XX. O seu primeiro livro “ O Dia dos Prodígios ”, foi publicado em 1980. Também a sua obra mais conhecida, “ A Costa dos Murmúrios ”, data de 1988.MANOEL CARLOS
MANOEL CARLOS - O PAI DAS HELENAS. Há pouco mais de trinta anos estreava como autor de telenovelas, um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira, Manoel Carlos. Ator, adaptador de diversos teleteatros, diretor e escritor de programas humorísticos, variedades e musicais, Manoel Carlos tornou-se novelista aos 45 anos de idade. A ÉTICA DAS VIRTUDES O fim do século XX tornou o mundo globalizado, cada vez mais estreitado em suas relações através da tecnologia avançada das comunicações em massa. Várias sociedades interligam-se não só economicamente, mas culturalmente, fazendo com que costumes moraiVIRTUALIA
Vênus e Marte. O mito de Vênus está ligado ao seu casamento com Vulcano (Hefestos), deus dos vulcões e do fogo, que em um ato de vingança contra a mãe Juno (Hera), aprisionara-a a um trono de ouro. Vulcano exigiu como condição para soltar a mulher de Júpiter (Zeus), que lhe fosse oferecida Vênus em casamento. A CANÇÃO DE AMOR DE J. ALFRED PRUFROCK Um dos mais belos poemas produzidos na literatura inglesa do século XX, “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock”, com as suas imagens floridas em uma densa agonia destilada em versos livres, a traduzir um angustiante estado da alma, complexa, com palavras sopradas como uma canção simbolista, rumando ao vazio. T. S. Eliot escreveu o poema em 1912, numa época de marasmo que seMANOEL CARLOS
MANOEL CARLOS - O PAI DAS HELENAS. Há pouco mais de trinta anos estreava como autor de telenovelas, um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira, Manoel Carlos. Ator, adaptador de diversos teleteatros, diretor e escritor de programas humorísticos, variedades e musicais, Manoel Carlos tornou-se novelista aos 45 anos de idade. TEMPLÁRIOS EM PORTUGAL A presença dos Templários em solo português confunde-se com a própria história de Portugal. A ordem militar ajudou dom Afonso Henriques, primeiro rei da história lusitana, a expandir o seu reino, expulsando os mouros e consolidando as fronteiras do que se iriachamar de Portugal.
O DIA EM QUE SÃO PAULO PAROU A cidade de São Paulo é um dos maiores centros urbanos do mundo. Maior cidade brasileira, responsável por 12,26% do PIB do país, abrigando 63% de todas as multinacionais estabelecidas no Brasil. Por todas estas razões e tantas outras, São Paulo recebe O MUNDO E A CRISE DO PETRÓLEO DE 1973 A crise de 1973 pôs fim à fartura do petróleo, iniciando consciência de que o ouro negro era finito, e que o a sua extinção é uma questão de tempo. A Criação da OPEP. Quando descoberto no início do século XX, o petróleo passou a ser a fonte de energia mais utilizada pelas nações industrializadas. A sua produçãoestava
EUNUCOS E CASTRATI
A castração do órgão masculino gerou ao longo dos séculos os eunucos, homens que tiveram os seus testículos, pênis ou ambos, removidos, amputados. A emasculação é o ato de extirpar toda a genitália masculina (pênis e testículos). A orquiectomia consiste na remoção dos testículos. A penectomia ou falectomia é aremoção apenas
A NOITE, O CÉU, A LUA, AS ESTRELAS E OS POETAS A NOITE, O CÉU, A LUA, AS ESTRELAS E OS POETAS. Quando o silêncio cobre a cidade adormecida, faço uma visita a todas as noites do mundo. Não me perco em trevas, porque tenho as estrelas a iluminar os becos em que me perco. Se na desordem do dia não tive a mesma inspiração, é porque a intensidade do Sol queimou o frio que só alua sabe
O FOGO E AS CINZAS & TEMPO DE SOLIDÃO Manuel da Fonseca, um dos maiores representantes do neo-realismo português, além de exímio contista, destaca-se também como romancista (“Cerromaior” -1943, “Seara do Vento” - 1958) e poeta (“Rosa dos Ventos” - 1940, “Planície” - 1942). É como contista que iremos analisá-lo a seguir. Ao contrário das personagens de Miguel Torga, que surgem do nada e tornam-se densas e OS NEGROS NAS TELENOVELAS OS NEGROS NAS TELENOVELAS. O Brasil é um país plural, com uma população formada por várias raças e etnias. País construído por colonizadores europeus, nativos indígenas e negros africanos em sua essência. Se o índio faz parte de uma minoria de brasileiros, negros e brancos quase que empatam em número populacional. Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2015 DOMINGO - GÊNESIS DE GAL COSTA E CAETANO VELOSOCaetano
Veloso e Gal Costa escreveram os seus nomes na história da MPB de forma imarcescível, unindo com magnificência indissolúvel, voz e melodia, poesia e lirismo, masculino e feminino, autor e musa, música e MPB. Gal Costa é a intérprete maior de Caetano Veloso, a sua voz é a estética musical perfeita da obra do baiano, ambos são gêmeos siameses, que mesmo quando separados, deixam um no outro algum órgão visceralmente intrínseco. Para percebermos este elo que une o dois, temos que nos remeter ao começo de tudo. “_Domingo_”, álbum de 1967, é este começo. É o primeiro disco das carreiras de Gal Costa e Caetano Veloso, lançando-os oficialmente na Música Popular Brasileira. “_Domingo_” concretizou a união dos baianos, entrelaçaram as suas carreiras, que mesmo quando distanciadas, seguiriam juntas estética e historicamente.Sendo o primeiro álbum de carreira de dois jovens e promissores artistas, “_Domingo_” já demonstra uma identidade vincada dos cantores, fato que não aconteceu nas estréias de grandes estrelas da MPB, como por exemplos “_Viva a Brotolândia_”, de Elis Regina, e “_Louco Por Você_”, de Roberto Carlos, ambos de 1961, álbuns que nada revelaram das digitais que seriam as suas carreiras. Gal Costa, com a sua voz rara, já se afirmava como quem queria fazer uma carreira sólida, e mesmo dividindo o disco com Caetano Veloso, já se impõe e escolhe os compositores que quer interpretar além do companheiro baiano. Com uma sonoridade poética e saudosista, o álbum identifica-se com a Bossa Nova, somando características próprias. Lançado em julho de 1967, ele surge às vésperas da explosão da Tropicália, já nascendo ultrapassado na mente fértil e criativa de Caetano Veloso, onde já fervilhava idéias e projetos que mudariam a história da MPB, tanto na forma de compor, como na de cantar. Em novembro daquele mesmo ano, Caetano Veloso apresentava-se com a singular “_Alegria, Alegria_”, distanciando-se milhas do seu álbum de estréia. João Araújo contratou Gal Costa e Caetano Veloso, na impossibilidade de produzir dois álbuns, juntou-os em um só. “_Domingo_” foi produzido por Dori Caymmi, que ao lado de Francis Hime e Roberto Menescal, fez os arranjos do disco. Lançado pela Philips, traz doze faixas, das quais Caetano Veloso canta a solo em quatro, Gal Costa em cinco, e juntos, dividem três belas canções. Com “_Domingo_” estão iniciadas oficialmente, as carreiras de Gal Costa e Caetano Veloso. A partir de então, com exceções dos álbuns temáticos de autores, o artista baiano participou de todos os discos de Gal Costa, como compositor ou como convidado. O álbum mostra nitidamente uma identidade consistente dos seus intérpretes. Tanto que não envelheceu. Continua sendo algo à parte e especial na discografia de Gal e Caetano Velloso (no álbum com dois Ls). Não somente por ser o primeiro, mas por ser ímpar na carreira de ambos. Nunca mais repetiram o que e como aqui cantaram, tendo um encontro paralelo em “_Cantar_” (1974). Quem ouviu “_Domingo_”, viu na capa os cantores comportados, em fotografias a preto e branco, ambos cabelos cortados, suaves, jamais pensou que guardavam o vulcão que explodiriam meses depois, abalando o Brasil com a Tropicália. PRIMEIROS PASSOS PARA A FAMAQuando
deixou a Bahia, vindo para o sudeste, Gal Costa era apresentada como Maria da Graça, escrevendo este nome nos cartazes dos shows que participava ou nos festivais que representava. Para os amigos era Gracinha, para os mais íntimos era Gau. Em 1967, Maria da Graça, por sugestão de Guilherme Araújo, que se tornaria empresário do grupo baiano, trocaria o nome. Para o empresário, Maria da Graça escondia a modernidade que a baiana ameaçava explodir a qualquer momento, dando um aspecto de nome de cantora de fado. Guilherme Araújo foi buscar na intimidade da cantora, o nome definitivo, trocou o U do final por L, acrescentou o sobrenome Costa, e já estava, Gal Costa. O nome Gal comprou uma briga com Caetano Veloso, que queria Gau, como ela era chamada, achando-o mais baiano. Para ele, Gal era abreviatura de general, e Costa simbolizava o recém empossado ditador general Costa e Silva na presidência. Mas o nome Gal trazia a inspiração na cantora francesa France Gall, e a sua sonoridade cessava qualquer argumento. Na polêmica ideológica com Caetano Veloso, ganhou Guilherme Araújo, e o nome foi lançado com L e não U, trazendo sobrenome. Nascia Gal Costa, a cantora. Ficava para a história a singela Maria da Graça. Como Maria da Graça, a cantora gravara um compacto simples, em 1965, com as faixas “_Eu Vim da Bahia_” (Gilberto Gil) e “_Sim, Foi Você_” (Caetano Veloso), vendendo na ocasião, 80 cópias, todas compradas por seu antigo patrão, dono de uma loja de discos em Salvador. É também daquele ano, a sua participação no álbum deestréia de Maria
Bethânia,
com quem dividiu a faixa “_Sol Negro_” (Caetano Veloso). A voz de Maria da Graça já havia conquistado grandes nomes, como João Gilberto e Edu Lobo, sendo contado nos bastidores, que em 1966, o segundo pensou em convidá-la para dividir um álbum, mas foi Maria Bethânia quem realizou o projeto ao lado do cantor. Se a voz de Gal Costa era um convite a que se abrissem as cortinas dos mais sofisticados palcos da arte, Caetano Veloso era visto com restrições como cantor, especialmente por Guilherme Araújo, que o considerava um grande compositor de música, teatro e cinema. Como cantor, o baiano venceria muitos preconceitos, inclusive os seus próprios. No ano anterior ao lançamento de “_Domingo_”, participara do Segundo Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, em São Paulo, com a música “_Um Dia_”. Na mesma emissora, brilhou, em 1967, no programa “_Esta Noite se Improvisa_”, no qual os artistas participantes exibiam os seus conhecimentos de música popular. Ainda naquele ano, compôs a trilha sonora do filme “_Proezas de Satanás na Terra do Leva e Traz_”, de Paulo Gil Soares. Foi neste clima pré-fama que Dori Caymmi convenceu João Araújo, na época diretor artístico da Philips, a fazer um _long play_ reunindo Gal Costa e Caetano Veloso. Assim, contratados da gravadora, os cantores entraram em estúdio para o registro do primeiro álbum. A eles foram dadas as manhãs para as gravações, horário reservado aos iniciantes, o que deixou Caetano Veloso indisposto, visto que os hábitos boêmios, comuns entre os artistas, atrapalhavam a concentração matinal, normalmente guardada para o repouso do sono. Sob os raios de um sol matinal, desenhou-se a sonoridade poética de“_Domingo_”.
SAUDOSISMO MELANCÓLICO NA EVOLUÇÃO DA POESIA DE CAETANO VELOSOSob
os arranjos e o violão de Dori Caymmi, a voz de Gal Costa abria o disco com “_CORAÇÃO VAGABUNDO_” (Caetano Veloso), cedendo a segunda parte para a voz de Caetano Veloso. Era o começo feliz de uma das mais brilhantes duplas da MPB; autor e cantora, poeta e musa, mesclando a mais tenra das sensibilidades. A canção é suave e melancólica, o amor é a revelação dos vultos da alma e dos sentimentos. “_Coração Vagabundo_” foi o primeiro sucesso das carreiras dos dois cantores, não explodindo nas paradas, mas alcançando o tom exato de passaporte para a fama que se vislumbrava. Foi o maior sucesso do álbum. “Meu coração não se cansa de ter esperança De um dia ser tudo o que quer Meu coração de criança Não é só a lembrança De um vulto feliz de mulher” O disco segue suave, como um delírio poético, despido de qualquer vício. “_ONDE EU NASCI PASSA UM RIO_” (Caetano Veloso), solo de Caetano Veloso, lembra o poema de Fernando Pessoa, “_O Rio da Minha Aldeia_”, trazendo um autor mais poeta do que compositor. É a descoberta de que o rio não tem dono, deságua longe do lugar que se lhe viu passar, como longe da terra natal deságuam os sonhos de quem precisa explodir o talento. Gal Costa estréia a solo, absoluta, na faixa“_AVARANDADO_”
(Caetano Veloso). Os arranjos que introduzem a canção dão uma delineação épica, como se cortinas fossem abertas, trazendo uma paisagem de estrada cinematográfica, com plantas sublinhando os detalhes e a voz de Gal Costa desenhando a poesia. A cantora inicia-se totalmente Bossa Nova, voz suave, doce, diferente do que se tinha na MPB de então. Apesar de intimista, não era uma voz comportada como a de Nara Leão, a musa da Bossa Nova, era uma voz que prometia surpresas a cada nota interpretada. “_UM DIA_” (Caetano Veloso), salta dos palcos dos festivais para o disco, constituindo, segundo Caetano Veloso, a canção que ele mais gostou de ouvir a si mesmo interpretar em todo o álbum. A canção descreve uma paisagem bucólica do interior, de onde parte o autor, despedindo-se, seguindo o destino, com a sensação de que preparara uma volta que não se concretizaria. Era o próprio autor a distanciar-se das águas do mar da Bahia. Sem dúvida o melhor solo de Caetano Veloso no álbum. “_DOMINGO_” (Caetano Veloso), que dá título ao álbum, mais uma vez traduz uma paisagem do interior, prestes a ser deixada na distância do tempo. Como uma ciranda de despedida, a canção destila-se entre a suavidade poética e o dueto de Gal Costa e Caetano Veloso, seguindo a temática das canções até então espargidas portodo o disco.
PASSEIO DE GAL COSTA PELA MÚSICA DE OUTROS COMPOSITORESÉ
a partir de “_NENHUMA DOR_” (Torquato Neto - Caetano Veloso) que a melancolia da partida dá passagem para o existencialismo sentimental, fechando por alguns momentos, o saudosismo latente do álbum. O solo de Gal Costa traduz com exatidão a angústia inatingível da poesia de Torquato Neto. O intimismo da cantora e a sua voz de sereia solitária, reluzem esta poesia devoradora, quase cruel. “_Nenhuma Dor_” é a primeira parte da trilogia existencialista que Gal Costa gravaria do “Anjo Torto” (como Torquato Neto era chamado), sintetizando em três canções toda uma obra, sendo as outras duas, as clássicas “_Mamãe Coragem_” (Torquato Neto - Caetano Veloso) e “_Três da Madrugada_” (Torquato Neto – Carlos Pinto). "_Nenhuma Dor_" é uma canção de amor intimista, como é Gal Costa no seu início de carreira, que lhe vale o título de João Gilbertode saias.
Gal Costa prossegue a solo, distanciando-se do universo incipiente de Caetano Veloso para interpretar “_CANDEIAS_” (Edu Lobo), atingido o ápice do álbum, em uma das mais belas interpretações da carreira. De um requinte harmônico lato, a canção encaixava-se com a proposta do disco, feita para Gal Costa gravar, ela trazia as lembranças do autor das suas férias no nordeste. É como se Edu Lobo arrematasse o saudosismo de Caetano Veloso, afinal era fácil situar a canção na Bahia, quem conhece o Recôncavo Baiano provavelmente já passou pela cidadezinha de Candeias. Na voz de Gal Costa a pequena cidade assume proporções poéticas da terra do interior de todos nós. Ao contrário das outras músicas de Caetano Veloso, que cantam a partida, "_Candeias_" faz o reverso, é a volta da cidade grande para a pequena cidade entre as samambaias das lembranças. “_Candeias_” dá a dimensão do apogeu que a voz de Gal Costa revela, mostra a doçura da lírica dos primeiros cantos da sereia, que seduziria milhões de fãs marinheiros. “Ainda hoje vou me embora pra Candeias Ainda hoje meu amor eu vou voltar Da terra nova nem saudades vou levando Pelo contrário, pouca história pra contar” “_REMELEXO_” (Caetano Veloso), umagradável
samba-canção, traz o solo de um Caetano Veloso intimista, mas com um à vontade que, ao longo do álbum, finalmente desabrochou. Na canção parece que ele está pronto para deixar esta fase da carreira e abraçar o fantasma da futura Tropicália, já borbulhante na suamente.
"_MINHA SENHORA_" (Gilberto Gil -Torquato Neto), dá o toque de Gal Costa, que mesmo vinculada a Caetano Veloso, de quem traduz a sua essência musical, ela respira por instantes, outros universos de jovens compositores. “_Minha Senhora_” era uma canção com a qual Gal Costa apresentara-se no I Festival Internacional da Canção em 1966, sem grande repercussão na sua carreira. A letra da música acentua as raízes nordestinas da cantora, jamais perdidas no universo das canções que viria a interpretar. Caetano Veloso faz o seu último solo em “_QUEM ME DERA_” (Caetano Veloso), mais um samba-canção que começa intimista e expande-se na desenvoltura que o cantor, aos poucos, vai adquirindo. Como todas as outras, segue a temática saudosista, com versos tristes que avistam a despedida da Bahia para os palcos do Brasil e do mundo. Com esta despedida, ele está pronto para encerrar o registro de um trabalho que já fizera, abraçando o que queria fazer. Gal Costa faz o seu último solo com a alegre "_MARIA JOANA_" (Sidney Miller). Durante três faixas consecutivas, mostrou, além de Caetano Veloso, o universo de futuros grandes compositores do Brasil. Nesta canção, a cantora é totalmente discípula de João Gilberto, sem medo de misturar universos, cantando naturalmente samba ou Bossa nova. CRAVADO NA JUGULAR DA BOSSA NOVAO
disco é encerrado com “_ZABELÊ_” (Gilberto Gil – Torquato Neto), o dueto final da dupla, que percorre universos não caetaneanos. Não menos belo do que o encontro em “_Coração Vagabundo_”, a canção distancia-se da proposta de Caetano Veloso, aproximando-se nitidamente da de Gal Costa. “_Domingo_” mostra o princípio de duas carreiras, traz a germinação do porquê que iria tornar Gal Costa a maior intérprete de Caetano Veloso. Voz e autor conseguem alcançar a identidade procurada. O álbum tem aspectos intimistas da Bossa Nova, mas não o é. As poesias de Caetano Veloso são mais acadêmicas e não se assemelham às de Vinícius de Moraes e às de Tom Jobim. A Bossa Nova, na sua essência bruta, tem uma característica de elemento carioca, de um Rio de Janeiro do fim dos anos dourados.”_Domingo_” é mais litoral nordestino, São Paulo retirante, quase Recôncavo Baiano, os compositores são baianos ou do nordeste (Caetano Veloso e Gilberto Gil são da Bahia, Torquato Neto de Teresina, Piauí), até o carioca Edu Lobo, no disco exalta Candeias. Sidney Miller com a sua "_Maria Joana_" lembra-nos um Rio de Janeiro misto de Noel Rosa e Vinícius de Moraes, meio Bossa Nova, meio samba. É esta peculiaridade de “_Domingo_”, parecer Bossa Nova, mas não ser. Gal Costa parecer intimista e comportada na voz, lembrando Nara Leão, mas não ser. Há um agudo reprimido, há uma cantora preste a emitir acordes dissonantes. Caetano Veloso lembra a poesia de Fernando Pessoa. Mas na cabeça já tem “_Alegria, Alegria_", e breve, a forma de poesia tornar-se-á menos acadêmica, terá mais jogos de palavras, mais desconstrução na métrica, o registro das marcas e produtos de então, "_eu tomo uma Coca-Cola_" ou, "_o Sol nas bancas de revista_" (o “_Sol_” foi um jornal que teve uma vida curta dentro da época da ditadura, considerado o pai do _Pasquim_). A desconstrução de “_Domingo_” será a construção da Tropicália. O álbum parece, mas não é Bossa Nova, é, como definiu Caetano Veloso: “_sub-Bossa Nova. A única coisa que não é sub ali é a voz da Gal. É bonito, tem alguma graça, mas desde aquela época eu achava isso mesmo._” TEXTO DA CONTRACAPA DO DISCO, POR CAETANO VELOSOGAL
participa dessa qualidade misteriosa que habita os raros grandes cantores de samba: a capacidade de inovar, de violentar o gosto contemporâneo, lançando o samba para o futuro, com a espontaneidade de quem relembra velhas musiquinhas. Por isso eu considero necessária a sua presença neste disco em que se registra uma fase do meu trabalho em música popular, algumas das canções que eu fiz até agora. Por isso, e também porque desde a Bahia que nós cantamos juntos, desde lá que ela faz com que meus sambas existam de verdade. Não há defasagem de tempo entre a composição e o canto: cada interpretação sua tem a mesma idade da canção. Todas as minhas músicas que aparecem aqui foram feitas junto dela e um pouco por ela também. Ouso considerá-la como parte integrante do meu processo de criação: este é um disco de "GAL interpretando Caetano" mesmo nas faixas em que ela canta músicas de outros autores ou quando sou eu mesmo quem canta as minhas. GAL cantando o que quer que ela goste, isso já é minha música, e quando eu canto ela está presente. O seu canto (como o de Gil ou o de Bethânia) tem sido sempre meu parceiro.II
Eu gosto muito de cantar. Mas jamais consegui gostar muito de cantar as minhas composições. Um velho baião, uma canção antiga, o último samba de um amigo, isso é bom de cantar: uma música que eu mesmo tenha inventado me aparece informe pela proximidade e eu desconfio de tudo que escrevi. Neste disco estou enfrentando uma experiência nova: ouço essas coisas que fiz transformadas em música por Dori, Menescal e Francis e procuro amá-las despreocupadamente, tento aceitá-las como prontas (não há mais como compô-las): cantar as músicas que eles me devolveram, não aquilo que eu lhes dei.III
Acho que cheguei a gostar de cantar essas músicas porque minha inspiração agora está tendendo pra caminhos muito diferentes dos que segui até aqui. Algumas canções deste disco são recentes (UM DIA, por exemplo), mas eu já posso vê-las todas de uma distância que permite simplesmente gostar ou não gostar, como de qualquer canção. A minha inspiração não quer mais viver apenas da nostalgia de tempos e lugares, ao contrário, quer incorporar essa saudade num projeto de futuro. Aqui está – acredito que gravei este disco na hora certa: minha inquietude de agora me põe mais à vontade diante do que já fiz e não tenho vergonha de nenhuma palavra, de nenhuma nota. Quero apenas poder dizer tranqüilamente que o risco de beleza que este disco possa correr se deve a Gal, Dori, Francis, Edu Lobo, Menescal, Sidney Miller, Gil, Torquato, Célio, e também, mais longe, a Duda, a seu Zezinho Veloso, a Hercília, a Chico Mota, às meninas de Dona Morena, a Dó, a Nossa Senhora da Purificação e aLambreta.
Caetano Veloso
FICHA TÉCNICA:
DOMINGO
Philips
1967
Produção: Dori Caymmi Arranjos: Roberto Menescal, Francis Hime e Dori CaymmiFAIXAS:
1 Coração vagabundo (Caetano Veloso) Interpretação: Gal Costa e Caetano Veloso, 2 Onde eu nasci passa um rio (Caetano Veloso) Interpretação: Caetano Veloso, 3 Avarandado (Caetano Veloso) Interpretação: Gal Costa, 4 Um dia (Caetano Veloso) Interpretação: Caetano Veloso, 5 Domingo (Caetano Veloso) Interpretação: Gal Costa e Caetano Veloso, 6 Nenhuma dor (Torquato Neto – Caetano Veloso) Interpretação: Gal Costa, 7 Candeias (Edu Lobo) Interpretação: Gal Costa, 8 Remelexo (Caetano Veloso) Interpretação: Caetano Veloso, 9 Minha Senhora (Gilberto Gil – Torquato Neto) Interpretação: Gal Costa, 10 Quem me dera (Caetano Veloso) Interpretação: Caetano Veloso, 11 Maria Joana (Sidney Miller) Interpretação: Gal Costa, 12 Zabelê (Gilberto Gil – Torquato Neto) Interpretação: Gal Costa eCaetano Veloso
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Segunda-feira, 31 de Maio de 2010 RICARDO MACHADO VOLUME 2 - DESENHOS DE VOZ_ _
Após
a produção do álbum, “_Corra e Olhe o Céu_”, trabalho coeso, de imponente beleza lírica, apesar de um certo academicismo, Ricardo Machado lançou o segundo álbum, tendo como título apenas o seu nome, fugindo do intimismo do primeiro, trazendo uma obra mais ousada e aguda, mostrando-se solto e com coragem de cantar no tom que se lhe acentua a verdadeira acepção do timbre metálico, sem recorrer a histrionismos, ou perder a suavidade lírica com a qual torna as melodias em agradáveis cantos que se nos seduzem os sentidos. Mais seguro em cantar, Ricardo Machado, neste volume 2 de uma obra incipiente, propõe-se a mostrar sem máscaras a arte de interpretar. Não sendo fácil sobreviver apenas como intérprete em um mercado fechado, preconceituoso e aberto ao medíocre, o cantor compensa as limitações como compositor, escolhendo um repertório eclético e centrado no bom gosto, percorrendo canções clássicas, mas pouco exploradas, corajosamente tomando-as como suas, criando momentos únicos, impregnando-lhes uma identidade própria. Ricardo Machado, volume 2, não traz um repertório tão vincado nas profundezas dos sentimentos como no primeiro álbum, mas não foge da obsessão sublime do cantor em cantar o amor, munindo-se do que há de melhor dentro da Música Popular Brasileira, sem jamais se mostrar meloso ou recorrer ao drama, ou ao canto fácil. Traz, principalmente, a afirmação de uma voz, que se mostra mais potente e com vontade de arriscar tons, navegar na que se lhe torna imprescindível, os agudos, dom que as vozes masculinas muitas vezes não se sentem à vontade emexplorar.
Mais leve que o primeiro, este álbum consolida-se pela beleza estética de uma voz esculpida em um ínfimo procurar pela perfeição técnica, quebrando-se em metal suave quando traduzida na maislímpida emoção.
Concluído o que se iniciou com o artigo “_Corra e Olha o Céu – Ricardo Machado_”, aqui a apresentação de um jovem e promissor cantor, numa época em que se tem carência de boas produções musicais e de novos talentos que se propõem a soprar um canto de beleza dentro de um cenário enevoado e demarcado por nuvens de produções instantâneas. Aqui, análise contundente do álbum “_Ricardo Machado – Volume 2_”. Agudos Fulminantes em Proposta RomânticaCom
uma capa que fragmenta várias fotografias do cantor trazendo o microfone como apresentação da sua proposta, acentuando o contraste entre o azul do fundo do cenário, a camisa preta e a pele branca, o álbum, em uma primeira visitação ao invólucro, mostra-se discreto. Produzido e idealizado pelo próprio cantor, traz os arranjos coesos de Ricardo Calafate, o mesmo que se lhe apresentou no primeirotrabalho.
“_SEDUZIR_” (Djavan), cantado em capela, surge em forma de vinheta, mostrando a delicadeza da voz de Ricardo Machado. Em um convite suave, ouve-se: _“Cantar é mover o dom do fundo de uma paixão (...) (...) Revelar todo o sentido”_ E será do fundo das paixões, do âmago do dom do canto, que se erguerá todo o álbum. Após o singelo, mas contundente convite da vinheta, entramos na atmosfera do disco propriamente dito. “_QUEM TEM A VIOLA_” (Zé Renato – Chico Chaves – Cláudio Nucci – Juca Filho), abre-se surpreendente. Ricardo Machado chega seguro, límpido, longe do intimismo lírico que a canção proporciona, arriscando um tom mais alto e o metal da voz, dando ritmo aos violões, eclipsando agudos e cordas de aço e nylon, num contraste atraente, quebrando a limitação de toada épica do original, fazendo-a mais pop e moderna. Já no início, percebe-se que a ousadia vence o medo de querer acertar, e a vontade de mostrar o que se manteve escondido até então, a força de uma voz liricamente vibrante. Quando pronuncia as palavras “_metal_” e “_cristal_”, os agudos fulminam os violões, sendo suavizados nos vocais do próprio cantor, que nos mostram as possibilidades de umavoz privilegiada.
_“Quem tem a violaPra se acompanhar
Não vive sozinho
Nem pode penar
Tem som de rio
Numa corda de metal
Tem o mar num acorde final”_ “_SEM DIZER ADEUS_” (Paulinho Moska), uma canção que toca na mais profunda emoção dos sentimentos, numa veia dramática latente, que, de tão rascante na mensagem contundente, chega a beirar às raias do brega se interpretada de forma errada. Ricardo Machado não tem medo de ir ao romantismo mais vincado das canções, mergulhando de cabeça, emergindo sóbrio, lírico, apaixonante. A voz está límpida, não abusa dos agudos, não percorre as feridas da letra, vai ao fundo da emoção, ampliando a latente lírica da voz, traduzida em pura beleza que de suave, corta como uma lâmina._“Eu
Chorei até ficar debaixo d’águaSubmerso por você
Gritei até perder o ar Que eu já nem tinha pra sobreviver (Eu andei...)”_ UM CLÁSSICO IMPRESCINDÍVEL DO JAZZVamos
desaguar, surpreendentemente na mítica “_MY FUNNY VALENTINE_” (Richard Rodgers – Lorenz Hart). Feita para um musical da Brodway, “_Babes in Arms_”, em 1937, a canção tornou-se um clássico do jazz, passando pelos repertórios de Chet Baker, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e Jimmy Giuffre. Ao contrário do que se pensa, é uma mulher quem canta para o seu amado, Valentine (palavra muitas vezes erroneamente traduzida como namorada ), onde acentua os defeitos do amado, mostrando-o não belo ou inteligente, mas que no final, pede para que não mude um fio de cabelo se a amar. São Valentino, Valentine, em inglês, é o santo dos casais apaixonados, sendo o dia dos namorados comemorado no seu dia em muitos países. Daí o arremate final da canção, “Each _day is Valentines’s Day_” (todo dia é dia dos namorados). Sabendo-se da origem da canção, fica mais fácil situá-la dentro do contexto do álbum. O que parece ser algo “_cool_” e isolado, interliga-se na proposta que Ricardo Machado quer dar, cantar o amor. Começa intimista, opta por uma canção em inglês que, aparentemente doce, é uma sátira ao amado, e ao mesmo tempo, uma declaração de amor sincera, sem máscaras. É este tipo de amor que canta Ricardo Machado, que se expõe em rasgos abertos e despidos, mas que se retrai ao dramático, fincando-se no lírico, na suavidade da poesia. Interpretação aparentemente “_cool_”, ele vai, aos poucos, intencional ou intuitivamente, atingindo o universo dos autores, Richard Rodgers e Lorenz Hart, traduzindo aquela atmosfera do jazz branco dos judeus de Nova York. Se o intimismo inicial sugere a interpretação politicamente correta, Ricardo Machado agarra a atmosfera, solta-se na emoção do verso final “_Stay little Valentine, Stay_” (Fique,pequeno
namorado, ou pequeno Valentine, conforme o jogo de palavras). Neste momento a voz vem quente, embriagante, mostrando porque “_My Funny Valentine_”, uma canção feminina, tornou-se através do tempo, essencial nas vozes masculinas. Ricardo Machado consegue manter o segredo da usurpação pelos homens do clássico. Numa primeira leitura do disco, perguntamos o que esta música está ali a fazer, no meio do repertório. Numa segunda audição, vamos perceber o elo, a essência do cantor, que mesmo quando se quer revelar docemente marginal, é vencido pela estética lírica inconfundível do seucanto.
_“But don’t change your hair for me Not if you care for me Stay little Valentine, stay! Each day is Valentine’s Day”_ PRELÚDIO E PRIMEIRO CLÍMAX“_PRIMAVERA_”
(Cassiano – Silvio Rochael), acentua a clareza da pronúncia das palavras na voz do cantor, que elimina qualquer sotaque regionalista, ampliando a beleza estética da poesia, milimetricamente articulada. Mais uma vez os vocais do cantor embelezam a canção, proporcionando-lhe um toque melódico envolto na extensão da sua voz. O passionalismo à flor da pele emerge quando o cantor pronuncia “_meu amor_”, numa verdade que se amplia incontestável, chegando aos nossos ouvidos diluída mais uma vez, pelo lirismo que provoca, fazendo do drama uma paisagem primaveril suave, do amor com o gosto quente do sangue e da carícia poética de uma brisa macia. Não é o melhor momento do disco, que ainda estar por vir, mas é o prelúdio, é a voz que já não se contenta em ser comportada, que quer subverter o potencial que se lhe negam os sofismas dos professores de música. É o canto já amadurecido, pronto para hipnotizar quem que se lhe ouse a ouvir. _“Eu, é primavera, te amo É primavera, te amo meu amor Trago esta rosa para te dar Trago esta rosa para te darMeu amor”_
E para quem percorreu todas as faixas à procura de um momento que se atinja o ápice, “_AUTONOMIA_” (Cartola) proporciona a concretização deste instante. Ricardo Machado já havia navegado com segurança no universo deCartola,
gerando bons momentos no álbum anterior com “_Corra e Olhe o Céu_” (Cartola – Dalmo Casteli) e “_Acontece_” (Cartola). Mas é nesta faixa que se revela um profundo tradutor da emoção do velho mestre, e, brinda-nos com uma das mais sublimes, senão a melhor, interpretação de “Autonomia”. O amor como prisão consentida, o sentimento que de opção, torna-se o ar, a perda da liberdade ante outra vida. Cartola sabe como ninguém tocar na sensibilidade das relações, das paixões sinceras. Ao contrário do que aconteceu no disco anterior, aqui Ricardo Machado não se atém ao acadêmico, entrega-se de corpo e alma à canção. Faz da poesia a palavra cantada, dilacerada pela emoção. A sua voz alcança a beleza estética que tanto foi sugerida, em um momento de pura emoção lírica, atingindo um apogeu no fim das estrofes, revelando finalmente o timbre ideal, perseguido e traduzido na essência. Nesta interpretação, o cantor é revelado em seu esplendor vocal. _“É necessário a nova abolição Pra trazer de volta a minha liberdade Se eu pudesse gritaria, amor Se eu pudesse brigaria, amor Não vou, não quero”_
E
o bom momento do álbum segue com “_FADAS_” (Luiz Melodia), atingindo outro ápice. Luiz Melodia é daqueles compositores que crava no existencialismo solto em palavras que sugerem imagens, fragmentos de momentos. Suas canções têm um toque que se casam com a voz feminina. Ricardo Machado mostra-se extremamente seguro, em um à vontade que lhe permite conduzir com brilho os fragmentos poéticos da mensagem do autor. Os bandolins simulam as guitarras portuguesas, dando um toque de fado contemporâneo, leve e sem o gosto da lágrima. Suave, de ritmo que se mescla entre uma valsa e um fado, proporcionando um dos pontos altos do cantor, que aqui já se faz soberano, encantador, usando do privilégio rítmico que só os que nascem com o dom do cantar conseguem atingir sem que se esforce muito. Ricardo Machado absorve todos os movimentos de idas e vindas da poesia rabiscada do compositor das quadras do Estácio. _“Devo de ir, fadas Inseto voa em cego sem direçãoEu bem te vi, nada
Ou fada borboleta, ou fada canção”_ VISITA AOS ANOS OITENTA E UM OUTRO MOMENTO MÁGICO“_NOITE
DO PRAZER_” (Arnaldo Brandão – Cláudio Zolli – Paulo Zdanowski) dá uma quebra momentânea ao clima alcançado pelas faixas anteriores. Traz a leveza estética que lhe é peculiar. Exercício contundente para a voz, que desde a primeira faixa mostrou-se ancha. Sucesso dos anos oitenta, a canção não se furta em deixar um leve trave de uma época que já se foi. Ricardo Machado consegue articular todas as palavras, principalmente no verso “_tocando B. B. King sem parar_”, desfazendo a ambigüidade que sempre se lhe ficou enraizada, quando todos cantaram “trocando de biquíni sem parar”. Cumpre bem a proposta, mas não empolga. É o momento menor de um disco brilhante. É como se o cantor deixasse nos anos oitenta o seu fascínio pela canção. _“Noite do Prazer_” chega sem fôlego, visivelmente datada, presa aos resquícios da geração do desbunde, que dava os seus últimos suspiros na década da queda das ideologias. _“A noite vai ser boaDe tudo vai rolar
De certo que as pessoasQuerem se conhecer
Se olham e se beijam Numa festa genial”_ Mas as surpresas não se findaram, pelo contrário, chega com fôlego um outro grande momento, “_DESENHO DE GIZ_” (João Bosco – Abel Silva). Cantando inicialmente em um tom mais grave, Ricardo Machado navega na canção com domíniotécnico,
perdendo-o por instantes para a emoção, alcançado o lirismo supremo vociferado por agudos perfeitos, magnetizando o metal da voz, atraindo como um ímã os ouvintes. Veste-se de sublime coragem para cantar o amor e os seus labirintos, sem fazê-lo extenuante, sem que lhe embace a delicadeza poética. As palavras sopradas e articuladas com perfeição, uma característica do cantor, perdem o academicismo proposto no primeiro álbum, ganhando a dimensão lírica do timbre metálico, a emoção vincada quando traduzidas na melodia, diluindo-se em efeitos provocados pelas várias vozes aqui por ele usadas. Consegue conciliar a pronúncia silábica com o lirismo extenuante da voz, unindo de forma estética definitiva a poesia e a melodia, impregnando-lhe a suavidade de um canto conduzido pelo etéreo. Assim como em “_Autonomia_”, a voz de Ricardo Machado expele beleza, desenhando não uma estética de giz, mas de sofisticada nanquim tatuada na pele dos sentimentos. _“Quem quer viver um amor Mas não quer suas marcas, qualquer cicatrizA ilusão do amor
Não é risco na areia, é desenho de giz Eu sei que vocês vão dizer A questão é querer desejar, decidir Aí diz o meu coração Que prazer tem bater se ela não vai ouvir”_ FRENÉTICA ARRANCADA FINAL“_PERDÃO
VOCÊ_” (Carlinhos Brown – Alaim Tavares) ressalta a verve de cantor lírico que Ricardo Machado traz na bagagem. Dando um toque de sofisticação, ele dispensa os instrumentos musicais, ousando interpretar toda a canção em capela, acrescentando-lhe um vocal próprio de fundo. Para completar o efeito, convida Ana Cláudia Casaca, com quem divide um delicado dueto. Desenhando uma erudição moderna, a ousadia não chega a traduzir um momento de grande esplendor, mas não decepciona em sua beleza estética. Ana Cláudia Casaca mostra com segurança a beleza da sua voz. Ricardo Machado consegue um bom momento, mas que nada evidencia a genialidade que já alcançou até aqui. Talvez seja o único momento do disco que traz aquele intimismo academicista do primeiro disco, sem que risque em nada toda a proposta aguda e ousada aqui diluída. _“Sei que a tendênciaAnda nas frestas
No decidir da mente
É como se perder de DeusE eu não quero
Eu não quero me perder Eu não quero te perderPerdão Você”
_
Surpreendentemente, o disco chega ao fim com uma velocidade estonteante, através da irreverente “_NÃO ENCHE_” (Caetano Veloso), uma daquelas canções de Caetano Veloso de tirar o fôlego de quem a canta. Letra provocativa, com termos que satirizam a amada, quase que ofensivamente, traz quilômetros de palavras vociferadas em tom frenético. Ricardo Machadoaceita
o desafio e freneticamente, não perde nenhuma sílaba das palavras arrancadas em uma melodia que não se deixa pausar, numa pulsação veloz. A canção surge divertida, agradável, de fácil assimilação não fosse uma letra sem fim, labiríntica, difícil de ser cantada e assimilada no todo. Ricardo Machado passa por todas as armadilhas dos ritmos, por todas as palavras de uma poesia quase psicodélica. Mostra-se tranqüilo, seguro, num prelúdio de despedida do álbum que lhe garante a qualidade de um grande intérprete, já maduro e pronto._“Harpia! Aranha!
Sabedoria de rapina
E de enredar, de enredarPerua! Piranha!
Minha energia é que Mantém você suspensa no arPra rua! Se manda!
Sai do meu sangue
Sanguessuga
Que sabe sugar
Pirata! Malandra!
Me deixa gozar, me deixa gozar Me deixa gozar, me deixa gozar..._” O disco é encerrado como foi iniciado, com “_SEDUZIR_” (Djavan), em forma de vinheta, cantada em capela: _“Cantar é mover o dom do fundo de uma paixão (...) (...) Revelar todo o sentido”_ Nunca os versos de Djavan foram cantados com tanta sinceridade e, sinceridade, é a palavra chave do canto de Ricardo Machado, em um trabalho delicado, de sofisticada composição estética, de precisão na escolha de um repertório que não se perde, mas que se acrescenta a cada faixa, de uma voz que já se mostra técnica e emotivamente conciliada, expandido-se nas suas possibilidades, cada vez mais buscando por novos desafios. “_Ricardo Machado – Volume 2_” empolga pela honestidade de um trabalho límpido, pela tenacidade de um artista que tenta superar as limitações de um mercado fechado e cruel, pela tradução de que o cenário musical brasileiro tem muito a oferecer por aí, em sensíveis obras de autores independentes. Cabe a nós descobrirmos e divulgar estas pérolas tão docemente escondidas dentro de uma ostra de carcaça sólida chamada MPB.FICHA TÉCNICA:
RICARDO
MACHADO 2
Produção Independente Produção e Seleção de Repertório: Ricardo Machado Direção Musical: Ricardo Machado e Ricardo Calafate Técnico de Estúdio: Ricardo Calafate e Ricardo Cidade Técnicos de Mixagem e Masterização: Ricardo Calafate e RicardoCidade
Arranjos: Ricardo Calafate Arranjos Vocais: Ricardo Machado e Ricardo Calafate Fotos: Jorshey Stúdio Projeto Gráfico: Ricardo Machado Processamento de Imagens: Gabriel Nunes Arte Final: Gabriel Nunes Realização Gráfica: Artes Gráficas e Editora Exímia Idealização de Texto: Ricardo Machado Colaboração: Nelson Almeida, Leandro Marzulo, Fernanda Veloso, Solange V. Santos, Rogério M. Santos Gravado no Estúdio Usina Agradecimentos Especiais de Ricardo Machado: Ricardo Calafate, Ana Cláudia Casaca, Ricardo Cidade, Nelson Almeida, Gabriel Nunes, Márcio Amorim, Afonso Martins, Leandro Marzulo, Fernanda Veloso, Filipe Affonso, Rogério Machado, Solange Veloso, Lúcia Regina, Odete Faria, Adyl Faria, Augusto Santos e a todos que apoiaram este projeto.Agradeço a Deus
Músicos Participantes: Violão Aço: Ricardo Calafate (Faixas “_Quem Tem a Viola_”, “_Sem Dizer Adeus_”, “_Primavera_” e “_Noite do Prazer_”) Violão Nylon: Ricardo Calafate (Faixas “_Sem Dizer Ade_us”, “_Fadas_”, “_Desenho de Giz_” e “_Não Enche_”) Violão 7 Cordas: Ricardo Calafate (Faixas “_Autonomia_” e“_Fadas_”)
Guitarra Solo: Ricardo Calafate (Faixas “_Quem Tem a Viola_”, “_My Funny Valentine_”, “_Noite do Prazer_”, “_Desenho de Giz_” e “_Não Enche_”) Guitarra Base: Ricardo Calafate (Faixas “_My Funny Valentine_”, “_Desenho de Giz_” e “_Não Enche_”) Baixo Elétrico (Synti): Ricardo Calafate (Faixa “_Quem Tem a Viola_”) e Afonso Martins (Faixa “_Noite do Prazer_”) Baixo Acústico: Afonso Martins (Faixa “_My Funny Valentine_") Triângulo: Ricardo Calafate (Faixa “_Sem Dizer Adeus_”) Bandolim: Ricardo Calafate (Faixa “_Fadas_”) Programação de Bateria: AfonsoMartins
(Faixa “_Noite do Prazer_”) Percussão: Afonso Martins e Ricardo Calafate (Faixa “_Noite doPrazer_”)
Surdo, Caixa, Tamborim, Xique-Xique e Reco-Reco: Ricardo Calafate (Faixa “_Não Enche_”) Vocais: Ricardo Machado Participação Especial: Ana Cláudia Casaca (voz em “_PerdãoVocê_”)
FAIXAS:
1 Seduzir (Djavan) (vinheta), 2 Quem Tem a Viola (Zé Renato – Chico Chaves – Cláudio Nucci – Juca Filho), 3 Sem Dizer Adeus (Paulinho Moska), 4 My Funny Valentine (Richard Rodgers – Lorenz Hart), 5 Primavera (Cassiano – Silvio Rochael), 6 Autonomia (Cartola), 7 Fadas (Luiz Melodia), 8 Noite do Prazer (Arnaldo Brandão – Cláudio Zolli – Paulo Zdanowski), 9 Desenho de Giz (João Bosco – Abel Silva), 10 Perdão Você (Carlinhos Brown – Alaim Tavares) Participação Ana Claudia Casaca, 11 Não Enche (Caetano Veloso), 12 Seduzir (Djavan) (vinheta) _RICARDO MACHADO - SITES: _http://ricardomachadocantor.blogspot.com/ http://ricardomachadocantor.multiply.com/ TAGS: cultura , jeocazlee-meddi ,
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Quinta-feira, 27 de Maio de 2010 CORRA E OLHE O CÉU - RICARDO MACHADONuma
época que o cenário musical brasileiro mostra-se instável e sem direção, que a MPB sobrevive do que se ergueu nos últimos quarenta anos, sem que se apresente criatividade e trabalhos consistentes; que o mercado assiste ao colapso das grandes gravadoras, ultrapassadas pelo fenômeno da era digital, limitadas pela falta de qualidade do que apresentou ao público nos últimos vinte anos, transformando os sertanejos em ais medíocres do brega romântico, a música de raiz afro e seus axés em movimentos vulgares de glúteos e quadris pululantes, visando assim, o lucro fácil e o sucesso instantâneo; eis que surgem trabalhos sinceros, feitos para um mercado fechado, que se nega a abraçar o medíocre, mas que paga o preço de não conseguir patrocínios, condenando boas produções ao ostracismo, sem alcançarem um grande público, mostrando-se fechadas em circuitos restritos, sem que se consiga formar uma vanguarda que dê uma lufadano óbvio.
De tempos em tempos, descobre-se uma Maria Gadu pelos bares da vida e, percebe-se que dentro da carência de uma MPB estagnada no âmago da sua genialidade temporal, existem talentos que se mantêm intactos corrosão da falta de qualidade e ao declínio de um dos gêneros musicais mais apreciados no mundo. É neste contexto atribulado que se me aparece Ricardo Machado, cantor carioca, dono de uma voz consistente, de timbre metálico que quando se propõe a desafiar os seus agudos, transforma a palavra dentro da melodia de uma forma estética admirável, alcançado ápices primorosos que nos trazem o puro prazer em se ouvir a boa MúsicaPopular Brasileira.
Com dois álbuns independentes, “_Corra e Olhe o Céu_” e “_Ricardo Machado_”, o cantor oferece um trabalho límpido e de sensível sinceridade, sem em momento algum, fugir da proposta ou cair no vão dos projetos pretensiosos. Ricardo Machado propõem-se a cantar a MPB, mostrando que as canções não têm tempo e intérpretes definitivos, e que dentro de um acervo infinito, redescobrir sucessos vestindo uma voz bonita, torna-se novo e único, quase com cheiro de inédito. Neste artigo, o primeiro álbum de Ricardo Machado se nos será apresentado, proporcionando a quem correr o risco, uma agradável surpresa dentro da arte de cantar, sem os resquícios do compromisso com as exigências do mercado. Singela, sincera, de uma beleza tênue e límpida, a obra de Ricardo Machado é um verdadeiro convite ao bom gosto, ao prazer de ouvir a Música Popular Brasileira. ABREM-SE AS FAIXAS EM SUAVE ROMANTISMORicardo
Machado, carioca que se divide entre cantar e a profissão de dentista, traz na bagagem as raízes do cantor lírico, que se deixou seduzir pela música popular, demarcando esta característica na suavização do seu canto. Vindo do Coral da Universidade Gama Filho, foi desde sempre um apaixonado pela MPB, em especial por Gal Costa, uma influência que se estende na interpretação, vincada no lirismo melódico, distanciando-se da latência passional. O álbum de estréia, aqui renomeado _“Corra e Olhe o Céu_”, traz um repertório conciso, com canções suaves, feitas por diversos autores, que se interligam em um todo, onde a melodia e a poesia são indivisíveis. Letra e melodia nivelam-se, sem jamais uma sobressair-se à outra, ponto de partida para o estilo pessoal de Ricardo Machado. Poucos como ele pronunciam todas as sílabas da canção, diluindo-as na melodia com clareza, sem arranhar a delicadeza musical, fazendo a felicidade de qualquer letrista, muitas vezes ofuscado pela música, iluminando assim, a poesia que há nas composições da MPB. “_CANÇÃO DA MANHÃ FELIZ_” (Haroldo Barbosa – Luiz Reis), abre o álbum. Canção que exalta o amor, que chega suave depois das tempestades, que entra como uma luz radiante em um coração discreto. Ricardo Machado sabe dosar o lirismo exato da canção, optando por um intimismo lírico, ameaçando, por alguns momentos, lançar-se na beleza metal da sua voz, contendo-se da explosão estética que pode equer
atingir,
mas sem se perder da delicadeza do momento. A voz abre-se para aemoção.
_“Eu abri a janelaE este sol entrou
De repente em minha vida Já tão fria e sem desejosEstes festejos
Esta emoção
Luminosa manhã
Tanto azul tanta luz É demais pro meu coração”_ “_TODO AZUL DO MAR_” (Ronaldo Bastos – Flávio Venturini) chega como um sopro, ampliando o proposto na primeira faixa, transformando a poesia em melodia, sem ela, o canto de Ricardo Machado não faz sentido. Os floreados são salpicados como atenuantes ao convitelírico.
_“Quando eu dei por mimNem tentei fugir
Do visgo que me prendeu Dentro do seu olhar”_RASGOS VISCERAIS
O
amor suave cantado nas primeiras faixas dá passagem para o existencialismo pulsante, à flor da pele de “_RESPOSTA AO TEMPO_” (Aldir Blanc – Cristóvão Bastos). Canção forte, que beira o precipício dos sentidos, num diálogo dilacerante entre o tempo e um sobrevivente das grandes paixões. Aparentemente simples, a canção requer fôlego para que se suba às escadas do diálogo, onde as palavras são mais amplas que a melodia, que muitas vezes mostra-se tolhida dentro das grandes frases. Nana Caymmi atravessou com passionalismo a canção. Ricardo Machado suaviza o diálogo, estreita-se nos seus labirintos e sai com maestria dos becos que se lhe abrem, mantendo o fôlego das palavras, ao contrário da interpretação de Nana, que às vezes o parece perder. A veia passional exacerbada que a canção sugere passa longe da suavidade estética que Ricardo Machado insiste em transformar aquilo que canta. Como discípulo de Gal Costa, prefere transformar o trágico em suportável, a dor em beleza solitária, o desespero em ludismo, a palavra em melodia sincronizada, interligada num poema cantado. _“Respondo que ele aprisiona, eu liberto Que ele adormece as paixões, eu desperto E o tempo se rói com inveja de mim Me vigia querendo aprender Como eu morro de amor pra tentar reviver”_ Se até o momento o cantor mostrou-se comportado, sedutoramenteacadêmico, na
quarta
faixa, “_ME CHAMA DE CHÃO_” (Paulinho Moska – Fernando Zarif – Branco Melo), ele apaga tudo e solta toda a verve escondida, sem qualquer pudor em arriscar o metal da voz em momentos que os agudos expandem as frases mais constrangedoras da música, numa deliciosa malícia. De forma visceral, ousada, ele desnuda a canção, rasga a sua mensagem, fazendo-a adoravelmente crua, desconcertante aos ouvidos mais pudicos e, arrebatadora aos que sabem os vários caminhos que se conduz o amor na sua forma bruta, na sua essência tão primitiva quanto o próprio lapidar do sentimento. Um dos melhores momentos do álbum. E também onde se revela um pouco do potencial da voz que Ricardo Machado sabe guardar tão bem, como uma surpresa em uminvólucro súbito.
_“Bate que sou tua porta Bate que sou teu bife Bate que sou teu homemSou teu cão (...)
(...) Me chama de chãoMe chama
Come que eu sou teu rabo Cospe, que eu sou teu prato”_ NO LIRISMO DOS AUTORES DO CLUBE DA ESQUINA“_NASCENTE_”
(Flávio Venturini – Murilo Antunes) restabelece a suavidade, chegando mansa, macia. Se as sereias trazem um canto hipnótico e fatal, os tritões sopram a melodia em um precipício que se nos arremessa aos rochedos dos sentimentos. Ricardo Machado, no seu intimismo domesticado, transforma-se no tritão em alto mar, cantantee solitário!
_“Clareia manhã
O sol vai esconder a clara estrelaArdente
Pérola do céu refletindoTeus olhos”
_
“_TRAVESSIA_” (Milton Nascimento – Fernando Brant), a mais definitiva canção de Milton Nascimento, passou pelas mais diversas vozes da MPB, vestindo desde a densidade claustrofóbica de Elis Regina à interpretação em estilo épico do autor. Foi tão explorada, que por muito tempo tornou-se sem novidades. Ricardo Machado propõe-se em transformar o óbvio em algo seu, conseguindo dar uma identidade própria, o que lhe acentua a intuição e o estilo. Atravessa toda a dor pungente da canção e, quando o desabrochar da melodia eleva a voz no verso “_vou soltar o meu pranto_” e se espera o ápice de “_vou querer me matar_”, ele quebra o tom, baixando-o subitamente, fazendo com que o ouvinte desenhe na mente uma imagem a cair no vão de um precipício. Efeito notável, mostrando como o cantor resiste ao passionalismo erguido, optando pelo lirismo poético. _“Solto a voz nas estradas, já não quero parar Meu caminho é de pedras, como posso sonhar Sonho feito de brisa, vento vem terminar Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar”_ DE PAULINHO DA VIOLA A CARTOLADeixando
o universo dos mineiros do Clube da Esquina, Ricardo Machado mergulha no samba macio de Paulinho da Viola. “_CORAÇÃO LEVIANO_” (Paulinho da Viola), é interpretada com concisão, preservando a delicadeza da beleza estética que o cantor impõe. Discretamente, murmura alguns agudos, retraindo-se para não desconstruir a proposta inicial. Insere no final, um rasgo meteórico de “_Insensatez_” (Vinícius de Moraes – Tom Jobim), num arremate entre o samba e a Bossa Nova cariocas. _“Ah coração teu engano foi esperar por um bem De um coração leviano que nunca será deNinguém”_
“_CORRA E OLHE O CÉU_” (Cartola – Dalmo Casteli), amplia a proposta do álbum. A voz mostra-se quente, transitando as possibilidades, arriscando os graves, concebendo um ludismo romântico, vertido nas sílabas melódicas, na percepção da sensibilidade autoral. A canção alinhava toda a proposta do álbum, selando os vários universos de autores diferentes apresentados por Ricardo Machado. É o momento que se identifica com precisão o intimismo do cantor e a expansão da sua sensibilidade, a sofisticação na escolha do repertório e a sua paixão pela genuínaMPB.
_“Linda!
No que se apresenta
O triste se ausenta
Fez-se a alegria
Corra e olhe o céu
Que o sol vem trazerBom dia”_
Ricardo Machado mostra-se seguro e à vontade no universo de Cartola. Segue o rastro do mestre com a faixa “_ACONTECE_” (Cartola). Mais uma vez deixa fluir o timbre metálico, que emerge quase que sufocado dentro do intimismo acadêmico que mantém coerente, sem nunca ferir a beleza exposta e a subtender a que se esconde no mais sublime âmago. Apesar de mais duas faixas, é como se ele se despedisse aqui, encerrando o delicado e sofisticado repertório, no qual transitou com domínio pleno e suavidade envolvente. _“Esquece o nosso amor, vê se esquece Porque tudo na vida acontece E acontece que eu já não sei mais amar Vai chorar, vai sofrer, e você não merece Mas isso acontece” _ A décima faixa talvez seja o grandeequívoco
do álbum. “_CANÇÃO DA MANHÃ FELIZ_” (Haroldo Barbosa – Luiz Reis), volta em um dueto com Márcia Coelho, que apesar da beleza da voz, mostra-se menor quando Ricardo Machado entra, reforçando o tom lírico que impregnou na primeira faixa, fazendo deste curto momento um ápice isolado. Uma terceira voz (Eduardo Coelho), junta-se aos dois, num encerramento bonito, mas que nada acrescenta sofisticação do repertório e à beleza das interpretações solitárias de uma grande voz. E o ápice final vem com “_BACHIANAS BRASILEIRAS Nº 5_” (Heitor Villa Lobos), onde Ricardo Machado acentua as raízes de cantor lírico. A ousadia não torna a proposta do álbum pretensiosa, imprime-lhe o carimbo do bom gosto, afirma toda a sofisticação que se manteve da primeira à última faixa. Encerra um trabalho ímpar, de um cantor que ao penetrar com coragem no universo da MPB, dá ao repertório escolhido uma identidade própria, despindo-o de qualquer estigma que se lhe exija um repertório próprio, feito de inéditas. Longe de se mostrar “_crooner_”, Ricardo Machado revela-se um cantor de personalidade arraigada, de timbre agradável e de possibilidades múltiplas. O álbum é acadêmico, por ser o primeiro, aquele em que o cantor quer e precisa acertar. Mas dentro deste academicismo, há uma beleza rara, uma promessa de uma grande voz, um gostinho de quero mais aos ouvintes.FICHA TÉCNICA:
RICARDO
MACHADO – CORRA E OLHE O CÉU Produção Independente Produção, Coordenação e Seleção de Repertório: Ricardo Machado Técnico de Estúdio: Ricardo Calafate Técnicos de Mixagem e Masterização: Vanderlan Júnior e CláudioLouro
Arranjos: Vanderlan Júnior Concepção da Capa: Ricardo Machado Fotos: Jorshey Stúdio Arte Final: Cláudio Louro Gravado no Estúdio Usina Mixado e masterizado no Estúdio Groove Agradecimentos Especiais de Ricardo Machado: À minha família, Cláudio Louro, Vanderlan Júnior, Ricardo Calafate, Maurício Capistrano, Maurício Rizzo, Márcia Coelho, Dudu e a todos que apoiaram a realização deste trabalho Músicos Participantes: Violão Eletro-Acústico: Ricardo Calafete (Faixas “Canção da Manhã Feliz”, “Todo Azul do Mar”, “Resposta ao Tempo”, “Me Chama de Chão” e “Nascente”) e Maurício Rizzo (Faixa“Acontece”)
Violão Acústico: Maurício Capistrano (Faixas “Travessia”, “Coração Leviano”, “Corra e Olhe o Céu”, e “Bachianas Brasileiras número 5”) Teclados e Programação de Bateria: Vanderlan Júnior Vocais: Ricardo Machado Participações Especiais: Márcia Coelho (voz e vocal em “Cançãoda
Manhã
Feliz”) e Eduardo Carvalho – Dudu (vocal em “Canção da ManhãFeliz”)
FAIXAS:
1 Canção da Manhã Feliz (Haroldo Barbosa – Luiz Reis), 2 Todo Azul do Mar (Ronaldo Bastos – Flávio Venturini), 3 Resposta ao Tempo (Aldir Blanc – Cristóvão Bastos), 4 Me Chama de Chão (Paulinho Moska – Fernando Zarif – Branco Melo), 5 Nascente (Flávio Venturini – Murilo Antunes), 6 Travessia (Milton Nascimento – Fernando Brant), 7 Coração Leviano (Paulinho da Viola), 8 Corra e Olhe o Céu (Cartola – Dalmo Casteli), 9 Acontece (Cartola), 10 Canção da Manhã Feliz (Haroldo Barbosa – Luiz Reis) Participação Especial Márcia Coelho, 11 Bachianas Brasileiras nº 5 (Heitor Villa Lobos) _RICARDO MACHADO - SITES:_ http://ricardomachadocantor.blogspot.com/ http://ricardomachadocantor.multiply.com/ TAGS: cultura , jeocazlee-meddi ,
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Sexta-feira, 5 de Março de 2010ÉOLO E OS VENTOS
O
território grego é formado por penínsulas recortadas e ilhas do mar Egeu. Devido à posição geográfica, incidia sobre as cidades gregas inúmeros movimentos de ar, os ventos, que definiam a navegação e a agricultura, essências da vida econômica da Grécia. A fúria dos ventos trazia infortúnios às colheitas, que quando por eles arrasadas, provocavam anos de escassez e fome. Na formação primordial da civilização grega não havia o domínio das técnicas da agricultura, plantar e colher era um esforço desesperado para sobreviver. Era preciso controlar o poder dos ventos, apaziguar a fúria com que caiam sobre as ilhas e o continente, para isto surgiu a necessidade de criar a divindade que representava a força do ar, tão importante em terras muitas vezes de condições naturalmente inóspitas. Personagens míticas surgiram como representantes do ar, entre elas, Éolo, o deus dos Ventos, senhor absoluto de todas as forças atmosféricas. Seu reinado tinha como súditos, segunda a versão mais persistente da lenda, os quatro ventos regulares: Bóreas, o vento Norte; Zéfiro, o vento Oeste; Euro, o vento Leste; e, Austro, o ventoSul.
Éolo surgiu como divindade abstrata, distanciada da caracterização humana que tinham os deuses olímpicos, sua genealogia e a dos demais Ventos assumiram formas variantes ao longo da antiguidade grega. Há quem lhe atribua Poseidon (Netuno), como pai. Sem uniformidade genealógica, Éolo e os Ventos têm as suas ascendências e origens flutuantes, tal como o ar que representam. Assim como a natureza não controla a força do ar, também os ventos têm profundas oscilações no seu caráter enquanto divindades e nas suas lendas, enquanto mito. ÉOLO, O REI DOS VENTOSA
força dos ventos representava o equilíbrio entre as plantações e as colheitas, podendo ser benéficos ou destruidores. Essenciais no convívio entre a natureza e o homem, os ventos trazem o poder da vida, da fecundação, já que grande parte da vegetação só fecunda quando tem o pólen transportado por eles. Se a presença dos ventos definia as colheitas e as plantações, longe do campo eles eram fundamentais para a navegação, já que as tormentas marítimas eram provocadas por ventos cortantes, capazes de afundar grandes frotas. Os navegantes gregos atribuíam a culpa dos naufrágios aos ventos, sempre inconstantes e furiosos. Sem poder explicá-los através da ciência, os antigos tentavam compreendê-los como divindades, dando-lhes forma e vida e cultuando-os, transformando-os em mitos. O mito de Éolo surge da necessidade do homem de manter diálogo entre a natureza indomável e a sobrevivência que evolui sempre, aperfeiçoando a tecnologia. Enquanto não se avança com este processo evolutivo, o mito resolve a ignorância das trevas, trazendo a luz da fé na divindade. Éolo passou a refletir a ordem dentro da força incontrolável do ar, era ele quem impedia a anarquia dos Ventos, tornando-os disciplinados e benéficos às necessidades humanas. Sob o reinado de Éolo, os ventos só são destrutivos quando provocados pelo homem, sendo a sua fúria resultante de alguma vingança à falha humana ou uma retaliação às disputas dasdivindades.
Éolo comanda todos os ventos. O seu reino está centrado na Eólia, uma ilha flutuante situada entre a Itália continental e a Sicília. Homero (século IX a.C.) descreve o seu palácio cercado de muralhas de bronze por todos os lados. Para os romanos, o reino do rei dos Ventos encontrava-se na ilha Lípara. Éolo é descrito em todas as vertentes do mito, como um deus justo e benévolo à humanidade. Tendo grande compaixão para com os homens, ele inventou a vela para ajudá-los a navegar, sendo o guardião perpétuo dos Ventos e das suas investidas furiosas. Mas o poder de Éolo sobre os Ventos não pode evitar catástrofes aos homens, quando a tragédia já foi definida pelo Destino, deus mais poderoso que os próprios deuses do Olimpo. Apesar de ser o rei dos Ventos, Éolo tem menos representações nas artes e nas lendas do que Zéfiro ou Bóreas, Ventos que são seus súditos. Considerado superior a todas as forças do ar, os gregos cultuavam o à divindade de Éolo de forma indireta, como ele era a soma máxima de todos os Ventos, era preciso abrandar a fúria de cada um deles. Assim, os cultos eram dirigidos a cada um dos Ventos, para que se chegasse de forma indireta ao rei de todos eles, o poderosoÉolo.
OS VENTOS E AS DIVINDADES DO ARO
elemento ar era definido pelos gregos, por quatro divindades básicas e regulares: Bóreas, o vento Norte; Austro, o vento Sul; Zéfiro, o vento Oeste e Euro, o vento Leste. São filhos de Eos (a Aurora) e de Astreu (o céu estrelado). Outras vertentes dos mitos dos Ventos, costumam apontá-los como oito divindades básicas e regulares: Solano, Austro, Euro (ou Noto), Áfrico, Zéfiro, Cero, Setentrião e Bóreas. Nesta variante da lenda, a genealogia dos Ventos não é atribuída a Eos e Astreu, mas aos Titãs, os filhos de Urano (Céu) e Gaia (Terra), destronados pelos deuses olímpicos. Quando regulares, os ventos eram considerados benévolos aos homens; quando irregulares, eram tidos como maléficos, de comportamento nocivo ao homem, à navegação e à agricultura. Os ventos maléficos estavam ligados aos mitos das Harpias e da Quimera. As Harpias eram figuras monstruosas, filhas de Taumante e da ninfa oceânida Electra. Tinham o rosto de mulher e corpo de ave. Normalmente são representadas com rostos de mulheres velhas, com orelhas de urso e patas que terminavam em grandes unhas. Simbolizavam os ventos mais tempestuosos, provocadores dos furacões. Por onde passavam causavam a devastação e a destruição. O que não destruíam, contaminavam com os excrementos (ou um fluxo que lhes saía do ventre) que lançavam. Eram imortais, mas não eram deusas, não recebendo cultos especiais. A Quimera tinha a cabeça de leão, o corpo de cabra e cauda de dragão. Da sua boca saíam grandes chamas. Associada aos Ventos, ela personificava as nuvens negras que trazem as tempestades. Assim como as Harpias, a Quimera não recebeu culto especial dos antigos gregos. Ao contrário dos Ventos irregulares e maléficos, os regulares e benéficos receberam grandes e freqüentes cultos em toda a Grécia antiga, excepcionalmente em Atenas, onde eram venerados juntos, em um templo octogonal, tendo a figura de um deles em cada ângulo doedifício.
A mitologia romana apresenta outros Ventos além dos quatro regulares descritos pelos gregos. Euro, Bóreas, Austro e Zéfiro são, segundo os romanos, os Ventos principais, sendo Euronoto, Vulturno, Subsolano e Caecias, Ventos que derivam dos primeiros, sem lendas próprias. São tidos como divindades turbulentas, somente Bóreas e Zéfiro são descritos com um caráter simpático e benéfico pelos romanos. BÓREAS, O IMPETUOSO VENTO NORTEBóreas
foi o vento mais cultuado como divindade na Grécia. Geralmente representado como um homem barbudo, maduro e alado, vestido com um manto curto. Era um vento tranqüilo, que não conhecia a dor. Vivia em um fulgente palácio às margens do Estrimão, na Trácia, paísfrio e úmido.
A serenidade do vento ficou estremecida quando ele apaixonou-se por Orítia, bela princesa de Atenas. Tomado de amor, ele procurou o rei Erecteu, pai da amada, pedindo-lhe em casamento. Mas o monarca recusou-lhe entregar a filha, alegando que a Trácia era muito fria, e a jovem não suportaria lá viver. Bóreas rogou, implorou, prostrou-se aos pés do rei, como se fosse um simples mortal. Mas nada comoveu Erecteu. Desolado, Bóreas tornou-se um vento indomável, um vendaval sem limites, de força impetuosa. Passou a soprar violentamente do seu palácio, atingindo todos os cantos do mundo. Soprou uma gigante nuvem branca sobre Atenas, que envolveu a bela Orítia, carregando-a pelo ar, até a Trácia. Bóreas casou-se com Orítia, com quem teve quatro filhos. Em uma outra vertente da lenda, ao apaixonar-se por Orítia, o vento Norte era casado com a ninfa Clóris. Quando raptou a princesa ateniense, passou a ter as duas como esposa, vivendo os três felizes no palácioda Trácia.
O rapto de Orítia é a lenda mais famosa do mito de Bóreas. O casamento do vento com uma princesa ateniense, era cultuado em Atenas como um privilégio à cidade. Relatos históricos contam que quando da invasão do comandante persa Xerxes (519-465 a.C.), em luta contra a Grécia, Atenas estava próxima da rendição, quando o vento Bóreas soprou forte, dispersando a frota inimiga. O fato passou a ser comemorado pelos atenienses com a realização das festas Boreasmas. Outra lenda poética envolve o mito de Bóreas: certa vez o vento Norte transformou-se em um cavalo alado, fecundando doze éguas do rei Erisícton, figura mitológica conhecida por ter devorado a si próprio quando tomado por um incontrolável ataque de fome. Da fecundação de Bóreas nasceram doze potros, que corriam esguios pelas colheitas, sem que se lhes destruísse. É através dos potrinhos filhos de Bóreas, que acontece o movimento ondulatório que o vento suave provoca sobre a vegetação. ZÉFIRO, O VENTO DAS BRISAS SUAVESZéfiro,
o vento Oeste, era irmão de Bóreas, habitando também na Trácia. A lenda descreve-o como um vento primitivamente violento, que destruía com o seu sopro indomável, às plantações, provocava naufrágios, causando grandes danos aos homens. A súbita paixão de Zéfiro por Clóris (Flora), irá transformar o caráter mitológico do vento, dando-lhe a versão final regular e benéfica. Clóris é a rainha da primavera, era quem espargia a beleza das flores ao mundo, dando-lhes as cores e o perfume. O contraste entre Zéfiro, o vento que ao soprar destrói a beleza das flores, e Clóris, que pincela esta beleza, faz com que a rainha da primavera rejeite aquele amor inesperado. Mas o amor de Zéfiro é sincero, pleno e construtivo. Para conquistar Clóris, ele transforma a sua personalidade. Rejeita o seu lado tempestuoso e destrutivo, tornando-se um vento suave, passando a soprar levemente, para não danificar as flores. A lenda de Zéfiro e Clóris reflete o momento de equilíbrio da natureza. O vento suave não destrói as flores, pelo contrário, leva o seu pólen, fazendo com que ela fecunde e renasça em outra vegetação. Zéfiro passa a ser o vento dos namorados. Será ele que levará Psiquê ao palácio de Eros, para que se dê o encontro entre o Amor e Alma. Será ele que verá Afrodite (Vênus), a deusa do amor e da beleza, emergir das espumas do mar, soprando-a e conduzindo-a suavemente até a ilha de Chipre. Zéfiro é o vento do Ocidente, que ameniza o clima grego, vivificando a natureza. Na estrada entre Atenas e Elêusis, era venerado como uma entidade fecundadora. É representado com uma fisionomia serena e terna, trazendo asas, muitas vezes em forma de asas de borboletas, e, coroas coloridas nas mãos. Em Roma Zéfiro era venerado ao lado da mulher, Flora. Foram construídos dois templos de culto à deusa, um no Circo Máximo e outro no Quirinal. As festas Florais celebravam a primavera em Roma. No início, as Florais eram solenidades religiosas com rituais que pediam aos deuses boas colheitas. Com o passar do tempo, transformaram-se em celebrações licenciosas e obscenas, dando lugarà orgia floral.
EURO, O VENTO LESTE E AUSTRO, O VENTO SULEuro,
ou Noto, é o vento do Oriente. É um vento descrito diferentemente pelos poetas, com contrastes acentuados de uma versão para a outra. Enquanto muitos escritores atribuem-lhe uma fisionomia tranqüila e benévola, Horácio (65 -8 a.C.) transforma-o em um vento furioso. É representado com asas e cabelos revoltos, trazendo muitas flores nas mãos. Euro chega ao mundo trazido pelos cavalos da mãe, Eos, a Aurora. O mito não gerou grandes lendas, como Zéfiro e Bóreas. Austro é o vento Sul. É o vento que traz as chuvas, por isto costuma ser representado com um regador nas mãos. Ovídio (43 a.C. – 18 d.C.) descreveu-o como um velho de cabelos brancos, de estatura elevada, portador de um ar sombrio e de uma nuvem ao redor da cabeça, indicando a chegada das chuvas. Tido como um vento básico e regular, não foi uma divindade com grandes cultos, não gerando grandes lendasenquanto mito.
Em outra vertente mais antiga da lenda, os ventos passavam o tempo em guerra entre si, causando destruição e morte aos homens. Para aplacar a fúria de tão incontidas forças, Zeus encerrou-os em uma caverna, fechando-a com imensos rochedos e montanhas. A seguir, o senhor do Olimpo pediu a Éolo que vigiasse os prisioneiros. Assim, Éolo tornou-se o rei dos Ventos. Noite e dia Éolo ouve o rugido dos prisioneiros, vindos do alto das montanhas, clamando pela liberdade. Mas Éolo não os liberta jamais.TAGS: mitologia
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Quinta-feira, 31 de Dezembro de 2009 A NOITE, O CÉU, A LUA, AS ESTRELAS E OS POETASQuando
o silêncio cobre a cidade adormecida, faço uma visita a todas as noites do mundo. Não me perco em trevas, porque tenho as estrelas a iluminar os becos em que me perco. Se na desordem do dia não tive a mesma inspiração, é porque a intensidade do Sol queimou o frio que só a lua sabe apaziguar. Noites estreladas, noites de lua minguante, noites de festas, de solidão ou de paixão profunda. Na noite de natal bebo o vinho da confraternização do renascer das tradições, na noite de reveillon brindo à esperança de quebrar os dogmas. Nas noites atéias, perco o meu corpo em leitos clandestinos ou assinalados pela poesia dosamantes.
Conta a história que homens pisaram na Lua, chegaram com as suas bandeiras e empáfias e nada viram, a não ser crateras inóspitas. Nada poderiam ver, porque a Lua não é dos astronautas, é dos poetas, que sem nunca tocar o seu solo, conhecem todos os seus segredos, são cúmplices dos seus mistérios. A noite, a Lua, as estrelas, amigas das canções de amor; dos amantes que se entregam antes do Sol clarear as verdades. São as estrelas que iluminam o soldado em seu último suspiro, revelando-lhe o brilho quando tomba em campos inimigos, fazendo-o descobrir tardiamente que a guerra não lhe pertencia. Não temo a noite, não me assusto com o seu silêncio perturbador, com a sua escuridão murmurante. Aqueço-me com o pulsar dos meus sentidos, com as palavras dos poetas que cantaram a Lua, as estrelas, o céu, o amor; com os abraços que me apertaram, com as pernas que entrelacei em um tango erótico, com o suor que me desenhou os pêlos em pinturas ilógicas; com os sons ilegíveis, quase indecentes de bocas que se perdem nos beijos. Na noite de reflexão, de paixão ou de solidão, encontro-me com todos os poetas que deles roubei uma poesia para encantar, seduzir, ou simplesmente, retocar os meus atos amor. NESTA NOITE DE NATAL - JEOCAZ LEE-MEDDI Nesta noite de Natal sem fim... Quero mergulhar contigo nos pensamentos que trazem mais soluções doque tormentos;
Correr riscos mais próximos dos sentimentos; Não ter tempo para as mágoas e para a fugacidade da juventude. Nesta noite de Natal sem chuva... Quero decifrar os códigos dos meus mais antigos mistérios; Flutuar na magia de um desconhecido amanhecer sereno; Aconchegar a suavidade de uma brisa a soprar outras esperanças. Nesta noite de Natal sem sombras... Quero contigo, apenas encontrar um momento de beleza; Respirar sem medo as necessidades de existir; Refletir no espelho as mais cristalinas e dúbias verdades. Nesta noite de Natal itinerante... Quero contigo recompor os rostos que nos esculpiu o tempo; Ser mais uma essência humana do que uma personalidade vincada; Traduzir o mundo em atos e motivos da construção do ser; Sem ter que me perder na dissociação das mais tênues tradições; Arriscar ser feliz, ainda que numa noite sem fim. HE WISHES FOR THE CLOTHS OF HEAVEN – W. B. YEATS Had I the heavens’ embroidered cloths, Enwrought with golden and silver light, The blue and the dim and the dark cloths Of night and light and the half-light, I would spread the cloths under your feet: But I, being poor, have only my dreams; I have spread my dreams under your feet; Tread softly because you tread on my dreams. ELE DESEJA OS TECIDOS DO CÉU (TRADUÇÃO) Tivesse eu os tecidos bordados dos céus, Lavrados com a prata e o ouro da luz, Os tecidos azuis e foscos e de breu Que têm a noite, a luz e a meia luz, Estenderia esses tecidos a teus pés: Mas eu, que sou pobre, apenas tenho sonhos; São os meus sonhos que eu estendi a teus pés; Sê suave no pisar, que pisas os meus sonhos. _Tradução de J. M. Magalhães e M. L. Telles_ ABDICAÇÃO – FERNANDO PESSOA Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços E chama-me teu filho.Eu sou um rei
que voluntariamente abandonei O meu trono de sonhos e cansaços. Minha espada, pesada a braços lassos, Em mãos viris e calmas entreguei; E meu cetro e coroa – eu os deixei Na antecâmara, feitos em pedaços Minha cota de malha tão inútil, Minhas esporas de um tinir tão fútil, Deixei-as pela fria escadaria. Despi a realeza, corpo e alma, E regressei à noite antiga e calma Como a paisagem ao morrer do dia. CANTO DE MIM MESMO - XXI – WALT WHITMAN Sou o poeta do Corpo e o poeta da Alma, As aventuras do Céu estão em mim e as penas do Inferno estão emmim,
As primeiras enxerto e reforço em mim mesmo, as últimas traduzo parauma nova língua.
Sou o poeta da mulher e do homem, E digo que é tão grande ser mulher como ser homem, E digo que não há nada maior que a mãe dos homens. Canto o canto do crescimento ou do orgulho, Já baixamos bastante a cabeça, já imploramos, Provo que a medida é apenas desenvolvimento. Já excedeste o resto? És o Presidente? É uma ninharia, eles excederão isso e muito mais. Eu sou o que caminha com a crescente e terna noite, Convoco a terra e o mar meio abraçado pela noite. Aperta-me, noite, no teu peito nu – aperta-me, noite magnética eabundante!
Noite dos ventos do sul – noite das grandes estrelas raras! Noite silenciosa e sonolenta – louca e nua noite de verão! Sorri, oh voluptuosa terra fresca! Terra das árvores adormecidas e cintilantes! Terra do sol posto – terra das montanhas cobertas de névoa! Terra do fluir vítreo da lua cheia e azul! Terra de luz e sombra derramadas sobre a maré do rio! Terra de límpidas nuvens pálidas resplandecendo para mim! Terra de braços arrebatados ao longe – rica terra de macieiras emflor!
Sorri, que aí vem o teu amante. Pródiga, deste-me amor – e assim te dou amor! Oh, indizível e apaixonado amor. _Tradução de José Agostinho Baptista_ QUATRO BALADAS AMARELAS – FEDERICO GARCIA LORCA No alto daquele monte há uma arvorezinha verde._Pastor que vais,
pastor que vens._
Olivais sonolentos
baixam à planície quente._Pastor que vais,
pastor que vens._
Nem ovelhas brancas nem cachorro nem cajado nem amor tens._Pastor que vais._
Como uma sombra de ouro, no trigal te dissolves._Pastor que vens._
II
A terra estava
amarela.
_Ourinho, ourinho,
pastorzinho._
Nem lua branca
nem estrelas luziam._Ourinho, ourinho,
pastorzinho._
Vindimadora morena
corta o pranto da vinha._Ourinho, ourinho,
pastorzinho._
III
_Dois bois vermelhosNo campo de ouro._
Os bois têm ritmo
de sinos antigos
e olhos de pássaros. São para as manhãs de névoa, e sem embargoperfumam a laranja
do ar, no verão.
Velhos desde que nascemnão têm amo
e recordam as asas
de seus costados.
Os bois
sempre vão suspirando pelos campos de Ruthem busca do vau,
do eterno vau,
ébrios de luzeiros
a ruminar seus prantos. _Dois bois vermelhosNo campo de ouro._
IV
_Sobre o céu
das margaridas ando._Nesta tarde imagino
que sou santo.
Puseram-me a lua
nas mãos.
Eu a pus outra vez
no espaço
e o Senhor me premiou com a rosa e o halo._Sobre o céu
das margaridas ando._E agora vou
por este campo
a livrar as meninas
dos galãs maus
e dar moedas de ouroa todos os rapazes.
_Sobre o céu
das margaridas ando._ Texto de: JEOCAZ LEE-MEDDI Fotos: PAULO CÉSAR (_1 Um Mundo Melhor, 3 Especialmente Para Ti, 7 Uma Flor Por Cada Vida Contigo_), SANDRO MATTIOLLI (_2 Jeocaz Lee-Meddi Mensagem de Natal_), LUÍS LOBO HENRIQUES (_4 Liturgia_), ALBA LUNA (_5 Poema Para Joana_), JOÃO RODRIGUES SIMÕES (_6 Natureza Humana_) e GRENDEL (_8 Rebirth_) TAGS: jeocaz lee-meddi, literatura
, poesia
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Segunda-feira, 21 de Dezembro de 2009 YESHUA BEN YOSSEF, O JUDEU Todos os anos, quando da aproximação do dia 25 de dezembro, data que se comemora o nascimento de Cristo, há sempre uma pausa para reflexões de vida, atitudes e até mesmo uma análise dos dogmas. Mais de dois milênios depois do seu nascimento, Yeshua Ben Yossef (Jesus filho de José, em aramaico) ainda é uma das personagens mais enigmáticas da história. A começar pela própria data do seu nascimento, desconhecida dos registros históricos, a comemoração no dia 25 de dezembro foi herdada das festas pagãs da Roma antiga, conhecidas como saturnais, que ocorriam entre 17 e 24 de dezembro. No decorrer de mais de vinte séculos, Jesus Cristo despertou paixões, controvérsias, ódios e polêmicas. No século XX a sua própria existência foi contestada, uma vez que só tínhamos registros históricos da sua vida além dos evangelhos, nas _Antiguidades Judaicas_ e uma versão de _História da Guerra dos Judeus_, do historiador judeu Josefo, quase contemporâneo seu. Deixando a corrente cética sobre a sua existência, surge a pergunta, quem foi este judeu que mudou a história da humanidade e que, em seu nome, foram travadas as mais terríveis guerras, os mais calorososdiscursos de fé?
Para entendermos o cristianismo e os seus dogmas, é preciso jamais esquecer as suas origens, ou a etnia a qual Jesus pertencia. OS FILHOS DE ABRAÃO Conta a história que Abraão, nômade nascido em Ur, na Mesopotâmia,por ordem de Deus,
migrou
para o território habitado pelos cananeus, entre o rio Jordão e o Mediterrâneo 1800 anos antes de Cristo. Sua esposa Sara não lhe podendo gerar um filho, convenceu-o a se deitar com a escrava Hagar, que lhe gerou Ismael. Mas Deus concebeu a Sara o dom da maternidade já na velhice, e ela gerou Isaac aos noventa anos. Com o nascimento do filho, Sara convence Abraão a mandar Hagar e Ismael embora, assegurando assim, a herança de Isaac. Assim é feito, expulsos por Abraão, Hagar e o filho seguem para o deserto de Bersabéia. Deus guia os passos da escrava até a Arábia e promete-lhe que o seu filho seria pai de uma grande nação. De Ismael surgiria a linhagem do profeta Maomé, fundador do islamismo seiscentos anos depois do nascimento de Cristo. Da linhagem de Isaac surgem os gêmeos Esaú e Jacó. Através de um ardil, Jacó compra a primogenitura ao irmão Esaú, tem a bênção de Isaac e torna-se Israel, pai de doze filhos, que dariam origem às 12 tribos dos israelitas e ao povo hebreu. A saga do povo judeu através dos séculos é voltada para as promessas de um povo eleito por Deus e separados dos outros povos, para que não se contaminem com falsas adorações e falsos deuses. O Deus de Israel é Único e não admite idolatria. Promete a Abraão uma descendência próspera e com ele faz a aliança, selada pela circuncisão dos seus varões, diferenciando-os das outras nações. O pacto é renovado através de Moisés e da conquista da terra prometida e da criação de uma série de leis que o hebreu deve cumprir para que se mantenha puro e continue com o privilégio de ser o povo escolhido de Deus. Mas o povo israelita muitas vezes fugiu ao cumprimento das leis mosaicas. A cada traição às leis são castigados e entregues a diversos povos que os dominam através dos séculos. O pacto é renovado na casa do rei Davi, da sua linhagem cumprir-se-ia a profecia messiânica do rei dos reis, que surgiria e elevaria o povo de Israel diante dos seus opressores. Povo eleito de Deus, através do messias alcançariam a paz e a felicidade prometidas , e através deles se estenderia para toda a humanidade. A PALESTINA NA ÉPOCA DE CRISTO Jesus nasce na Palestina entre o ano 6 ou 7 a.C., numa época conturbada da dominação romanaao
povo judeu. Por esta ocasião encontramos as facções dos saduceus, que controlavam o Templo e eram mais condescendentes em sua interpretação da Lei; dos fariseus, mais radicais e mais austeros, usavam a tradição oral para impor minuciosamente os aspectos da Lei na vida judaica, são radicalmente contra o domínio romano. Há ainda as seitas austeras e fanáticas, como os essênios e os zelotes. Os zelotes desprezavam não só os romanos, como os judeus que com eles colaboravam. Promoviam o terrorismo como forma de luta contra o domínio romano e os seus impostos e opressão. Enviavam assassinos conhecidos como sicários (homens do punhal), que mesclados multidão, assassinavam os seus inimigos. Durante os primeiros trinta anos da vida de Cristo, há poucas referências sobre as suas ações. Sua pregação começa justamente nessa idade. Após ser batizado por João Batista, apresenta-se como o _Messias_ (ungido) vociferado pelos profetas. Profundo conhecedor da Lei, usa de metáforas e parábolas para se identificar como o ungido e expandir os seus pensamentos. Cristo contesta a mecanização da Lei, mas jamais a renega. Jamais renega a sua condição de judeu ou demonstra que veio para criar uma nova religião, ele veio paracumprir
a função do judaísmo e às suas profecias. Chancela as leis mosaicas e acrescenta “_amai-vos uns aos outros como a ti mesmo_”. Critica a forma colaboracionista dos saduceus com as forças dominantes vigentes e como conduzem o Templo. Numa terra de convulsão política e religiosa, é visto pelas seitas como um homem carismático e de forte influência sobre os hebreus, e com isto, como aquele que vai conduzir Israel à liberdade e contra o domínio de Roma. Mas Cristo rejeita a idéia de conduzir o povo à guerra contra a opressão romana, separa o estado do da religião, “_a César o que é de César_”. A sua forma pacifista desagrada aos zelotes, sedentos pela revolução e extermínio dos romanos e seus domínios em terras israelitas. Com um idealismo considerado historicamente lunático, declara-se o mensageiro de um novo reino espiritual que viria a partir de então. É acusado de blasfêmia por se dizer o filho de Deus e vociferar a destruição do Templo. Em um acordo entre os saduceus e os romanos, é julgado e crucificado. Segundo a tradição, ressuscita em um corpo diferente, mas reconhecido por seus apóstolos, cumprindo todas as profecias. O CRISTIANISMO DEPOIS DE CRISTO Após a sua morte e à propagação das suas idéias por seus apóstolos, Yeshua torna-se _Jesus_, seu nome em grego, o _Cristo_ (ungido em grego). Apesar do domínio romano, o grego é a línguamais
difundida
no mundo antigo, e os relatos sobre a vida de Cristo seriam escritos em aramaico ou grego. Quatro evangelhos são escritos para contar a saga de Jesus Cristo, três deles são sinóticos (_Marcos – Mateus_ e _Lucas_), assim chamados porque é possível fazer deles uma sinopse única de grande parte do seu conteúdo, pois não diferem uns dos outros. O evangelho de _João_ é o mais denso. Talvez por João ter sido o que atingiu a idade mais avançada dos apóstolos de Cristo, e por ter assistido à queda de Jerusalém, o cerco do povo hebreu, a tragédia que levou à morte de milhões de hebreus e à destruição do Segundo Templo pelos romanos no ano de 70, os seus escritos são vociferados em previsões catastróficas e na criação do próprio livro do Apocalipse. Com a destruição do Templo em Jerusalém, há a diáspora judaica pelo mundo e o abandono da terra prometida. Os seguidores de Cristo surgem como uma nova seita no mundo antigo. Seguem os ensinamentos de Cristo e as leis mosaicas, com a crença em um só Deus e no Messias, rejeitam a idolatria e os sacrifícios aos deuses. Paulo de Tarso converte-se ao cristianismo e a partir dos seus conceitos, é o primeiro a rejeitar a idéia de que para ser cristão primeiro tem que se ser judeu, o que contraria os primeiros judeus que seguem os ensinamentos de Cristo. É neste momento que há uma ruptura com o judaísmo e a consolidação de uma seita cristã. Em Roma os judeus são vistos como uma nação, mas os cristãos como uma seita incômoda que se alastra. Começa a perseguição aos cristãos, o que gera a consolidação de uma nova religião. Judeu praticante da Lei, Cristo surge para consolidar o judaísmo. A partir dele a religião hebraica perde a sua função, já não se justifica a existência de um povo eleito para evidenciar a profecia da vinda de um messias. Com certeza que o fator condenatório da religião e a própria ameaça da sua extinção pelo referido messias, e por não ver naquele que assim se apresentava as evidências do rei profetizado, foram as razões que influenciaram os saduceus a negociar com os romanos o julgamento e a condenação que resultaram na morte de Jesus Cristo, justificada pelo sumo sacerdote Caifás : “_É de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação toda._” Sacrificando Cristo, os saduceus garantiram a sobrevivência do judaísmo como religião e do seu objetivo de esperar o cumprimento das profecias messiânicas que irão redimir a humanidade através dos filhos de Abraão. Mais de dois mil anos depois, há a pergunta que encontra ecos, mas jamais uma resposta definitiva, Cristo queria fundar uma nova religião? Em nenhum momento ele renegou a Lei, pelo contrário, citou-as como exemplo a ser seguido. TambémPaulo
de Tarso, judeu considerado o fundador do cristianismo, todas às vezes que não encontrava nas palavras de Cristo respostas para os questionamentos, buscava-as na Lei e no judaísmo. Após a conversão de Roma e à romanização do cristianismo primitivo, e a sua adaptação às antigas religiões pagãs do continente europeu, como o fortalecimento da figura de Maria substituindo as deusas pagãs, o judaísmo foi desaparecendo da igreja que era erguida em Roma. A imagem de Cristo torna-se européia, é transformado em um homem louro, de olhos azuis ou verdes, longe da figura física de um semita. Muitos dos judeus que foram convertidos voltam ao judaísmo diante da romanização do cristianismo. Surgem os dogmas medievais como os da Santíssima Trindade. Cristo deixa de ser o Messias judeu para se tornar a encarnação de Deus na terra. Judaísmo e cristianismo se tornam inconciliáveis. Para os judeus Deus é único e superior, não se iria materializar na forma humana. A citação medieval “_santa Maria mãe de Deus_” é vista como blasfêmia, uma simples mortal jamais poderia ser mãe do Deus Único de Abraão. O cristianismo só voltaria a resgatar algumas das suas características judaicas com a Reforma no século XVI. E novamente a pergunta: Proclamando-se o Messias, Cristo quis fundar uma nova religião ou cumprir o propósito do judaísmo? Se em nenhum momento Cristo deixou de auto-afirmar que era o Messias, provavelmente a segunda hipótese é a mais correta. Mas como há até os historiadores que duvidam que ele existiu, assim como duvidam da existência de Abraão, como não duvidar da sua condição messiânica? A história e a fé muitas vezes são inconciliáveis, cabe ao homem decidir por elas. Uma certeza é irrefutável, amado ou odiado, aceito ou rejeitado pelos homens e pela história, Yeshua Ben Yossef foi um dos mais ilustres judeus que Israel e as suas promessas de redimir o mundo geraram para a humanidade.TAGS: história
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Quinta-feira, 26 de Novembro de 2009 O MONTE DOS VENDAVAIS - EMILY BRONTËQuando
“_O Morro dos Ventos Uivantes_” – “_Wuthering Heights_” no título original – foi publicado, em 1847, chocou a conservadora sociedade inglesa, diante de uma história de amor instigante, que quebrava com todos os estilos da época. O amor era retratado à flor da pele e do ódio, na sua mais selvagem concepção, descrito em páginas de atmosfera arrebatadora, onde a crueldade humana é relatada de forma explícita, debatendo-se com a sensualidade e os sentimentos, a moral vigente e a moral imposta, feita pelos traumas e pelo desejo da vingança, entre momentos ternos ou de pura violência cotidiana, arraigados na falta de contemplação diante da brutalidadehumana.
Emily Brontë, mulher taciturna e introspectiva, revelou nas páginas da sua obra-prima uma criatura explosiva, além do seu tempo e das suas concepções morais. “_O Morro dos Ventos Uivantes_” não debate a moralidade da época, mas a desfaz diante dos sentimentos incontroláveis da mente humana, arrebatada pela falta de razão e pelos impulsos das paixões. Heathcliff, a personagem central masculina, é o próprio anti-herói, movido pelo amor que tem por Catherine e pelo desejo de vingança aos que o humilhou pela vida e contribuíram para a perda física deste amor. No seu mundo não há limites para a crueldade, ele usa da tortura física e mental para destruir todos que se lhe puseram à frente. Nada o detém, a não ser o seu amor incondicional por Catherine, amor que vence à morte e ao tempo, mas que também é responsável por sua degradação moral, loucura e morte física. Heathcliff é uma das personagens mais inquietantes da literatura universal. Desperta ódio e paixão entre os leitores, é a própria essência bruta de todos os sentimentos. “_O Morro dos Ventos Uivantes_” foi tido como maldito quando do seu lançamento, com severas críticas à autora, que se escondia sob um pseudônimo masculino. Para muitos críticos era impossível uma história tão densa ter saído da mente de uma mulher, vista por alguns como se tivesse um demônio dentro de si para criar tão amoral personagem. Ao contrário de “Jane Eyre” e “_Agnes Grey_”, romances de Charlotte Brontë e Anne Brontë respectivamente, irmãs da autora, que se tornaram sucesso de critica e leitores, “_O Morro dos Ventos Uivantes_” sofreu com a rejeição dos leitores ingleses, que não sabiam onde situar a obra, com sua trama complexa transitando entre um romantismo desconstruído e um realismo silvestre. “_O Morro dos Ventos Uivantes_” causou não só um mal-estar nos leitores, como no próprio gênero literário da época, com sua temática e estilo despidos do maniqueísmo moralista vigente, onde os bons e os maus não se distinguiam entre as personagens. O livro quebrava com o retrato literário do seu tempo, fugia ao romantismo estilizado e sucumbia ao realismo literário puro, desfazendo o momento literário em que foi escrito. Com o passar do tempo, quebraram-se os preconceitos e “_O Morro dos Ventos Uivantes_” tornou-se imprescindível, a obra mais importante escrita na literatura inglesa daquele tempo. Obra única de Emily Brontë, ela não sobreviveria para ver a sua história com o passar do tempo, ser classificada como uma das mais belas da literatura inglesa e universal; morreria um ano depois da suapublicação.
HEATHCLIFF, A CRIANÇA ÓRFÃ VINDA DAS RUAS“_O
Morro dos Ventos Uivantes_” narra de forma arrebatadora e apaixonante, a saga de Heathcliff, do seu amor e, principalmente, do seu ódio secular pela humanidade. A história atinge a duas gerações de personagens, inseridas em ambientes hostis, de paisagens sombrias, destiladas pelos ventos gelados dos invernos da Inglaterra, cuja paisagem tempestuosa traz os murmúrios das lembranças, os mistérios de uma existência dilacerada pelo amor e pelo ódio. A narrativa é feita por uma personagem neutra, o Sr. Lockwood, o novo inquilino da granja _Thrush Cross_ (Granja da Cruz), que em um dia de tempestade de neve, decide fazer uma visita de cortesia ao seu senhorio e vizinho, Heathcliff, morador de _Wuthering Heights_. Recebido com frieza, quase com hostilidade, o visitante depara-se com Heathcliff e um casal de jovens, que lhe desperta a curiosidade. É a partir desta visita, que Lockwood detém-se em saber mais sobre aquelas personagens, para isto conta com a velha governanta Ellen Dean, conhecida por Nelly, personagem que servira a duas geraçõesdaquela família.
Nelly Dean, que segundo alguns historiadores, foi uma singela homenagem de Emily Brontë à fiel empregada da sua casa, Thabitha, ou Taby. Persuadida por Lockwood, Nelly, testemunha ocular de tudo que se passou naquelas terras, passa a narrar para o inquilino a história de Heathcliff e de todos que o ladearam. O lapso do tempo é feito através das lembranças de Nelly, que retroage, voltando ao momento em que o dono de _Wuthering Heights_, o Sr. Earnshaw, regressa de uma das suas viagens a Liverpool, trazendo consigo um menino órfão de sete anos, que encontrara faminto e abandonado nas ruas da cidade. Era Heathcliff, uma criança obscura, cuja origem não nos é revelada. De aspecto assustado, mas sombrio, o menino é visto por todos os habitantes da casa como um cigano bastardo. A chegada de Heathcliff ainda menino a _Wuthering Heights_, embora menosprezada por todos, traz o presságio definitivo das mudanças que transformariam o lugar e atingiriam todos os moradores. O Sr. Earnshaw tem dois filhos, Hindley, já um rapazinho, e Catherine, que possui pouca diferença de idade de Heathcliff. O temperamento do patriarca é rude, feito na solidão dos ventos daquele lugar isolado, sem qualquer lapidação cultural. Sua generosidade é fugaz, mas existente. Decide adotar Heathcliff, a ele afeiçoando-se e identificando-se com o seu temperamento bruto. Esta identificação com Heathcliff afasta o Sr. Earnshaw de Hindley, que se sente preterido ao amor do pai. Hindley passa a nutrir um ódio reprimido ao órfão, sentimento que causaria estragos indeléveis, responsáveis por uma amargura ressentida que no futuro traria dor a ele e aos seus descendentes. Ao contrário do irmão, Catherine nutre um fascínio por Heathcliff, unindo o seu destino ao do estranho numa espécie de pacto dissimulado, beirando ao amor eterno e à redenção da alma e da moral. Heathcliff idolatra Cathy, fazendo dela a sua referência aos sentimentos. Ambos desenvolvem uma cumplicidade que só eles percebem, tecendo-a com frágeis fragmentos do amor e da volúpia caprichosa. O AMOR ENTRE HEATHCLIFF E CATHERINEO
ódio contido de Hindley vem à tona quando o Sr. Earnshaw morre. Como herdeiro de _Wuthering Heights_, será ele quem ditará as regras do lugar, comandará os servos e o destino de todos que ali vivem. De uma forma vingativa, Hindley submete Heathcliff a grandes humilhações, impedindo a sua educação, impregnando a sua alma com a rudeza perene, quase selvagem. Submete o órfão a todos os trabalhos servise degradantes.
A amizade exacerbada entre Catherine e Heathcliff incomoda profundamente a Hindley, que tenta afastá-los de todas as formas. Para isto investe nos maus tratos ao rapaz, tratando-o injustamente, criando barreiras e evidenciando as diferenças de classe social e deeducação.
No meio da paisagem inóspita do morro dos ventos uivantes, surge vizinho, a granja _Trush Cross_, habitada pelos Linton, entre eles os irmãos Edgar Linton e Isabella Linton, que tinham idades aproximadas as de Heathcliff e Catherine. Gentis e educados, os irmãos Linton aproximam-se de Catherine. Esta amizade é incentivada por Hindley, que quer ver a irmã afastada da rudeza de Heathcliff. O tempo passa, Catherine e Heathcliff crescem, nutrindo uma paixão incontida um pelo outro. À medida que crescem, as diferenças culturais entre ambos aumentam, sendo mais evidenciadas diante da amizade de Catherine com os irmãos Linton. Se as diferenças são claras, os sentimentos entre eles tornam-se obscuros, aflorando entre desejos contidos e uma paixão avassaladora. Hindley fizera de Heathcliff um ser selvagem, com umadelicadeza
voltada apenas para Catherine. Diante da brutalidade do amado, ela vacila com os sentimentos. Catherine é voluntariosa, dona de uma índole instável e de uma moral construída sem grandes alicerces, fazendo com que a ventania a derrube. Quanto mais ama Heathcliff, mais vê a sua vida encerrada em um isolamento social, longe da convivência, sua personalidade apesar de forte, perde-se nas indecisões que se lhe apresentam a vida e as condições sociais. Entre as indecisões de Catherine, Edgar Linton surge como jovem apaixonado e disposto a desposá-la. Dividida entre a quase selvageria de Heathcliff e a ternura educada de Edgar, entre as origens ciganas de um e a riqueza familiar de outro, Catherine opta pela segurança social. Decide-se pelo jovem Linton, aceitando o seu pedido decasamento.
Heathcliff sofre diante da ameaça de perder a mulher que ama. Silenciosamente, ouve Catherine confessar a Nelly que ela se decidira por Edgar Linton, apenas por achar que Heathcliff não era um cavalheiro, que um casamento com ele estragaria a sua reputação, minando a sua real posição social. Heathcliff sente-se ferido de morte. Decide deixar _Wuthering Heights_, desaparecendo no meio da noite. Catherine sofre com a partida do amado, para amenizar a dor, abraça o destino que escolhera, casando-se com Edgar Linton, indo viver na granja do marido. O vento cortante sopra sobre _Wuthering Heights_, já lá não habitam Heathcliff e Catherine. FRAGMENTAÇÃO EMOCIONAL E MORTE DE CATHERINEO
tempo passa monótono, quase feliz para Catherine, que vive submersa em sua inquietação íntima. Sua vida de casada sofre a violência dos ventos, quando estes trazem de volta Heathcliff. O retorno não é de um homem rude, mas de um cavalheiro rico e dissimulador dossentimentos.
A autora não revela por onde andou Heathcliff, muito menos como alcançara fortuna, deixando no ar não só um mistério, como a certeza de que a personagem enriquecera através de negócios escusos e poucos esclarecedores. Debaixo da máscara de cavalheiro, Heathcliff ocultava o homem amargurado, disposto a vingar-se de todos que lhe maltrataram, principalmente de Hindley e de Edgar Linton. Catherine deixa-se seduzir pelo novo Heathcliff, agora um cavalheiro digno da sua condição social. Mas ela já está casada com Linton, uma verdade que não pode esquecer. Inconseqüente e voluntariosa, Catherine quer os dois homens da sua vida ao seu lado. Mas os mundos de Heathcliff e Linton são inconciliáveis, ambos sentem ciúmes um do outro, e a própria Catherine é a razão do distanciamento que se interpõe em suas vidas. O frágil caráter emotivo de Catherine a desequilibra, ferindo o marido e a ela própria. A convivência entre a paixão devastadora de Heathcliff e o amor brando de Linton torna-se insuportável. A disputa psicológica entre os dois homens gera discussões, levando Catherine a um redemoinho emocional do qual não se consegue desvencilhar, responsável por sua debilitação mental e física. Catherine não resiste às contradições da sua vida, morrendo ao dar à luz a uma filha, fruto do seu casamento com Edgar Linton. Ao matar Catherine, a heroína da trama, no meio da história, Emily Brontë quebra com toda a estrutura do romance de gênero romântico, fazendo do seu livro a inovação de um estilo, sem classificá-lo em gênero literário algum, estabelecendo-o em uma verve atemporal, órfão do romantismo e do realismo do século XIX. A VINGANÇA IMPLACÁVEL CONTRA HINDLEY EARNSHAW E EDGAR LINTONA
morte de Catherine quebra o único vínculo que Heathcliff tinha com a sensibilidade e com os sentimentos humanos. A partir de então, tornar-se-á um algoz dos seus inimigos. Ver a amada morta desperta-lhe a fúria de um leão ferido. Heathcliff culpa Hindley e Edgar Linton pela morte da amada e, por ela ter sido dele afastada. Diante de todos, jura vingança aos dois. Já não existe Catherine, o motivo do seu amor e da sua contemplação; restam vivos aqueles que eram o motivo do seu ódio. Para começar a sua vingança, Heathcliff traça um plano dividido emdois atos:
Primeiro, vingar-se de Edgar. Aproxima-se de Isabella Linton, irmã de Edgar, seduzindo-a e com ela fugindo. Após a sedução, ele fará da vida da mulher um inferno, maltratando-a, desprezando-a e fazendo-a infeliz, até que definhe de tristeza. Isabella foge do marido, vivendo longe dele até a sua morte. Ela deixa um filho, o único herdeiro de Heathcliff, a quem chamou de Linton. O segundo ato do plano, vingar-se de Hindley. Para isto, volta a morar no morro dos ventos uivantes, na casa do seu inimigo, outrora algoz. Hindley tornara-se um bêbado após a morte da mulher, tornando-se endividado, tendo Heathcliff como o seu grande credor. Humilhado por Heathcliff, que lhe tomara todos os bens, Hindley morre na mais completa miséria, deixando um filho, Hareton. A vingança de Heathcliff está confirmada, ele torna-se o dono de _Wuthering Heights_, lugar que um dia o recebera como lar, onde conhecera o grande amor da sua vida e onde sofrera todas as humilhações. Daquele tempo restara a lembrança mórbida de Catherine, o seu amor fantasmagórico, que não lhe deixa à memória um só dia. O amor que o consome e destrói a sua vida e a de todos volta, é a força que encontra para seguir em frente, sendo o ódio o movimento vital que o faz caminhar. A vingança poderia ter encerrado após as mortes de Hindley e Edgar, mas ela continuaria, estender-se-ia sem perdão para a nova geração. DOIS FANTASMAS VAGAM PELO MORRO DOS VENTOS UIVANTESA
fúria vingativa de Heathcliff não conhece limites, estendendo-se nova geração, nascida dos enlaces das personagens durante a saga: Hareton Earnshaw, filho de Hindley Earnshaw; Catherine Linton, filha de Edgar Linton e Catherine; e, Linton, filho de Isabella e do próprio Heathcliff. Os três tornar-se-iam vítimas da vingança implacável de Heathcliff. hareton, o verdadeiro herdeiro de _Wuthering Heights_, cresceu sem a herança do pai, tornando-se um simples servo da casa, sofrendo de Heathcliff todas as humilhações que Hindley lhe impusera no passado. hareton cresce sem acesso à educação e a qualquer direito social, vivendo na mais completa servidão. Ironicamente, ele apegara-se a Heathcliff, não se apercebendo que era fruto de uma vingança, achando que o amo e senhor livrara-o da miséria deixada por um pai alcoólico, dando-lhe casa e proteção. Hareton torna-se fiel a Heathcliff, sendo a única pessoa que lhe tem afeto. Linton, o herdeiro de Heathcliff, é um jovem inseguro, de índole fraca e saúde debilitada. Viveu protegido pela mãe, longe do pai, até que esta morreu. Ao contrário de hareton, foi criado com todos os mimos e recebendo uma educação sofisticada. Foi arrebatado pelo pai logo que lhe morreu a mãe, odiando viver no ambiente sombrio e rural de _Wuthering Heights_. Sua fragilidade excessiva irrita Heathcliff, que tem planos para ele. Catherine Linton, a única filha de Catherine, herdara a beleza física da mãe, sendo parecida com ela. Criada pela doce Nelly, ela foi atraída da granja do pai para _Wuthering Heights_, diante da curiosidade de conhecer o primo Linton. A ela não se foi revelada a verdade sobre Heathcliff e à mãe morta. Linton, obrigado pelo pai, seduz a prima, com quem se casa. Esta união é o ápice da vingança de Heathcliff sobre Edgar Linton, que vê a sua única filha a ir viver na degradada casa de Earnshaw, agora pertencente ao seu maior inimigo. Quando Edgar Linton morre, a sua propriedade passa para as mãos de Linton, marido de Cathy. Mas Linton, covarde e desprovido de uma personalidade vincada, morre jovem, assim, o pai, Heathcliff, passa a ser tutor de Cathy e herdeiro da granja dos Linton. A sua vingança estava consolidada. Era senhor absoluto dos bens e das propriedades daqueles que outrora o humilhara. Cumprida a vingança final, nada resta aHeathcliff,
a não ser a lembrança obsessiva do fantasma de Catherine. Ele entrega-se cada vez mais a essas lembranças, tendo a razão tragada por elas. Heathcliff jamais deixa de ser um homem atormentado, vivera uma vida voltada para a paixão que sentira por Catherine. Amara e odiara com tanta intensidade, que perdera os limites morais, beirando à loucura. Seu amor incondicional por Catherine dera-lhe a intensidade destruidora dos que o ladeava e de si mesmo. A solidão final leva-o ao delírio de uma loucura anunciada, levando-o a morte. Como último desejo, é sepultado ao lado de Catherine, seu grande amor. Desejo que não choca os habitantes de Gimmenrton. Para os moradores do povoado, ambos eram sombrios, almas gêmeas e destrutivas, fantasmagóricos... Todos juram que eles emergem da sepultura, vagando pelas charnecas do morro, eternamente cortado pela ventania, sob ecos murmurantes... Ironicamente, no meio a tantas mortes, dor e destruição, a autora termina o livro com a esperança triunfante no amor inesperado de hareton e Cathy, que se casam, voltando a herdar o que lhes tirara a vingança de Heathcliff.EMILY BRONTË
Emily
Jane Brontë nasceu em Thornton, Yorkshire, na Inglaterra, em 30 de julho de 1818. Era a quinta filha do casal Patrick Brontë e Maria Branwell, em uma prole de cinco mulheres e um homem. Aos três anos ela perdeu a mãe, sendo criada pela Tia Branwell, que contou com a ajuda de uma empregada doméstica, Thabitha, carinhosamente chamada de Taby, de quem se afeiçoaria por toda a vida. Foi através das histórias de Taby que as irmãs Brontë puderam desenvolver as suas verves literárias, criando brincadeiras infantis repletas de personagens imaginárias. Em 1824, Emily e as suas três irmãs mais velhas foram enviadas pelo pai para estudar em Cowan Bridge. No ano seguinte, Maria, a irmã mais velha, foi acometida de febre e definhou até a morte, o mesmo acontecendo com Elizabeth, um mês depois. Temendo pela saúde das filhas em Cowan Bridge, Patrick Brontë as trouxe de volta para casa. Nos serões em casa, os irmãos Brontë costumavam ler em voz alta “_As Mil e Uma Noites_”. Quando o irmão Patrick Branwell ganhou do pai uma caixa com soldadinhos de chumbo, Charlotte, Emily e Anne desenvolveram a partir deles, histórias que registraram em forma de jornal, ao qual chamaram de _Angria_. Anne e Emily criaram histórias, situando-as na ilha de Gondal. Dos quatro irmãos sobreviventes, três, Emily, Charlotte e Anne tornaram-se escritoras, enquanto que Patrick Branwell tornou-se um talentoso pintor, é dele o famoso retrato de perfil de Emily Brontë e o das três irmãs Brontë; mas o alcoolismo destruiu uma carreira promissora, e Branwell morreria prematuramente, aos 31 anos, emsetembro de 1848.
Em 1846, Emily concordou em que Charlotte publicasse, sob pseudônimo, uma coletânea de poemas. Assim, em maio daquele ano, foi publicada uma coletânea de poemas de Currer Bell, Ellis Bell e Acton Bell, pseudônimos respectivamente,de
Charlotte Brontë, Emily Brontë e Anne Brontë. Naquele mesmo ano, os manuscritos de “_Agnes Grey_”, de Anne Brontë, e de “_O Morro dos Ventos Uivantes_”, de Emily Brontë, foram aceitos por umeditor.
Em 1847, Charlotte Brontë teve publicado, em outubro, o romance “_Jane Eyre_”, que entraria para sempre para a literatura inglesa. Em dezembro eram publicados “_O Morro dos Ventos Uivantes_”, de Emily Brontë, e “_Anne Grey_”, de Anne Brontë. A obra de Emily Brontë sofreu grande rejeição, enquanto que “_Jane Eyre_” tornou-se um grande sucesso na época. Emily Brontë morreu de tuberculose, aos trinta anos, em 19 de dezembro de 1848, três meses após a morte do irmão. Jamais imaginou que o seu único romance escrito transformar-se-ia em um dos mais consagrados da literatura inglesa e universal. A escritora foi enterrada na igreja de St. Michael and Angels Cemetery, em Haworth, Yorkshire, lugar que viveu desde os dois anos de idade, dele saindo por curtos períodos. Sua personalidade aparentemente introspectiva, revelou-se infinita diante das personagens inesquecíveis de “_O Morro dos Ventos Uivantes_”. Ícone único da literatura inglesa, a obra teve várias adaptações para o cinema e traduções em diversaslínguas.
CRONOLOGIA
1812
– Casamento, em 29 de setembro, do reverendo Patrick Brontë comMaria Branwell.
1818 – Nasce em Thornton, Yorkshire, em 30 de julho, Emily Jane Brontë, filha do reverendo Patrick Brontë. 1820 – A família muda-se, em abril, para Haworth. 1821 – Morre a mãe de Emily, Maria Branwell. 1824 – Emily e as suas três irmãs vão estudar em Cowan Bridge. 1825 – Morre, em maio, a irmã Maria. Em junho morre outra irmã,Elizabeth.
1826 – As crianças ganham soldadinhos de chumbo de presente, que seriam o ponto de partida para os relatos de _Angria_ e _Gondal_. 1829 – Têm início os jornais de_ Angria_. 1831 – Charlotte, uma das irmãs Brontë, vai estudar em Roe Head. 1835 – O irmão Patrick, vai estudar em Londres. Charlotte e Emily partem para Roe Head, a primeira como professora, a segunda comoaluna.
No mesmo ano, Emily volta para Haworth. 1837 – Emily vai lecionar em Law Hill, mas volta para casa algunsmeses depois.
1842 – Emily viaja com Charlotte para Bruxelas, em fevereiro, retornando à Inglaterra em novembro. 1846 – Em maio é publicada a coletânea de poema de Currer Bell, Ellis Bell e Acton Bell, pseudônimos respectivamente, de Charlotte Brontë, Emily Brontë e Anne Brontë. Os manuscritos de “_Agnes Grey_”, de Anne Brontë, e de “_O Morro dos Ventos Uivantes_”, de Emily Brontë, são aceitos. 1847 – Publicado em outubro, “_Jane Eyre_”, de Charlotte Brontë. Publicados em dezembro, “_O Morro dos Ventos Uivantes_”, de Emily Brontë, e “_Anne Grey_”, de Anne Brontë. 1848 – Morre, em 24 de setembro, Patrick Branwell Brontë, irmão da escritora. Morre em 19 de dezembro, de tuberculose, Emily Brontë.TAGS: literatura
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Sábado, 14 de Novembro de 2009 O MUNDO E A CRISE DO PETRÓLEO DE 1973Descoberto
no início do século XX, o petróleo passou a ser o principal fornecedor de energia, gerando um progresso acelerado aos países que se industrializaram e formaram grandes potências econômicas. Se o petróleo era o elemento principal da economia das grandes potências, originando progresso e riqueza, o mesmo não acontecia aos países que produziam o precioso ouro negro. O Oriente Médio tornou-se desde o fim da Primeira Guerra Mundial, o principal produtor de petróleo do mundo, o que levou à cobiça dos europeus, que dominaram a região por décadas, colonizando e explorando as suas riquezas. Aos poucos, os países do Oriente Médio foram adquirindo a sua independência política, mas sem ter o controle da sua principal riqueza, que até 1970, tinha mais de 90% da sua produção petrolífera controlada por sete companhias, as chamadas “_SeteIrmãs_”.
Nas décadas de 1960 e 1970, a economia mundial estava totalmente dependente do petróleo, sem ele não havia progresso. Cientes desta dependência, os países produtores decidiram unir suas forças, rompendo com o cartel das “_Sete Irmãs_”. Surgia a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a OPEP (OPEC, em inglês), e a luta contra as grandes companhias petrolíferas começou a ser travada, com vitórias lentas, mas definitivas, para os países produtores do óleo negro. Não só interesses econômicos moveram esta luta, mas principalmente, políticos. O conflito entre árabes e israelenses, marcados pela Guerra dos Seis Dias, em 1967, e pela Guerra do Yom Kippur, em 1973, em que os árabes sofreram derrotas e humilhações indeléveis, foi o principal fator que fez do petróleo uma arma econômica. Para pressionar os Estados Unidos e a Europa, que apoiaram Israel nos conflitos, os árabes uniram-se, reduzindo a produção do petróleo, forçando o aumento drástico no preço do barril, originando a maior crise do petróleo, que afetou toda a economia mundial. A Europa e o Japão foram os que mais sofreram, sendo obrigados a racionar energia. Os Estados Unidos travaram o consumo e investiu nas suas reservas. Os países em desenvolvimento como o Brasil, foram os mais afetados, pois o encarecimento desta fonte de energia gerou um desequilíbrio nas suas frágeis economias. Com a crise petrolífera de 1973, encerrava-se o chamado “_Milagre Econômico Brasileiro_”, e o país entraria em colapso econômico, crise que se veio a agravar, só encerrando depois do fim da ditadura militar. A crise do petróleo de 1973 não seria a única, mais duas viriam, uma em 1979, com a queda do Xá Reza Pahlavi e a Revolução Islâmica Iraniana, outra em 1990, que deflagrou a Guerra do Golfo; mas seria a pior delas, pois só então o mundo apercebeu-se da dependência que tinha em relação ao petróleo e, de quem eram os verdadeiros donos do petróleo, ou seja, os países que o produziam e o exportavam. Desde então, os países buscaram alternativas ao petróleo, investindo em outras fontes de energia. E o mundo árabe passou a ter voz no cenário político internacional. A crise de 1973 pôs fim fartura do petróleo, iniciando à consciência de que o ouro negro era finito, e que o a sua extinção é uma questão de tempo.A CRIAÇÃO DA OPEP
Quando
descoberto no início do século XX, o petróleo passou a ser a fonte de energia mais utilizada pelas nações industrializadas. A sua produção estava restrita a poucos lugares do planeta, sendo o Oriente Médio, o principal produtor. Dominando pelos europeus, os países produtores não tinham direito algum sobre as suas riquezas naturais. Mesmo quando alcançaram a independência política, caíram no domínio absoluto das grandes companhias petrolíferas. Muitas vezes, menos de 10% do petróleo comercializado ficava no paísprodutor.
Somente a partir do fim da Segunda Guerra Mundial é que os países produtores de petróleo vão tomar consciência da exploração a que se submetiam, e da necessidade de reter a riqueza que se esvaía, beneficiando apenas as grandes companhias. Iniciou-se uma luta progressiva dos produtores petrolíferos, com poucos avanços durantedécadas.
Um fato marcante aconteceu em 1959, quando se reuniu na cidade do Cairo, no Egito, o Primeiro Congresso Árabe do Petróleo, contando com a participação da Venezuela. Durante o congresso, deliberou-se que os países produtores tivessem uma maior integração na indústria petrolífera e, que se criasse companhias nacionais que operariam ao lado das sociedades privadas. Naquele ano as grandes companhias impuseram uma redução de 18% sobre os preços de referência do petróleo do Oriente Médio. Sete grandes companhias, chamadas de “_Sete Irmãs_”, controlavam a produção do petróleo no mundo, sendo elas cinco americanas, a Standard Oil of New Jersey (conhecida pelo mundo como Esso e Exxon nos EUA), a Standard Oil of California (hoje parte da Chevron), a Gulf Oil (também parte da Chevron), a Mobil Oil e a Texaco; uma britânica, a British Petroleum; e, uma anglo-holandesa, a Royal Dutch-Shell. Em agosto de 1960, a Esso tomou a iniciativa de impor uma outra redução de 18% sobre os preços do petróleo, fazendo com que o preço do barril chegasse a um patamar inferior ao ano de 1953. Como reação à baixa no valor do barril do petróleo, os países produtores responderam com energia ao cartel dos consórcios internacionais, conclamando uma reunião em Bagdá, no Iraque, em 14 de setembro de 1960, da qual participaram representantes da Arábia Saudita, Iraque, Irã, Kuwait e Venezuela. Na reunião foi assinado o “_Convênio de Bagdá_”, documento que criou a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP). A organização definiu como objetivo principal do seu estatuto, a coordenação e unificação das políticas petroleiras dos países membros, determinando melhores meios de salvaguardarem seus interesses ante as companhias petrolíferas. Além dos cinco países fundadores, outros se juntaram a OPEP, constituindo 12 membros na época da crise, em 1973: Irã, Iraque, Arábia Saudita, Kuwait, Venezuela, Líbia, Argélia, Indonésia, Emirados Árabes, Nigéria, Qatar e Equador. Atualmente, 13 países são membros da OPEP, sendo Angola o décimo terceiro membro, que entrou para a organização em 2007. O Gabão fez parte da OPEP de 1975 a 1994, sendo um ex-membro. O Equador, que se tornou membro em 1973, deixou a organização em 1992, voltando a fazer parte dela em 2007. A participação da Indonésia está em processo de revisão, pois já não é considerado pela OPEP um país exportador de petróleo líquido. Com a formação da OPEP, uma nova página seria escrita na história do petróleo. Sua ascensão eliminaria futuramente, as tramas do monopólio das _Sete Irmãs_ no mercado de energia. Também transformaria o petróleo em arma de negociação entre as nações, interferindo e influenciando em vários conflitos mundiais surgidos no Oriente Médio ao longo das décadas. Mas as vitórias econômicas da OPEP só viriam a partir de 1970. Até lá, nacionalizações do petróleo e pressões econômicas sobre o mundo definiram a consolidação da OPEP como organização de peso. A GUERRA DE 1967, A OPAEP E O ACIDENTE DO OLEODUTO DE TAPLINE EM 1970Em
maio de 1967, Síria, Jordânia e Egito lideraram uma invasão a Israel, para tirar o Estado judaico do mapa. Explodia uma guerra que duraria apenas seis dias, mas que deixaria conseqüências históricas definitivas. Israel infligiria aos árabes a mais humilhante derrota de todos os tempos. Na Guerra dos Seis Dias, os israelenses tomariam aos egípcios a península do Sinai e a Faixa de Gaza; aos sírios as colinas de Golã; e, aos jordanianos, a Cisjordânia e Jerusalém. A derrota mostrou a fragilidade dos exércitos dos países árabes ante ao exército israelense. Além da derrota, o mundo árabe ressentiu-se do apoio explícito do mundo ocidental a Israel, excepcionalmente o apoio dos Estados Unidos. Em novembro, a Organização das Nações Unidas (ONU), aprovou a Resolução nº 242, condenando a invasão dos israelenses aos territórios árabes, pedindo a retirada imediata da zona de ocupação, além de conclamar uma solução justa para a questão dos refugiados palestinos. Apesar da resolução da ONU, não foi aplicado esforço algum para que ela fosse cumprida. No rebote da Guerra dos Seis Dias surgiu mais uma organização para defender os interesses dos produtores de petróleo, a Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (OPAEP). A organização foi fundada em 9 de janeiro de 1968, por um documento assinado entre países árabes, em Beirute, no Líbano. O acordo foi assinado pela Arábia Saudita, Líbia e Kuwait. Juntar-se-iam aos três países fundadores a Argélia, o Bahrein, os Emirados Árabes Unidos e o Qatar, em 1970; a Síria e o Iraque, em 1972; o Egito, em 1973; e, a Tunísia, em 1982, que deixaria a organização em 1986. A OPAEP só admite países árabes como membros. A 3 de maio de 1970, um pequeno acidente na Síria, que geraria a ruptura de um oleoduto, iniciaria a primeira retaliação dos árabes às grandes companhias petrolíferas, era o começo da grande crise petrolífera que culminaria em 1973. Até 1970, dez anos passados da fundação da OPEP, os resultados obtidos pelos países exportadores de petróleo foram restritos a um pequeno aumento de impostos pagos pelas companhias estrangeiras, que continuavam a controlar 80% das exportações de petróleo bruto e 90% da produção do Oriente Médio e da África do Norte. Médio Oriente e África possuíam 60% das reservas mundiais de petróleo, estando vinculados a contratos das grandes companhias, que previam a estas, mediante o pagamento de determinadas quantias, a concessão sem limites da exploração do óleo extraído do subsolo árabe. 97% deste óleo iam para as mãos das concessionárias a preços que se mantinham praticamente inalterados desde a Segunda Guerra Mundial. Naquele maio de 1970, um trator a operar na Síria, próximo ao oleoduto de Tapline (Trans Arabic Pipe Line), filial da Aramco (Arabian American Company), chocou-se contra as instalações por onde passavam, anualmente, 30 milhões de toneladas de petróleo, que vinham da Arábia Saudita com destino ao porto libanês de Sidon. O acidente parecia ser fácil de ser resolvido pelos diretores da Texaco, Standard Oil of Califórnia, Esso e Mobil Oil (as “_quatro_ _irmãs_” sócias da Aramco), bastaria um pedido de autorização para entrar no território sírio e reparar o oleoduto, um procedimento rotineiro nos campos petrolíferos. Inesperadamente, a autorização foi negada pelo governo sírio, que manteve o veto ao acesso a seu território por nove meses. O transtorno atingiu Europa Ocidental, que se viu subtraída de 60 mil barris de petróleo por dia, gerando grandes prejuízos econômicos. NACIONALIZAÇÕES DE EMPRESAS PETROLÍFERAS E AUMENTO DOS PREÇOS DOPETRÓLEO
Os
reveses dos exploradores de petróleo estavam apenas a começar, duas semanas após o acidente do Tapline, Argélia, Iraque e Líbia enviaram os seus ministros do petróleo a um encontro em Argel, que se decidiram unir contra as companhias petrolíferas internacionais, trazendo exigências como a revisão dos contratos, o aumento de preços e impostos sobre o óleo extraído dos seus subsolos. Os resultados do encontro surtiram efeito logo em julho, quando a Argélia aumentou os impostos sobre os lucros de uma das companhias francesas que exploravam o seu subsolo. No mesmo mês, a Líbia nacionalizou as companhias que distribuíam o seu petróleo, convocando a seguir, a Esso e a Occidental Petroleum a debaterem o aumento dos preços. O coronel Muammar Khaddafi, presidente líbio, intimidou a Occidental Petroleum a reduzir 100 mil toneladas diáriasde petróleo.
A união dos paises produtores de petróleo contra o truste das companhias internacionais aumentou o poder de barganha. Os três maiores campos petrolíferos do mundo estavam no golfo Pérsico, em El Ghuar, na Arábia Saudita; Borkan, no Kuwait; e Kirkut, no Iraque. Os três países decidem aumentar os impostos sobre os lucros dasconcessionárias.
Em novembro de 1970, Houari Boumédienne, presidente da Argélia, nacionalizou a Mobil Oil e a Newmont. Em dezembro, a OPEP reuniu-se em Caracas, na Venezuela, decidindo que a partir de então, o preço do petróleo seria unificado, eliminando assim, as diferenças que haviam de um país produtor para o outro. Os preços foram alinhados pelo que era praticado mais alto, sendo aumentados. Na reunião, constituíram ainda, um comitê especial para negociar com as sociedades petrolíferas em nome dos países do golfo Pérsico. O petróleo tornou-se mais caro, conseqüentemente, os produtos nos Estados Unidose na Europa.
Mas dois membros do comitê formado na reunião de Caracas, Ahmed Yamani, ministro saudita, e Jamshid Amouzegar, ministro iraniano; revelam à mídia do ocidente que vão moderar o debate a favor dos interesses dos norte-americanos. Irã e Arábia Saudita eram aliados tradicionais dos Estados Unidos, esta posição marcaria o inicio das divergências entre os países produtores de petróleo. As divergências entre os árabes, os conflitos árabe-israelense, e ganância das grandes potências em resolver os seus interesses, entrelaçavam-se de forma perigosa, começando a desenhar a crise dopetróleo.
O PRELÚDIO DA CRISE DE 1973A
derrota na Guerra dos Seis Dias, em 1967, deixou os países árabes feridos em seu orgulho, dispostos a uma revanche. Líderes egípcios como Gamal Abdel Nasser e o seu sucessor, Anwar Sadat, conclamavam que somente uma nova guerra poderia obrigar Israel a devolver os territórios anexados. Em 1971, Sadat vociferava que se os israelenses não deixassem a zona de ocupação até o fim do ano, deflagraria a guerra. As ameaças não se concretizaram naquele ano. Em fevereiro de 1971, as companhias petrolíferas internacionais são obrigadas a ceder, fazendo uma oferta superior às pretensões dos produtores: 35 centavos de dólar como referência do preço do barril de petróleo, com dois aumentos anuais correspondentes à inflação e à demanda; contra os 12 e 17 centavos de dólar por barril que a OPEP esperava. As concessionárias garantiram assim, os investimentos e o controle da produção, indo buscar o lucro exorbitante aos principais compradores do golfo Pérsico, a Europa e o Japão, que reféns do petróleo, arcaram com os aumentos na sua economia, pagando um grande preço social. Esta crise travou o crescimento dos japoneses e dos europeus, favorecendo os Estados Unidos, ameaçados pela concorrência nipônica e européia. Esta garantia das grandes companhias fez com que elas reinvestissem os lucros com a venda do petróleo em pesquisas de novas fontes de energia, satisfazendo os norte-americanos. As divergências entre os membros da OPEP precipitaram os acontecimentos. A Argélia e a Líbia foram as que mais protestaram contra as decisões, exigindo que as companhias fossem obrigadas a reinvestir maior parte dos lucros do petróleo nos países produtores. Diante do impasse, a Líbia terminou por privatizar a British Petroleum Company, composta pela Esso, Shell, Britsh Petroleum, Mobil Oil e Compagnie Française de Pétroles. A Argélia, por sua vez, nacionalizou as empresas petrolíferas francesas. Em 1972, realizou-se o Congresso Árabe do Petróleo, em Argel, onde os participantes recomendaram à OPEP que o petróleo fosse posto a serviço da nação árabe. Era o prelúdio do uso do petróleo como “arma econômica”, que seria usada no próximo conflito árabe contra Israel. A consciência desse poderio atingia todos os países árabes, o incentivo às nações produtoras de petróleo de apropriarem-se progressivamente das suas próprias riquezas alastrou-se. Era preciso valorizar esta riqueza e através dela, consolidar maior participação dos árabes na política internacional. Estes objetivos começariam a ser testados em outubro de 1973, quando explodiu uma nova guerra entre árabes e israelenses. DEFLAGRADA A GUERRA E A CRISEO
ano de 1973 foi marcado por encontros diplomáticos entre vários líderes árabes. Um encontro no Cairo, entre o presidente da Síria, Hafez Assad; o rei Hussein, da Jordânia; e, o monarca saudita Faiçal Ibn Abdul Aziz al Saud; despertou a curiosidade da imprensa ocidental, que vislumbrava uma possível ação militar contra Israel. A iminência da guerra aumentou quando o presidente egípcio Anwar Sadat, o líder argelino Houari Boumédienne e o presidente da organização de libertação da Palestina, Yasser Arafat, encontraram-se. Sucessivas reuniões das lideranças árabes precediam uma imensa nuvem de guerra no Médio Oriente. No dia 6 de outubro de 1973, as suspeitas são confirmadas, forças militares egípcias ocuparam, em seis horas, toda a margem oriental do canal de Suez. Simultaneamente, os sírios avançaram sobre as colinas de Golã. A luta bélica estava iniciada, era o feriado judaico do Yom Kippur, por isto o quarto conflito árabe-israelense ficou conhecido como a Guerra do Yom Kippur, ou a Guerra do Kippur-Ramadã. Os conflitos estenderam-se de 6 a 26 de outubro de 1973. A Guerra do Yom Kippur ficou caracterizada por misturar a política internacional com o petróleo. Os Estados árabes tinham a consciência da importância do petróleo na economia mundial, e de que eram os maiores produtores do ouro negro. Esta evolução na relação dos produtores com o petróleo, levou-os a ter maior autonomia ante a exploração das companhias petrolíferas e, maior força política nas questões internacionais. Enquanto violentos combates eram travados nos campos de luta, o Iraque decretava a nacionalização dos bens da Mobil Oil e da Esso, na Barash Petroleum Company (consórcio com a mesmacomposição
da já nacionalizada Iraq Petroleum Company), limitando parte dos interesses norte-americanos nas suas jazidas petrolíferas. A OPAEP, dez dias após o inicio da guerra, reuniu-se no Kuwait, decididos a usar o petróleo como arma de guerra. Na reunião foram tomadas medidas que reduziam a produção de óleo destinada aos Estados Unidos e demais países que apoiavam Israel. A decisão estava disposta a ir ao embargo total aos norte-americanos e aos países vistos pelos árabes como não amigos, como a Holanda, que apoiava abertamente Israel; a Rodésia; a África do Sul e Portugal. O mundo ocidental, especificamente os EUA, apoiavam Israel, mas necessitavam do petróleo árabe. As companhias petrolíferas norte-americanas pressionaram o governo de Washington a mudar de tática em relação à diplomacia que tinham com o Oriente Médio. A decisão da OPAEP de usar o petróleo como barganha política, exigiu que o mundo e os EUA apoiassem os árabes na Guerra do Yom Kippur, algo diplomaticamente impossível para aqueles países. Era o início das mudanças no jogo político econômico do petróleo, mostrando ao mundo que as relações internacionais entre produtores e consumidores atingiam um outro patamar. Os produtores começavam a controlar as suas jazidas, há décadas exploradas pelas companhias internacionais, obtendo finalmente, maiores benefícios econômicos e poder de barganha política para os seus interesses. A disposição dos árabes em usar o petróleo como arma poderosa, levou o mundo a uma grande crise econômica, em 1973, que ficou conhecida como a crise dopetróleo.
A CRISE DE 1973 E AS CONSEQÜÊNCIAS PARA O MUNDOO
uso do petróleo como arma de guerra teve conseqüências dramáticas para a economia dos paises que dele dependiam. A Europa consumia 80% do petróleo que provinha do Oriente Médio e o Japão 90%. Quando os árabes iniciaram o embargo do petróleo, reduzindo a produção até o limite oficial de 15% com variações de um produtor para o outro, os europeus foram obrigados a racionar combustível, impondo a proibição da circulação de veículos em dias definidos da semana; os japoneses fizeram reduções drásticas de consumo de energia, afetando a produtividade das suas indústrias. A crise atingiu aos países em desenvolvimento, considerados amigos pelos árabes, de forma indelével, já que se utilizavam do petróleo como fonte de energia barata, tendo o seu valor aumentado bruscamente. O Brasil recorreu ao racionamento de combustível, viu a mentira do chamado “_Milagre Econômico_” esvair-se, entrando em um dos períodos mais difíceis da sua economia. Curiosamente, o embargo que tinha como objetivo principal atingir os Estados Unidos, não consegue o propósito. Os Estados Unidos eram menos dependentes do petróleo árabe, tomando medidas de cautela relativas às reservas que possuíam e ao consumo. Foram beneficiados pelo freio nas economias européias e japonesa, concorrentes diretas dos seus produtos. O embargo aos norte-americanos foi suspenso em março de 1974. Um mês antes, Irã e Arábia Saudita, principais aliados árabes dos Estados Unidos, receberam uma considerável quantidade de aviões de guerra norte-americanos. Naquele ano, a Aramco aumentou os seus investimentos na Arábia Saudita de 500 para 800 milhões de dólares. As companhias petrolíferas, conhecidas por “_Sete Irmãs_”, tiveram grandes lucros com a crise, pois eram as únicas com condições de fazer os maiores lances no mercado negro do petróleo, dominando a produção e o transporte do produto árabe, vendendo-o por preços exorbitantes aos consumidores. Com a crise, as “_Sete Irmãs_” viram os seus lucros, em 1973, a atingirem um aumento de159%.
A alta explosiva nos preços do petróleo enriqueceu muitos países árabes, que viram a renda per capita subir para os 5 mil dólares anuais. Qatar, Kuwait, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Líbia, formaram o conjunto de paises novos ricos do Oriente Médio. A crise do petróleo de 1973 afetou o mundo inteiro. As conseqüências, em princípio daninhas para a economia do mundo, foram, ao longo do tempo, benéficas e positivas. Foi a partir dela que se teve a consciência da dependência que a economia mundial tinha do petróleo, da fragilidade dessa dependência, e da necessidade de investir-se em outras fontes de energia. No Brasil, o desenvolvimento da utilização do álcool como combustível foi uma conseqüência da crise do petróleo. Se a crise petrolífera de 1973 serviu para a busca de novas fontes de energia no mundo, ela conseguiu aumentar as diferenças econômicas entre os países ricos e pobres, fomentando um quadro de desigualdade social por todo o planeta. Não solucionou o conflito entre árabes e israelenses, que continuam a insurgir revoltas e guerras na região, ceifando milhares de vidas.Após 1973, o mundo testemunharia mais duas grandes crises do petróleo, que continuou a ser usado como arma política: a de 1979, originada pela deposição do Xá Reza Pahlavi e a Revolução Islâmica, no Irã; e, a de 1991, desencadeada pela Guerra do Golfo. O petróleo continua a ser um grande provedor de energia, conseguindo movimentar a economia mundial. Os esforços para substituí-lo por outras fontes exigiram investimentos em estudos, com o objetivo de oferecer outras alternativas quando o ouro negro for esgotado. Esta consciência só foi possível graças à crise de 1973 e as suas conseqüências históricas, que marcaram os últimos anosdo século XX.
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Domingo, 1 de Novembro de 2009 OVOS FABERGÉ - O ÚLTIMO ESPLENDOR DA RÚSSIA CZARISTAA
Páscoa é a data litúrgica mais importante da Igreja Ortodoxa Russa. Momento de festejos e confraternizações, tendo como tradição a troca de ovos de galinha decorados, que representam o símbolo da vida renovada pela esperança. Quando o czar Alexandre III, em 1885, em comemoração à Páscoa, pediu ao joalheiro Peter Karl Fabergé, que fizesse uma jóia em forma de ovo para presentear a esposa, a czarina Maria Feodorovna, não sabia que se iria criar a tradição dos ovos imperiais Fabergé, verdadeiras obras de arte da joalheria universal, com peças únicas, de uma beleza imarcescível e de valorexorbitante.
A mística criada em torno dos ovos Fabergé sobreviveu ao fim do Império Russo, atravessou o tempo, mantendo-se como jóias raras e cobiçadas por colecionadores milionários. As peças têm cerca de 13 centímetros, feitas de metais de prata, ouro, níquel, platina ou cobre, decoradas com desenhos em detalhes coloridos, crivados de pedras preciosas como o quartzo, rubi, ágata, diamante, jade e lápis-lazúli. A genialidade de Fabergé criou mais de 140 tonalidades nas peças. Dentro dos ovos haviam miniaturas surpresas, confeccionadas por metais nobres e pedras preciosas. Os ovos Fabergé foram todos criados para os czares Alexandre III e Nicolau II, pai e filho respectivamente, no período de 1885 a 1917, sendo oferecidos durante a Páscoa entre os membros da família real. Com a Revolução Russa, de 1917, Fabergé exilou-se na Suíça. Após os conflitos revolucionários, os cobiçados ovos foram expropriados à família imperial, alguns foram perdidos durante as pilhagens aos palácios, não se sabendo onde estão. Tidos como expoentes da arte joalheira, os ovos imperiais Fabergé são hoje disputados por colecionadores de todo o mundo, alcançando grandes valores no mercado que negocia obras de arte. A Casa Fabergé persistiu ao tempo e às revoluções, sendo representada na França, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos e Brasil. Nos dias atuais, produz séries limitadas de ovos, reproduzindo os desenhos originais das jóias imperiais russas dos séculos XIX e XX. A lenda em torno dos ovos Fabergé é um dos enigmas dos tempos atuais. Sua beleza é ao mesmo tempo, o símbolo de uma opulência final, terminada com a tragédia do fuzilamento do último czar russo e de toda a família imperial. As jóias representam o último esplendor da dinastia czarista, então decadente e pronta para mergulhar nas trevas da história. A perfeição da beleza sedutora e mágica dos ovos ofusca a mística em torno dos extintos czares russos e da própria família Romanov. O Primeiro Ovo ImperialPeter
Karl Fabergé nasceu em 18 de maio de 1846 do antigo calendário Juliano, adotado na época pela Rússia, ou, em 30 de maio, do calendário Gregoriano. Teria como nome de batismo Karl Gustavoich Fabergé. O pai, Gustav Fabergé, estabeleceu um bem sucedido negócio de jóias, em 1942, em São Petersburgo, que lhe permitiu enviar o filho para estudar na França, Inglaterra, Alemanha e Itália. Aos 24 anos, em 1870, Fabergé herdou os negócios do pai, assumindo-os com maestria e, em pouco tempo, alcançando prestígio de grande joalheiro tanto na Rússia como em muitos países da Europa. Mediante ao reconhecimento do seu trabalho, Fabergé tornou-se o joalheiro oficial da corte imperial russa, em 1882. Em 1885, Fabergé recebeu do czar Alexandre III, a encomenda de uma jóia em forma de ovo, para que pudesse dar à czarina, Maria Feodorovna, como presente de Páscoa. A tradição russa de trocar ovos de galinha decorados na Páscoa é comum aos cristãos ortodoxos. Inspirado na decoração milenar dos ovos, Fabergé e os seus artesãos criaram uma jóia única, de rara beleza, que viria a ser o primeiro ovo imperial. Aparentemente, a jóia parecia um pequeno ovo, lavrado em ouro e platina, esmaltado, mas ao ser aberto, revelava o seu magnetismo de beleza e originalidade, em que se apresentava uma gema de ouro, que dentrotrazia uma
miniatura
em forma de galinha, com olhos de rubi e uma réplica em diamante dacoroa imperial.
A imperatriz ficou fascinada com a beleza da jóia, levando o czar a encomendar a Fabergé, todos os anos, durante a Páscoa, um ovo para presentear Maria Feodorovna. O imperador exigiu de Fabergé que cada ovo fosse único e que tivesse uma surpresa dentro. Iniciava-se assim, a tradição dos ovos Fabergé na corte czarista, que a cada ano, trazia uma temática diferente. A tradição permaneceria após a morte de Alexandre III, seguida pelo sucessor, seu filho Nicolau II, persistindo de 1885, até a queda do império, em 1917. A EXPANSÃO DA JOALHERIA FABERGÉPor
dez anos consecutivos, Alexandre III presenteou à mulher, durante a Páscoa, com um ovo Fabergé. O imperador morreria subitamente no final de 1894, sendo o “_Ovo Renascença_”, o último que deu aMaria Feodorovna.
Nicolau II, ao assumir o trono, continuou a tradição de oferecer um ovo Fabergé à família, durante a Páscoa. A coroação de Nicolau II seria tema de um dos ovos imperiais. O novo czar tomou como esposa Alexandra Feodorovna. Ano após ano, Fabergé e os seus artesãos surpreendiam com obras únicas, com motivos temáticos inesgotáveis, de genial criatividade e talento técnico beirando à perfeição. Os ovos Fabergé passaram a ser cobiçados por toda a corte czarista. Com a subida de Nicolau II ao poder, Fabergé passou a criar dois ovos anualmente, um para a nova czarina, Alexandra Feodorovna, outro para a mãe do czar, a viúva deAlexandre III.
Para não repetir os motivos temáticos dos ovos, Fabergé buscava inspiração no cotidiano da vida do czar e da czarina, e, em momentos da história da Rússia, exaltando obras, como a inauguração da estrada de ferro Transiberiana, que ligava Moscou à Sibéria, ou ainda, a geografia russa, como o Cáucaso. Os ovos imperiais Fabergé, foram mostrados ao mundo, pela primeira vez, em 1900, na Exposição Universal de Paris, na França. A exuberância e beleza das jóias fascinaram os europeus, ganhando prêmios e honras, fazendo com que as jóias Fabergé alcançassem prestígio e fama por todo o continente. Após a exposição de Paris, Fabergé ampliou consideravelmente os seus negócios, abrindo ateliês em Moscou, Kiev e Londres, em 1906. A supervisão desses ateliês era feita pelo próprio Fabergé. Neles eram produzidos baixelas de jantar, objetos de decoração, relógios, cigarreiras e isqueiros. Grandes artesãos faziam parte da equipe de Fabergé, entre eles Michael Perkhin, Erik August Kollin e Henrik Wigström, que trabalhavam com exclusividade na criação de um tema escolhido para a confecção de um ovo, que a cada ano ficavam mais exóticos, atingindo a perfeição técnica, o apogeu do artesanato na confecção de jóias. A partir da fama que despertou os ovos czaristas, Fabergé passou a ser procurado por dezenas de clientes particulares, ávidos em adquirir suas jóias imponentes. A QUEDA DO CZAR E O FECHAMENTO DA JOALHERIAEnquanto
a joalheria de Fabergé alcançava um apogeu, o Império Russo entrava em vertiginosa decadência. A criatividade genial de Fabergé exaltava os feitos do czar e da sua família, transformando-os em sofisticadas jóias de presentes de Páscoa; mas a insatisfação da população russa minava esta imagem de opulência, transformando Nicolau II em um dos homens mais impopulares da história do país. Cada vez mais distante do seu papel histórico, o czar viu-se isolado, mostrando-se fraco e de atitudes contraditórias. Envolveu a Rússia na Primeira Guerra Mundial, que ceifou milhares de vidas, trazendo grande humilhação para um povo carente e empobrecido. A guerra afetou a obra de Fabergé, que se viu obrigado a utilizar com mais freqüência, materiais semipreciosos. A Rússia foi assolada pela fome, pela morte dos seus cidadãos nos campos de batalha, pela caótica administração de um czar fraco e impopular. Enquanto a população faminta invadia e saqueava as grandes cidades, Fabergé confeccionava os últimos ovos imperiais. As jóias ligar-se-iam para sempre à imagem da decadência do Império Russo, paradoxalmente tornando visível a miséria da população e a opulência de umregime falido.
Diante do cenário conturbado que se vivia, com greves e revoltas populares que levariam à queda do czar, Fabergé decidiu pelo fechamento da sua joalheria, em 1916, vista pelos revolucionários como símbolo da abundância corrupta da monarquia czarista. No dia 15 de março de 1917, sem apoio e prestígio, tanto da aristocracia quanto da população, Nicolau II abdicou. O czar e a sua família foram presos e enviados para a Sibéria. A queda de Nicolau II, pouco antes da Páscoa de 1917, deixou os dois ovos imperiais daquele ano apenas na encomenda, eles tinham como temáticas “_Madeira de Karelia_” e “_Constelação_”. A MÍSTICA DOS OVOS FABERGÉCom
a Revolução Russa, extinguir-se-ia a tradição dos ovos imperiais Fabergé como presentes de Páscoa. Nicolau II entraria para a história como o último czar da Rússia. No dia 17 de julho de 1918, Nicolau II, a czarina Alexandra Feodorovna e os seus cinco filhos, foram executados por um exército furioso de revolucionários. Da tragédia dos Romanov, Maria Feodorovna, mãe de Nicolau II e viúva de Alexandre III, foi a única que escapou à vingança revolucionária, fugindo para a Inglaterra, a bordo do navio “_Marlborough_”. A rainha mãe ao fugir, levou consigo o “_Ovo da Ordem de São Jorge_”, o último que recebeu do filho, nasPáscoa de 1916.
Os outros ovos foram, em sua maioria, confiscados pelo novo governo estabelecido pela revolução, sendo enviados para o Kremlin, em Moscou. Muitos desapareceram durante os saques aos palácios dosRomanov.
Conseqüentemente, a Revolução Bolchevique transformou os ovos imperiais em objetos burgueses e sem função na nova história que se construía na Rússia, tirando-lhes o valor artístico e econômico, desvalorizando-os no mercado. Fabergé teve o filho Agathon preso pelos revolucionários. Sua libertação foi negociada quando aceitou avaliar as jóias e pedras preciosas confiscadas aos nobres. Após executar este trabalho, Agathon foi anistiado. Na Rússia bolchevique não havia mais espaço para Fabergé, considerado como autor de objetos fúteis e de luxuriante opulência burguesa. Sua arte de nada valeria para o ascetismo ideológico vigente. Fabergé exilou-se em Lausanne, na Suíça, vindo a falecer nesta cidade, em 1920. Decorridas muitas décadas da Revolução Russa, osovos
Fabergé passaram a fazer parte do imaginário, dos mistérios e lendas que foram criados em torno dos malogrados Romanov. Não só a beleza estética das peças, como o significado histórico que representam e à tragédia que permeiam misticamente, fizeram dos ovos imperiais tesouros exorbitantemente valiosos, disputados por colecionadores de todo o planeta. Quando leiloados, são vendidos por grandes fortunas. Em 1992, um ovo Fabergé leiloado em Nova York atingiu o valor de 3 milhões de dólares; em 1994, um outro, leiloado na Suíça, foi vendido por 5 milhões de dólares; em 2002, um ovo imperial foi arrematado em leilão da casa Christie’s por 9,6 milhões de dólares. O mais caro de todos os ovos Fabergé foi vendido em leilão da casa Sotheby’s, por mais de 24 milhões de dólares, ele traz a figura da carruagem em que a czarina Alexandra Feodorovna passeava por Moscou. Estimativas históricas registram que, entre 1885 e 1917, 56 ovos imperiais Fabergé teriam sido confeccionados. No fim do século XX, até 1998, 44 exemplares tinham sido localizados. Todas as peças foram feitas para os czares Alexandre III e Nicolau II. OVOS IMPERIAIS FABERGÉ _Ovos de Alexandre III presenteados à esposa, a imperatriz MariaFeodorovna:
_1885 – O Primeiro Ovo Imperial – Galinha 1886 – O Segundo Ovo - Galinha com pendente de safira * 1887 – Ovo Relógio da Serpente Azul 1888 – Ovo Querubim e Carruagem * 1889 – Ovo Nécessaire * 1890 – Ovo Palácios Dinamarqueses 1891 – Ovo Memória de Azov 1892 – Ovo Diamantes Incrustados 1893 – Ovo Cáucaso 1894 – Ovo Renascença _Ovos de Nicolau II presenteados à esposa, a imperatriz Alexandra Feodorovna, e à mãe Maria Feodorovna: _ 1895 – Ovo Botão de Rosa 1895 – Ovo Doze Monogramas 1896 – Ovo Miniaturas Giratórias 1896 – Ovo Alexandre III * 1897 – Ovo Coroação 1897 – Ovo Muget * 1898 – Ovo Pelicano de Ouro 1898 – Ovo Vale dos Lírios 1899 – Ovo Relógio Bouquet de Lírios 1899 – Ovo Amores Perfeitos 1900 – Ovo Ferrovia Transiberiana1900 – Ovo Cuco
1901 – Ovo Cesto de Flores Silvestres 1901 – Ovo Palácio Gatchina1902 – Ovo Trevo
1902 – Ovo Empire Nephrite * 1903 – Ovo Pedro, o Grande 1903 – Ovo Jubileu Dinamarquês * 1904 – Desconhecido ? 1904 – Desconhecido ? 1905 – Desconhecido ? 1905 – Desconhecido ? 1906 – Ovo Kremlin de Moscou1906 – Ovo Cisne
1907 – Ovo Grinaldas de Rosas 1907 – Ovo Troféu do Amor 1908 – Ovo Palácio Alexander1908 – Ovo Pavão
1909 – Ovo Iate
1909 – Ovo Comemorativo de Alexandre III * 1910 – Ovo Colunas 1910 – Ovo Eqüestre Alexandre III 1911 – Ovo 15º Aniversário 1911 – Ovo Loureiro 1912 – Ovo Czarevich 1912 – Ovo Napoleônico 1913 – Ovo Tricentenário Romanov 1913 – Ovo Inverno 1914 – Ovo Mosaico 1914 – Ovo Catarina a Grande ou Grisaille 1915 – Ovo Cruz Vermelha com Tríptico da Ressurreição 1915 – Ovo Cruz Vermelha com Retratos Imperiais 1916 – Ovo Militar em Aço 1916 – Ovo Ordem de São Jorge 1917 – Ovo Madeira de Karelia (apenas encomendado) 1917 – Ovo Constelação (apenas encomendado)* _Desaparecido_
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Sábado, 31 de Outubro de 2009 O GRANDE CIRCO MÍSTICO - DO POEMA AO ÁLBUMChico
Buarque e Edu Lobo uniram-se algumas vezes para criar trilhas sonoras sob encomenda para o teatro. Dos chamados álbuns de teatro da dupla, “_O Grande Circo Místico_”, de 1983, é o maior deles. O álbum é de uma grande sofisticação musical, trazendo uma poesia elaborada e de teor emotivo latente, arrebatado por um lirismo flamejante, poucas vezes alcançado dentro da MPB. O álbum surgiu de uma encomenda do Ballet Guaíra, do Paraná, em 1982. Sua inspiração veio do poema surrealista de Jorge de Lima, “_O Grande Circo Místico_”, escrito em 1938, e publicado no livro “_A Túnica Inconsútil_”. Jorge de Lima, poeta do parnasianismo e do modernismo, criou o poema inspirado em um fato real acontecido na Áustria, no século XIX. A partir do tema, Chico Buarque e Edu Lobo criaram a trilha sonora para a apresentação do balé, contando musicalmente, a saga da família austríaca proprietária do _Grande Circo Knieps_ e do amor entre um aristocrata e uma acrobata, que vagavam de cidade em cidade, apresentando os seus números circenses. O sucesso do espetáculo musical originou uma longa turnê e um álbum clássico e imprescindível da MPB, reunindo grandes cantores como Gal Costa, Gilberto Gil, Simone, Tim Maia, Jane Duboc, Zizi Possi, Chico Buarque e Edu Lobo. Lançado em 1983 pela Som Livre, o álbum trazia 11 canções; mais tarde, quando lançado em CD, Edu Lobo acrescentou mais duas canções instrumentais, “_Oremus_” e “_O Tatuador_”, que pelo condicionamento do formato em vinil, ficaram defora na época.
Sob o poema de Jorge de Lima, Chico Buarque criou letras de um conteúdo poético labirinticamente sedutor, casando-se com perfeição às músicas de Edu Lobo. Nenhuma das canções chegaram às paradas de sucessos, mas se tornaram irremediavelmente, clássicos conhecidos da MPB, como “_Beatriz_”, “_A História de Lily Braun_” e “_O Circo Místico_”. Muitas músicas alcançaram já no álbum, interpretações definitivas, apesar de várias revisitações futuras e diversificadas. “_O Grande Circo Místico_” dilui-se mesclado à música, à poesia, ao teatro e ao circo; trazendo a emoção que transporta o mais “ardoroso espectador” numa viagem lúdica e onírica até a última faixa. BEATRIZ, BELA E COMPLEXA“_O
Grande Circo Místico_” foi lançado em meados de 1983. Trazia um formato de álbum sofisticado, com um encarte luxuoso, com desenhos de Naum Alves de Souza para cada canção, além de ilustrar a capa. A direção artística era de Edu Lobo, que dividia os arranjos comChico de Moraes.
Chico Buarque, que cinco anos antes encantara com a trilha sonora de “_A Ópera do Malandro_”, voltou com poemas complexos, lingüisticamente mais delicados, deixando as questões sociais e passionais dos personagens da sua ópera, para mergulhar nas mais profundas angústias do ser humano, dando a dimensão mais suave do balé, sem perder a emoção latente das palavras. O álbum começa com a instrumental “_ABERTURA DO CIRCO_” (Edu Lobo), numa canção que se inicia suave e densa, ao mesmo tempo, como se fosse explodir a atmosfera mística, o que acontece quando rompe o bombo, trazendo instrumentos que revivem as marchinhas circenses. O espetáculo estava apenas a começar, pronto para tragar o mais exigente dos ouvintes. Passada a euforia da abertura, a voz de Milton Nascimento surge quente, como se rasgasse uma cortina à meia luz, cantando a mais emblemática das canções do álbum, “_BEATRIZ_” (Chico Buarque – Edu Lobo). No poema de Jorge de Lima existia a personagem Agnes, a equilibrista. Chico Buarque não conseguiu criar sobre o nome, mudou-o para Beatriz, transformando-a de equilibrista em atriz. Assim, em uma homenagem a Beatrice Portinari, de Dante, ele a pôs no sétimo céu, fazendo uma das suas mais sofisticadas canções. “_Beatriz_” traz intervalos melódicos, modulações e exige extensão vocal, que faz dela uma das mais difíceis canções de ser interpretada. Milton Nascimento consegue a perfeição dentro de tão inóspito terreno, fazendo uma interpretação definitiva. Na década de noventa, a canção foi escolhida para uma das faixas de um song book em homenagem a Edu Lobo, a escolha da intérprete recaiu sob Gal Costa, outra cantora de extensão vocal insuperável! Alguns aventureiros tentaram desastrosamente, interpretar "_Beatriz_", como Ana Carolina, mas caíram no grotesco da pretensão. Acompanhado apenas pelo piano de Cristóvão Bastos, Milton Nascimento fez da canção o apogeu do disco, navegando em uma valsa complexa e existencialista. As cordas foram inseridas posteriormente pelo arranjador Chico de Moraes. Edu Lobo explicaria mais tarde, que a nota mais grave da canção cai na palavra “chão” (“_Me ensina a não andar com os pés no CHÃO_”) e a mais aguda na palavra “céu” (“_Se ela despencar do CÉU_”). “_Beatriz_” é um poema de delicada beleza, fazendouma
metáfora aguda da vida de uma atriz. “_Beatriz_” é o sonho da mulher inatingível, ao mesmo tempo, é a maquiagem do rosto, a sombra da vida diante da arte, é a própria metáfora da realidade, travestida pelos palcos. Sim, me leva para sempre, Beatriz Me ensina a não andar com os pés no chão Para sempre é sempre por um triz Ai, diz quantos desastres tem na minha mão Diz se é perigoso a gente ser feliz Depois de passar pelos labirintos de “_Beatriz_”, o álbum segue com “_VALSA DOS CLOWNS_” (Chico Buarque – Edu Lobo). A canção mergulha no universo do palhaço, visto tradicionalmente como um homem de rosto triste, escondido atrás de um rosto pintado. Entre simulacros de vida, somos transportados para o um frágil mundo chapliniano, como se fosse desenhar Carlitos com o seu olhar caído. Jane Duboc, cantora em grande evidência na época, foi a escolhida para interpretar a canção, o que faz com delicadeza e sutilsuavidade.
DA OPERETA AO BLUES
“_OPERETA
DO CASAMENTO_” (Chico Buarque – Edu Lobo), é um dos momentos mais densos do álbum. Interpretada pelo coro composto por Regininha e Zé Luiz (que cantam os solos da música), Márcia Ruiz, Luna, Maucha Adnet, Rosa Lobo, Verônica Sabino, Chico Adnet, Dalmo Medeiros, Márcio Lott, Paulinho Pauleira, Paulo Roberto e Ronald Vale; a canção assume a sua dimensão de opereta, revelando os costumes de um casamento conturbado, a honra defendida na mancha de sangue sobre o lençol nupcial, simbolizando a posse, sintetizada na quebra do hímen. Segue como uma saga, em que se casa, perde-se pelas armadilhas da vida, sofre-se com a desagregação moral do mundo, mas jamais se abandona a essência de cada um, refletida no palco, no espetáculo que não pode parar por dor alguma, por mais pungente que seja. Chora-se no intervalo, brilha-se no espetáculo. Os versos são densos, quase cruéis, porque a vida do artista de circo é uma ilusão da dor e da felicidade, mescladas num só ato, sem que jamaisuma revele a outra.
Do pudor da noiva a bandeira Após a noite primeira Desfraldava-se ao sol A sua virtude escarlate Igual brasão de tomate Enobrecendo o lençol O álbum atinge outro ápice de sofisticação com “_A HISTÓRIA DE LILY BRAUN_” (Chico Buarque – Edu Lobo), que se transforma em um delicioso blues magistralmente interpretado por Gal Costa.Chico
Buarque usa de rimas com palavras em inglês e em português, elevando a canção de Edu Lobo, transformando-a em um dos momentos mais luxuosos do álbum. Com malícia e sedução, a voz de Gal Costa vai além do lírico, suavizando a ironia das palavras, transformando-as em doces e ardis convites para o amor. Lily Braun é a estrela seduzida pelo espectador, que subiu ao palco e arrebatou-a para o seu espetáculo particular. Entre rosas e poemas, ela é levada ao altar, perdendo o brilho de estrela e de mulher apaixonada no cotidiano de um casamento. Doce ironia, adorável blues, incomparável Gal Costa.Nunca mais romance
Nunca mais cinema
Nunca mais drinque no dancingNunca mais cheese
Nunca uma espelunca
Uma rosa nunca
Nunca mais feliz
Na versão para CD, segue-se com o coro a entoar “_OREMUS_” (Edu Lobo), recuperando o clima onírico do álbum, apesar de indelevelmente despida da poesia de Chico Buarque. QUESTIONAMENTOS EXISTENCIALISTAS“_MEU
NAMORADO_” (Chico Buarque – Edu Lobo), é um dos momentos mais mornos do álbum. Comparada à poesia de “_Beatriz_” ou à beleza estética de “_A História de Lily Braun_”, a canção parece simples, sem maiores atrativos. Simone faz uma interpretação acadêmica, sem elevar o pouco brilho da canção. É a paixão vista pela mulher, que se faz submissa diante do seu amor, mostrando-o ao mundo como um homem dominante, sendo ela, no íntimo da relação, quem conduz e domina a paixão, dando e recebendo o que decidiu sobre os sentimentos. “_Meu Namorado_” foi, com o passar do tempo, uma das canções esquecidas do álbum. “_CIRANDA DA BAILARINA_” (Chico Buarque – Edu Lobo) tornar-se-ia uma referência às bailarinas, decodificando o lado humano dessas mulheres. Jamais tocada na rádio, adquiriu fama nos bastidores da MPB, talvez por trazer a ironia lúdica e onírica desse universo, interpretada por um coro infantil, composto por Bebel, Lelê, Luiza, Mariana, Silvinha, Bernardo, Cristiano e Kiko, criando um clima malicioso de uma ciranda antiga. A bailarina é o símbolo da perfeição e da beleza, toda mulher sonha em ser uma, daí a ironia dos versos de Chico Buarque, transformando-a em uma estátua, sem as imperfeições humanas a deflorar-lhe a pele, o semblante, o mito. Nada atinge a bailarina na sua beleza plástica. “_SOBRE TODAS AS COISAS_” (Chico Buarque – Edu Lobo), é outro grande momento do álbum e da reflexão existencialista da poesia de Chico Buarque. Gilberto Gil dá vida à canção, acompanhado apenas por um violão. A canção cria um monólogo dirigido a Deus, com questionamentos seculares, sobre a criação e o papel do homem no universo do Criador. Gilberto Gil consegue dimensionar a canção em um ápice existencialista, às vezes pungente, às vezes angustiante, sem perder o lirismo poético da canção. A impotência do homem diante dos dogmas da vida, a sua rebelião eterna contra Deus, que se pergunta se a terra prometida ondejorra
o leite e o mel, é apenas uma visão sugerida por Deus, mas não merecida pelo homem, que jamais a alcançará. A música teria outras versões de cantores da MPB, entre elas a do próprio Chico Buarque, que a gravou no álbum “_Paratodos_” (1993), mas a perfeição lírica só foi atingida por Gilberto Gil, numa interpretação que até os dias atuais, insiste em permanecer definitiva.Ou será que o Deus
Que criou nosso desejo é tão cruel Mostra os vales onde jorra o leite e o mel E esses vales são de Deus “_O TATUADOR_” (Edu Lobo), é outra canção inserida na versão do CD. Preterida a outras na versão de vinil, em 1983, aparece sem letra, interpretada instrumentalmente. A ausência de uma letra de Chico Buarque não invalida a sua beleza, mas faz com que imaginemos que outra grande obra-prima da MPB poderia ter daqui surgido. HORA DE PARTIR E CERRAR AS CORTINAS“_A
BELA E A FERA_” (Chico Buarque – Edu Lobo), desafoga um pouco o questionamento existencialista, não se distanciando do caráter humano. Aqui a fera declara-se à bela. A fera é a tradução do homem rude, rústico e de músculos como símbolo do seu caráter, distanciado do intelecto. A canção traz um magnífico Tim Maia, único capaz de dar a interpretação histriônica que ela exige. A voz agreste do cantor consegue oscilar entre o homem rude e sensível, analfabeto por sua condição social, mas poeta na alma. Quase domesticada, a fera faz um poema verbal à amada, mas não se esquece da sua essência silvestre, ameaçando arrombar a janela se ela não a abrisse para o seu amor. Mais que na lua ou no cometaOu na constelação
O sangue impresso na gazeta Tem mais inspiração No bucho do analfabetoLetras de macarrão
Letras de macarrão
Fazem poema concreto “_O CIRCO MÍSTICO_” (Chico Buarque – Edu Lobo), sintetiza todas as músicas, traduzindo a mensagem, a poesia e o imenso clima de teatro que gerou as canções, sendo o existencialismo humano arrancado no seu âmago, alcançando um ludismo quase que infinito. Zizi Possi tem um dos momentos mais belos da sua carreira, dando uma interpretação lúdica, beirando à perfeição da voz em encontro com a poesia. Derrama-se o véu da própria existência, a vida caminha às vezes dentro de um vagão apressado, outras vezes entre os refletores do palco, encerrando-se no infinito da morte, desenhada no vôo mortal do trapezista. O clima existencialista enlaça as canções. Depois da canção, já não há mais o que perguntar, o salto para a morte encerra tudo. Já não há tempo para os questionamentos, apenas para encerrar o espetáculo, cerrar as cortinas e seguir viagem, o show tem que prosseguir, como a vida.Negro refletor
Flores de organdi
E o grito do homem voadorAo cair em si
Não sei se é vida real Um invisível cordão Após o salto mortal E o álbum é encerrado com “_NA CARREIRA_” (Chico Buarque – Edu Lobo), num espetacular dueto de Edu Lobo e Chico Buarque, mostrando a vida mambembe dos artistas de circo. A canção final já não traz questionamentos existenciais, mas a constatação dos efeitos daquela vida cigana, suas conseqüências, aspirações e desfechos. O importante é seguir, não deixar nunca o espetáculo morrer. A verdade é um sonho, jamais a realidade, o artista mambembe tem como função chegar subitamente nas cidades, envolver as pessoas, deixar suas marcas e seguir viagem, desaparecendo sem avisos, assim como chegou. O artista de circo pode sonhar, jamais fincar raízes na realidade ou em qualquer lugar. Sob este dueto, encerra-se um dos mais belos álbuns da Música Popular Brasileira. O GRANDE CIRCO MÍSTICO, DE JORGE DE LIMA O médico de câmara da imperatriz Teresa - Frederico Knieps - resolveu que seu filho também fosse médico, mas o rapaz fazendo relações com a equilibrista Agnes, com ela se casou, fundando a dinastia de circo Knieps de que tanto se tem ocupado a imprensa. Charlote, filha de Frederico, se casou com o clown, de que nasceram Marie e Oto. E Oto se casou com Lily Braun a grande deslocadora que tinha no ventre um santo tatuado. A filha de Lily Braun - a tatuada no ventre quis entrar para um convento, mas Oto Frederico Knieps não atendeu, e Margarete continuou a dinastia do circo de que tanto se tem ocupado a imprensa. Então, Margarete tatuou o corpo sofrendo muito por amor de Deus, pois gravou em sua pele rósea a Via-Sacra do Senhor dos Passos. E nenhum tigre a ofendeu jamais; e o leão Nero que já havia comido dois ventríloquos, quando ela entrava nua pela jaula adentro, chorava como um recém-nascido. Seu esposo - o trapezista Ludwig - nunca mais a pôde amar, pois as gravuras sagradas afastavam a pele dela o desejo dele. Então, o boxeur Rudolf que era ateu e era homem fera derrubou Margarete e a violou. Quando acabou, o ateu se converteu, morreu. Margarete pariu duas meninas que são o prodígio do Grande CircoKnieps.
Mas o maior milagre são as suas virgindades em que os banqueiros e os homens de monóculo têm esbarrado; são as suas levitações que a platéia pensa ser truque; é a sua pureza em que ninguém acredita; são as suas mágicas que os simples dizem que há o diabo; mas as crianças crêem nelas, são seus fiéis, seus amigos, seusdevotos.
Marie e Helene se apresentam nuas, dançam no arame e deslocam de tal forma os membros que parece que os membros não são delas. A platéia bisa coxas, bisa seios, bisa sovacos. Marie e Helene se repartem todas, se distribuem pelos homens cínicos, mas ninguém vê as almas que elas conservam puras. E quando atiram os membros para a visão dos homens, atiram a alma para a visão de Deus. Com a verdadeira história do grande circo Knieps muito pouco se tem ocupado a imprensa. (_A Túnica Inconsútil - 1938_)Ficha Técnica:
O GRANDE CIRCO MÍSTICOSomlivre
1983
Músicas de Edu Lobo / Letras de Chico Buarque Criado para o Ballet Guaíra Interpretações : Milton Nascimento, Jane Duboc, Gal Costa, Simone, Gilberto Gil, Tim Maia, Zizi Possi, Chico Buarque e Edu Lobo Direção artística: Edu Lobo Arranjos: Chico de Moraes e Edu Lobo Orquestrações e regência: Chico de Moraes Concepção, roteiro, ilustrações da capa e encarte: Naum Alves deSouza
Produção: Homero Ferreira Baseado no poema “_O Grande Circo Místico_” de Jorge de Lima Coreografia: Carlos Trincheiras Técnico de gravação: Edu de Oliveira Técnico de mixagem: Alan Sides Gravado nos estúdios da Som Livre, Rio de Janeiro, entre agosto e dezembro de 1982. Mixado nos estúdios da Ocean Way, Los Angeles, emjaneiro de 1983.
Músicos participantes: Piano: Cristóvão Bastos Piano Yamaha: Cristóvão Bastos e Chico de Moraes Piano Rhodes: Antônio Adolfo e Raimundo Nicioli Baixo Acústico: Sérgio Barroso e Ken Wild Baixo Elétrico: Jamil Joanes e Jorjão Violão: Edu Lobo, Gilberto Gil e Nelson Angelo Percussão: Paschoal Meirelles, Chico Batera e Jorge de Oliveira Flauta: Mauro Senise, Celso Woltzenlogel e Paulinho Guimarães Bateria: Paulinho Braga Guitarra: Hélio Delmiro Bells e Xilofone: Pinduca Minimoog: Chico de Moraes Clarinete: Biju, Macaé, Mazinho, Zé Bodega e José Botelho Requinta: José Botelho Picollo: Celso Woltzenlogel Trompa: Zdenek Svab, Antônio Cândido, Luiz Cândido e Luciano Sax-Alto: Netinho, Oberdan Magalhães e Macaé Sax-Tenor: Leo Gandelmann, Biju, Nivaldo Ornellas e Zé Bodega Sax-Barítono: Aurino e Leo Gandelmann Trompete: Formiga, Barreto, Niltinho, Bidinho, Hamilton e MárcioMontarroyos
Trombone: Edmundo Maciel, Edson Maciel, Flamarion, Berto, Jessé, Manoel Araújo e SerginhoFagote: Noel Devos
Gaita: Maurício Einhorn Harpa: Dorothy AshbyOboé: Braz
Violinos: Giancarlo Pareschi (spalla), Aizik Geliër, Alfredo Vidal, Carlos Hack, Francisco Perrota, João Daltro de Almeida, Jorge Faini, José Alves, Luiz Carlos Marques, Marcelo Pompeu, Michel Bessler, Walter Hack, Paschoal Perrota, André Charles Guetta, João de Menezes, José de Lana e Virgilio Arraes Violas: Arlindo Penteado, Frederick Stephany, Hindemburgo Pereira, Murilo Loures, Nelson Macedo e José de Lana Cellos: Alceu de Almeida Reis, Jacques Morelenbaum, Jorge Ranevsky, Márcio Mallard e Henrique Drach Contrabaixos: Gabriel Bezerra de Mello e Sandrino Santoro Coro: Luna, Márcia Ruiz, Maucha Adnet, Regininha, Rosa Lobo, Verônica Sabino, Chico Adnet, Dalmo Medeiros, Márcio Lott, Paulinho Pauleira, Paulo Roberto, Ronald Vale e Zé Luiz Coro Infantil: Bebel, Isabel, Lelê, Luiza, Mariana, Silvinha, Bernardo, Cristiano e Kiko Arregimentação e Regência do Coro Infantil: CristinaFAIXAS:
1 Abertura do circo (Edu Lobo)Instrumental,
2 Beatriz (Chico Buarque – Edu Lobo) Interpretação: Milton Nascimento, 3 Valsa dos clowns (Chico Buarque – Edu Lobo) Interpretação: Jane Duboc, 4 Opereta do casamento (Chico Buarque – Edu Lobo) Interpretação: Coro, 5 A história de Lily Braun (Chico Buarque – Edu Lobo) Interpretação: Gal Costa, 6 Oremus (Edu Lobo) Interpretação: Coro, 7 Meu namorado (Chico Buarque – Edu Lobo) Interpretação: Simone, 8 Ciranda da bailarina (Chico Buarque – Edu Lobo) Interpretação: Coro Infantil, 9 Sobre todas as coisas (Chico Buarque – Edu Lobo) Interpretação: Gilberto Gil, 10 O tatuador (Edu Lobo) Instrumental, 11 A bela e a fera (Chico Buarque – Edu Lobo) Interpretação: Tim Maia, 12 O circo místico (Chico Buarque – Edu Lobo) Interpretação: Zizi Possi, 13 Na carreira (Chico Buarque – Edu Lobo) Interpretação: Chico Buarque e Edu Lobo TAGS: cultura , música, poesia
publicado por virtualia às 18:14link | comentar
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