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excesso, de
TODOS OS PROFISSIONAIS DO SISTEMA PRISIONAL SÃO …TRANSLATE THISPAGE
Todos os profissionais que atuam no Sistema Prisional recebem as influências do mundo e podem devolver o que dele recebeu. Abrigam essas influências, refugia em si o mundo, deixando-se penetrar por ele, embeberem-se como os sofrimentos, regozijos, opressões e lutas. É imprescindível ganhar o mundo como ele chega e, imprescindível também fazer os questionamentos para hierarquizar e EDUCAÇÃO E PRISÃO: AGOSTO 2015TRANSLATE THIS PAGE educaÇÃo e prisÃo este blog tem como objetivo discutir a educaÇÃo no contexto das prisÕes assim como o uso das mÍdias e tecnologias nos ambientes educacionais EDUCAÇÃO E PRISÃO: O OLHAR, O OUTRO, LINGUAGEM E …TRANSLATE THISPAGE
RAMOS, Rowayne Soares. OLIVEIRA, Ana Arlinda. ‘O outro é, por princípio, aquele que me o EDUCAÇÃO E PRISÃO: O APRISIONAMENTO DA …TRANSLATE THIS PAGE O APRISIONAMENTO DA MISÉRIA: CARACTERÍSTICAS DOS JOVENS E ADULTOS DO SISTEMA PRISIONAL DE JI-PARANÁ /RO Leiva Custódio Pereira RESU EDUCAÇÃO E PRISÃO: JUNHO 2011TRANSLATE THIS PAGE ESTE BLOG TEM COMO OBJETIVO DISCUTIR A EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DAS PRISÕES ASSIM COMO O USO DAS MÍDIAS E TECNOLOGIAS NOS AMBIENTES EDUCACIONAIS PRISIONAIS EDUCAÇÃO E PRISÃO: OS TRABALHADORES E A …TRANSLATE THIS PAGE Depois de anos de experiências diversas nas lutas e movimentos dos trabalhadores por melhores condições de vida e trabalho, chego hojea co
UMA QUESTÃO DE TERMINOLOGIA POR LEIVA …TRANSLATE THIS PAGE Na literatura publicada sobre a situação do preso ou do Sistema Prisional é possível encontrar formas de se referir a esses subalternos privados de liberdade como reeducandos, apenados, ressocializandos, reabilitandos dentre outros. Compartilho da posição de Scarfó (2009, p. 111) , de que, “se algum `re` lhe cabe, é a redução da sua vulnerabilidade social, psicológica e EDUCAÇÃO E PRISÃO: ÁLCOOL: O COMBUSTÍVEL …TRANSLATE THIS PAGE Nos últimos meses temos acompanhado através dos meios de comunicação um aumento acelerado da violência, devendo-se grandeparte desse cresci
EDUCAÇÃO E PRISÃO ESTE BLOG TEM COMO OBJETIVO DISCUTIR A EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DAS PRISÕES ASSIM COMO O USO DAS MÍDIAS E TECNOLOGIAS NOS AMBIENTES EDUCACIONAIS PRISIONAIS Leiva http EDUCAÇÃO E PRISÃOTRANSLATE THIS PAGE Em princípio, ele jamais cessa de ver, de escutar, de tocar, de sentir o mundo que o entorna. A menos que pertença ao mundo da cegueira, a visão e, portanto, o olhar que a expressa, se verifica uma constância da existência e especialmente da relação com os outros. Quando ele está no princípio de um encontro possível, de umexcesso, de
TODOS OS PROFISSIONAIS DO SISTEMA PRISIONAL SÃO …TRANSLATE THISPAGE
Todos os profissionais que atuam no Sistema Prisional recebem as influências do mundo e podem devolver o que dele recebeu. Abrigam essas influências, refugia em si o mundo, deixando-se penetrar por ele, embeberem-se como os sofrimentos, regozijos, opressões e lutas. É imprescindível ganhar o mundo como ele chega e, imprescindível também fazer os questionamentos para hierarquizar e EDUCAÇÃO E PRISÃO: AGOSTO 2015TRANSLATE THIS PAGE educaÇÃo e prisÃo este blog tem como objetivo discutir a educaÇÃo no contexto das prisÕes assim como o uso das mÍdias e tecnologias nos ambientes educacionais EDUCAÇÃO E PRISÃO: O OLHAR, O OUTRO, LINGUAGEM E …TRANSLATE THISPAGE
RAMOS, Rowayne Soares. OLIVEIRA, Ana Arlinda. ‘O outro é, por princípio, aquele que me o EDUCAÇÃO E PRISÃO: O APRISIONAMENTO DA …TRANSLATE THIS PAGE O APRISIONAMENTO DA MISÉRIA: CARACTERÍSTICAS DOS JOVENS E ADULTOS DO SISTEMA PRISIONAL DE JI-PARANÁ /RO Leiva Custódio Pereira RESU EDUCAÇÃO E PRISÃO: JUNHO 2011TRANSLATE THIS PAGE ESTE BLOG TEM COMO OBJETIVO DISCUTIR A EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DAS PRISÕES ASSIM COMO O USO DAS MÍDIAS E TECNOLOGIAS NOS AMBIENTES EDUCACIONAIS PRISIONAIS EDUCAÇÃO E PRISÃO: OS TRABALHADORES E A …TRANSLATE THIS PAGE Depois de anos de experiências diversas nas lutas e movimentos dos trabalhadores por melhores condições de vida e trabalho, chego hojea co
UMA QUESTÃO DE TERMINOLOGIA POR LEIVA …TRANSLATE THIS PAGE Na literatura publicada sobre a situação do preso ou do Sistema Prisional é possível encontrar formas de se referir a esses subalternos privados de liberdade como reeducandos, apenados, ressocializandos, reabilitandos dentre outros. Compartilho da posição de Scarfó (2009, p. 111) , de que, “se algum `re` lhe cabe, é a redução da sua vulnerabilidade social, psicológica e EDUCAÇÃO E PRISÃO: ÁLCOOL: O COMBUSTÍVEL …TRANSLATE THIS PAGE Nos últimos meses temos acompanhado através dos meios de comunicação um aumento acelerado da violência, devendo-se grandeparte desse cresci
EDUCAÇÃO E PRISÃO ESTE BLOG TEM COMO OBJETIVO DISCUTIR A EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DAS PRISÕES ASSIM COMO O USO DAS MÍDIAS E TECNOLOGIAS NOS AMBIENTES EDUCACIONAIS PRISIONAIS Leiva http EDUCAÇÃO E PRISÃOTRANSLATE THIS PAGE Em certas condições, ele contém um temível poder metamorfoseador. O olhar de uma pessoa sobre a outra é sempre uma experiência afetiva, mas ele também produz conseqüências físicas: a respiração acelera, o coração bate mais rapidamente, a pressãoarterial
PENSAMENTO E A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM: …TRANSLATE THIS PAGE Resumo: Este artigo aborda a linguagem humana, destacando, conforme a teoria de Vygotsky, a relação existente entre pensamento e palavra, a interação entre o bebê e o sujeito falante, enfatizando a fala egocêntrica, interior e social, nas concepções de Piaget e Vygotsky.Partindo de uma leitura analítica e reflexiva do Livro Linguagem e Pensamento do autor citado. ALFABETO NAS PRISÕES: PALAVRAS DITAS E USADAS …TRANSLATE THIS PAGE O discurso está sempre dentro de outro discurso, tendo em vista o caráter dialógico da língua. Cabe ressaltar que o conceito de diálogo aqui não se restringe apenas àquele diálogo que temos um diante do outro, ou seja, mas sim ao diálogo que as palavras estabelecem quando significadas na palavra do outro. UMA QUESTÃO DE TERMINOLOGIA POR LEIVA …TRANSLATE THIS PAGE Na literatura publicada sobre a situação do preso ou do Sistema Prisional é possível encontrar formas de se referir a esses subalternos privados de liberdade como reeducandos, apenados, ressocializandos, reabilitandos dentre outros. Compartilho da posição de Scarfó (2009, p. 111) , de que, “se algum `re` lhe cabe, é a redução da sua vulnerabilidade social, psicológica e EDUCAÇÃO E PRISÃO ESTE BLOG TEM COMO OBJETIVO DISCUTIR A EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DAS PRISÕES ASSIM COMO O USO DAS MÍDIAS E TECNOLOGIAS NOS AMBIENTES EDUCACIONAIS PRISIONAISClassic
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SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO: CURSO PROPÕE ENRIQUECER CURRÍCULO A SUPERDOTADOS SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO: Curso propõe enriquecer currículo a superdotados:
A Prefeitura de Ji-Paraná, por meio da Secretaria Municipal de Educação – Semed, Superintendência de Ensino, Gerência deEducação Espec...
Postado há 3rd August 2015 por Leiva0
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O OLHAR, O OUTRO, LINGUAGEM E INTERAÇÃORAMOS,
Rowayne Soares.
OLIVEIRA,
Ana Arlinda.
_‘O outro é, por princípio, aquele que me observa.’_ SARTRE, J. P. O ser e o nada. A condição corporal do homem o faz imergir num banho sensorial ininterrupto. Em princípio, ele jamais cessa de ver, de escutar, de tocar, de sentir o mundo que o entorna. A menos que pertença ao mundo da _cegueira, _a visão e, portanto, o olhar que a expressa, se verifica uma constância da existência e especialmente da relação com os outros. Quando ele está no princípio de um encontro possível, de um excesso, de um imprevisto podendo exacerbar-se, as convenções sociais cuidadosamente limitam o perigo. Pousar o olhar sobre o outro não é um acontecimento anódino. Em verdade, o olhar favorece e se apropria de algo para melhor ou o pior. Pode-se dizer que ele seja imaterial, inobstante, que aja simbolicamente. Não é somente um espetáculo, e sim o exercício de um poder. Em certas condições, ele contém um temível poder metamorfoseador. O olhar de uma pessoa sobre a outra é sempre uma experiência afetiva, mas ele também produz conseqüências físicas: a respiração acelera, o coração bate mais rapidamente, a pressão arterial eleva-se e a tensão psicológica aumenta. Os olhos do outro tocam metonimicamente o rosto e atingem o sujeito no seu todo. O olhar toca o outro e este contato está longe de passar despercebido no imaginário social. A linguagem corrente o comprova: acariciamos, metralhamos, inspecionamos com o olhar, exercendo força sobre o olhar alheio. Ele pode ser penetrante, agudo, cortante, incisivo, cruel, indecente, carinhoso, terno, meloso. O olhar transpassa e fixa a pessoa no lugar onde está. Os olhos congelam, amedrontam, neles enxergamos a traição, etc. Seria longa a enumeração dos qualitativos que atribuem uma tatilidade ao olhar, fazendo dele uma _arma_ ou um gesto de carinho de acordo com as circunstâncias, a qual alveja seus pontos mais íntimos e vulneráveis. _“Não é exatamente que eu perca minha liberdade para tornar-me um objeto”, _diz Sartre. Mas ela lá está, fora da minha liberdade vivida, como um atributo deste ser que eu sou para o outro. Eu percebo que o olhar alheio se integra ao ato que executo como solidificação e alienação de minhas próprias possibilidades. O olhar é poder sobre o outro, pois manifesta certa ascendência sobre sua identidade, causando-lhe um sentimento de não mais pertencer a si mesmo, de estar sob influência. Os olhos recebem e simultaneamente transmitem informações, eles concorrem para o desenrolar da interação. Da mesma forma, informam sobre as mímicas que acompanham a _voz _e sobre os momentos propícios à tomada da palavra. As palavras só tem significado na corrente do pensamento e da vida. Sendo assim, para Bakthin, a aquisição da língua passa pelo social, pela interação do falante com os demais falantes. Passa pelos significados dados pelo usuário da língua nos mais variados contextos. Existe, segundo o teórico, sempre a intertextualidade, ou seja, um texto que tem outro texto dentro dele. É claro que se pensarmos com calma, todos os nossos textos são releituras de textos que, de alguma forma, já lemos ou já ouvimos. Não existem textos isentos de opinião, como afirmam algumas pessoas, o que nos leva a elaborar textos com significados amplos, variados e influenciados poroutros.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA LE BRETON, D. _Antropologia dos corpos na modernidade. _Paris: PUF,1990.
BAKHTIN, Mikhail. _Marxismo e Filosofia da Linguagem. _11ª Ed. – São Paulo: Ed. Hucitec, 2004. ------------------------- Mestrando em Educação – Programa de Pós-Graduação em Educação – UFMT. Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Leitura e Letramento – Linha de Pesquisa: Culturas Escolares e Linguagens/IE/UFMT; Líder do movimento sobre educação em prisões/MT e Representante do Setor de Educação e Cultura noSINDSPEN.
Orientadora – Pós-Doutora em Educação pela UFMG e professora titular do Programa de Pós-Graduação em Educação na UFMT. Postado há 6th November 2011 por Leiva0
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A LEITURA NO CONTEXTO PENITENCIÁRIO: UMA EXPERIÊNCIA COM JOVENS E ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE. RAMOS, Rowayne Soares. Mestrando – PPGE/UFMT rowayne.sucesso@gmail.com OLIVEIRA, Ana Arlinda de. Profª Dra. – PPGE/UFMT aarlinda@terra.com.br Eixo Temático: Educação e Linguagem Agência Financiadora: não contou com financiamentoResumo
Esta apresentação tem por finalidade divulgar pesquisa de mestrado em andamento do PPGE/UFMT – Mestrado em Educação, na linha de Pesquisa Culturas Escolares e Linguagens. O objetivo foi observar e analisar como se dá o processo de alfabetização e de letramento dos sujeitos privados de liberdade no CRC (Presídio do Carumbé) e ver qual a concepção de educação dos envolvidos no processo. Entretanto o problema desta pesquisa fica em torno das concepções de educação e práticas de alfabetização e letramento que os alunos da EJA do 1º segmento privados de liberdade possuem acesso e, se, este acesso contribui para sua inclusão social. A metodologia utilizada nesta pesquisa se pautou na abordagem qualitativa tomando como base as práticas de leitura que os alfabetizadores que atuam no presídio utilizam em sala de aula. Os sujeitos desta pesquisa que entrevistamos e observamos foram 15 (quinze) alunos (regime fechado); 01 (um) ex-aluno/preso, hoje professor/alfabetizador e 02 (dois) professores. Buscamos dialogar com teóricos que discorrem sobre a pesquisa qualitativa como: Ludke e André (1986), e os autores Bogdan e Bilken (1994). As observações e relatos dos sujeitos entrevistados nos indicam que o espaço escolar na unidade penal necessita de uma intervenção pedagógica mais atuante, mas existem práticas de alfabetização e de letramento em espaços como a biblioteca existente na unidade e muito utilizado pelos alunos/presos. Concluindo, percebemos que o professor deve valorar as práticas sociais da leitura e da escrita que estão no entorno dos sujeitos privados de liberdade que são inúmeras; a linguagem jurídica, as questões que envolvem os direitos humanos e as políticas sociais existentes e que o sujeito em privação de liberdade não possui o devido conhecimento. PALAVRAS - CHAVE: Alfabetização, Letramento, Leitura, EJA emprisões.
Introdução
No mundo contemporâneo a exigência para a integração do homem em uma sociedade grafocêntrica é a de ser letrado. Porém, essa exigência não se limita à capacidade de ler e escrever, de ser alfabetizado, mas a de ser capaz de fazer uso autônomo dessas habilidades nas diversas práticas sociais. No trabalho, nos bancos, hospitais, lojas comerciais, instituições públicas (penitenciárias e outras da execução penal) e, mesmo em casa, as atividades passaram, necessariamente, a ser mediadas por instrumentos eletrônicos, exigindo assim, uma forma de relacionamento com a leitura e a escrita para atender a essas novas exigências na sociedade, que são colocadas com o crescente desenvolvimento e utilização das tecnologias modernas em todos os setores dasociedade.
Sabemos que o jovem e adulto encontram muita dificuldade de exercer a leitura e a escrita em sua primeira fase escolar, bem como em uma unidade escolar que funciona em uma instituição de execução penal (presídio). Nessa fase, deparamo-nos com jovens e adultos que se encontram fora de sala de aula há vários anos e que retomaram seus estudos somente após estar em uma prisão e ainda, com mais incidência, alunos que nunca freqüentaram uma sala de aula. Porém, diante das necessidades do mundo moderno, a escola precisa dar respostas a esses alunos, que embora estejam privados de liberdade, mas não do direito à educação, em oferecer-lhes práticas de leitura e escrita, que os preparem para essas exigências dasociedade.
Na última década a Educação de Jovens e Adultos tem sido alvo de reflexão para muitos pesquisadores, o que tem proporcionado aos educadores que trabalham nessa área reavaliarem suas práticas. Entretanto, ainda perduram dificuldades por parte dos educadores em relação à questão de como trabalhar com sucesso a leitura e a escrita. Foram baseadas nisto e na experiência como educador no contexto penitenciário há mais de 08 anos e trabalhando com a Educação de Jovens e Adultos em prisões, no município de Cuiabá/MT, que procuramos desenvolver esta pesquisa abordando as concepções de alfabetização e letramento: a leitura como prática social na Educação de Jovens e Adultos em privação de liberdade. Pesquisas a respeito dos processos de aprendizagem da leitura e da escrita vêm comprovando que a estratégia necessária para um indivíduo se alfabetizar não é a memorização, mas a reflexão sobre leitura e escrita. Essa constatação pôs a prova uma antiga crença, n qual a escola apoiava suas práticas de ensino, e desencadeou uma revolução conceitual, uma mudança de paradigma. E o letramento surge, segundo Magda Soares (2003, 67) com a concepção “_Não basta saber ler e escrever, é preciso também saber fazer uso do ler e escrever, saber responder às exigências de leitura e de escrita que a sociedade faz continuamente._”_ _ E nós professores precisamos estar atentos para estas mudanças, no intuito de facilitar o processo de ensino aprendizagem. Qual o estudante inicial que não se sente coagido ao ser solicitado que se expresse através da escrita ou da leitura? Nós professores presenciamos constantemente, durante nosso trabalho em sala de aula, os argumentos dos alunos dizendo que não sabem ler nem escrever. Ao ouvir essas mensagens negativas, percebemos que tal situação para ser resolvida depende muito de nosso esforço, de buscar estratégias que atendam essas necessidades dos alunos, assumindo um papel de mediador do conhecimento. É nesse sentido que pretendemos identificar as estratégias utilizadas pelos professores para trabalhar a leitura, identificar como os alunos fazem uso social da leitura e quais as suas preferências em relação à leitura. Assim, pretendemos deixar uma contribuição para uma reflexão e um repensar do educador de jovens e adultos em prisões, sobre a sua prática pedagógica, no sentido de auxiliá-lo na formação de cidadãos participativos em suasociedade.
A metodologia utilizada para a realização do presente estudo foi a aplicação de questionário com questões abertas e fechadas entre professor e alunos/presos, de uma sala de aula do 1º segmento da EJA, da Escola Municipal de Educação Básica “Jescelino Reiners” e da Escola Estadual “Nova Chance”, que funcionam como salas anexas dentro do antigo Presídio do Carumbé em Cuiabá/MT, Além da observação de sala de aula, a fim de obter os dados descritivos relacionados à temática. A pesquisa se caracteriza como um estudo de caso e de análise qualitativa. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Alfabetização e letramento são processos interligados/indissociáveis, porém separados enquanto abrangência e natureza, ou seja, caminham lado a lado, embora guardando diferenças entre si. O letramento é “continuum”. A alfabetização, além de ser um processo que leva ao aprendizado das habilidades da leitura, contribui para a liberação do homem e de seu pleno desenvolvimento. O letramento é mais do que alfabetizar, é ensinar a ler e a escrever dentro de um contexto em que a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno. Soares (2003) chama a atenção para a possibilidade de uma pessoa ser alfabetizada e não ser letrada. No Brasil encontramos pessoas que sabem ler e escrever, mas não praticam essa habilidade e alguns não sabem sequer preencher um requerimento. Como ocorre no contexto penitenciário com os detentos quanto chegam a Unidade prisional, que ao serem abordados por um servidor administrativo do cartório, onde realiza toda a sua investigação de dados de leitura corporal do sujeito/preso e quando lhe pergunta se sabe ler e escrever. A resposta de imediato é sempre que, sim, mas quando vão para a sala de aula a triste e excludente realidade é outra. São consideradas pessoas que são alfabetizadas e não são letradas. Porém, há aqueles que sabem como deveria ser aplicada a escrita, mas não são alfabetizados. Como se pode ver no filme Central do Brasil, alguns personagens conheciam a carta, mas não sabiam escrevê-la por não dominar o sistema da escrita. Como observamos no contexto da sala de aula no presídio, em que alunos/presos que dominam um pouco mais a escrita e sabem ler, possuem uma relação social de maior importância naquele contexto por escrever para muitos que lá estão os bilhetes (chamados de bereu), petições para a Vara da Execução Penal, cartas aos familiares e outros comunicados de comercialização dentro do presídio como mostra neste, uma cópia de texto do jornal que circula entre eles por nome “A Grade”. Segundo Kleimam (1998), no ambiente de família letrada as práticas e usos da escrita são fato cotidiano, corriqueiro, inseparável de outros fatores e fazeres: a leitura do jornal como parte integrante do café da manhã; a redação de um bilhete ou a consulta a uma agenda como suportes da memória. O uso do texto escrito, nesse ambiente letrado, como fonte de informações permite que, antes de conhecer a forma da escrita, a criança conheça seu sentido e sua função. Para essa criança o processo de letramento se inicia no lar, contribuindo para o sucesso escolar, diferentemente de um ambiente onde a leitura e a escrita não estão tão presentes. Assim, a entrada da pessoa no mundo da escrita se dá pela aprendizagem de toda a complexa tecnologia envolvida no aprendizado do ato de ler e escrever. Além disso, o aluno precisa saber fazer uso e envolver-se nas atividades de leitura e escrita. Ou seja, para entrar no universo do letramento, ele precisa apropriar-se do hábito de buscar jornal para ler, de freqüentar bancas de revistas, livrarias, bibliotecas e com esse convívio efetivo com a leitura e, assim, apropriar-se do sistema de escrita. CONCEPÇÕES DE LEITURA E PRÁTICAS PARA O ENSINO Nas últimas décadas, tomando como referência a partir de 1980, estudiosos de vários campos como a Lingüística, Psicolingüística, Sociolingüística, Análise do Discurso, entre outros, têm se detido em estudos sobre a leitura, apontando para o embate de concepções sobre o que é ler e sobre suas implicações para o ensino da leitura e atribuição de significados em relação às formas de aprendizagem do leitor em uma sociedade de cultura letrada, bombardeada pelos mais diversos tipos de informações. Do ponto de vista do ensino aprendizagem, até então, a concepção de leitura se baseava nas abordagens tradicionais também chamadas de estruturalistas, as quais viam o ato de escrever como uma transcrição de fonemas; e o ato de ler como um processo instantâneo de decodificação dos fonemas, dos símbolos gráficos. O leitor se apresenta como um receptor de informações, limitado ao uso das regras gramaticais e ao uso do vocabulário. Ao texto era dado um sentido, pronto e acabado, cabendo ao leitor apenas recuperá-lo de maneira linear e cumulativa, palavra por palavra. O autor era dono do sentido de seu próprio texto, o leitor apenas assimilava as idéias e as difundia e o professor/a fazia com que os alunos atingissem de “maneira correta” o sentido. Porém, uma maior necessidade de acesso às informações através do texto vem proporcionar questionamentos da concepção de aprendizagem da leitura, amparada no modelo de codificação e decodificação, apontando para a necessidade de se formar leitores mais críticos. E os mecanismos adotados na escola para o ensino da leitura já se revelam insuficientes diante da multiplicidade de situações que surgiam com a exigência do uso da leitura social. Diante desse contexto, conforme Barbosa (1994), no intuito de responder aos questionamentos que se evidenciavam, é a psicolingüística que vem apontar alternativas, estabelecendo novos parâmetros para um modelo de leitura que desloca o problema da análise da língua que se lê para uma análise do ato de ler. Dessa forma, a língua enquanto objeto de descrição e análise passa a ceder especo para as investigações de interação entre o leitor e o texto. Assim, para responder o que é leitura, a Psicolingüística Vai focalizar o comportamento do leitor no ato de ler (o que faz o leitor quando lê), centrando suas contribuições na descrição e análise da natureza desse comportamento; na análise dos dispositivos e estratégias colocadas em ação pelo leitor para atribuir significado ao texto escrito; na descrição do funcionamento da língua escrita, enquanto objeto de uso (para ler) (BARBOSA, 1994, p.89).
Kato (1997) defende essa visão interacionista por compreender que a leitura se processa na interação texto-leitor e num conceito mais novo, auto-texto-leitor. Entende a leitura como um lugar em que o leitor pode relacionar-se com o texto de forma dialética, buscando, assim, recuperar os seus sentidos, visto ser ele, leitor ativo, o ponto de partida para esta tarefa de ler, reproduzindo o texto do outro e criando o seu próprio, sua experiência artística e real. A autora chama atenção para a prática de grande número de escolas que desenvolve uma excessiva preocupação em trabalhar a escrita e a pouca atenção dada para o desenvolvimento da leitura, achando que, se ensinar o aluno a escrever, ele aprenderá automaticamente a ler. Na década de 1960, Paulo Freire foi o primeiro a denunciar as práticas do ensino alienantes da “educação bancária” (aquela em que, nos alunos, professores depositam conhecimentos, ou destes os sacam), inaugurando uma concepção libertadora de aprendizagem, marcada pela consciência e pela possibilidade de transformar o mundo. Nesta concepção, alfabetizar é garantir o direito de voz e ampliar os recursos de reflexão, razões pelas quais o ensino da escrita não se encerra no desenho da palavra, mas no seu significado. a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. De alguma maneira, porém podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente. (FREIRE, 1983, p. 22) O que significa tal postura na prática pedagógica? Significa superar o ensino da escrita como código e promovê-lo à condição de diálogo, assumindo o seu caráter político. Para isso, o mestre Paulo Freire propunha, em vez de aulas, “Círculos de Cultura”, encontros centrados na compreensão da realidade e no processo de politização. Em um contexto interlocutivo, o ensino partia de palavras geradoras colhidos no mundo dos alfabetizandos (por exemplo, “tijolo” para alunos que trabalhavam na construção civil), e evoluía na forma de verdadeiros temas geradores em prol da reflexão e da conscientização. A descoberta da escrita e o avanço capaz de torná-la algo do próprio sujeito estavam atrelados ao processo de formação do espírito crítico. sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo, como um ato criador. Para mim seria impossível engajar-me num trabalho de memorização mecânica dos ba-be-bi-bo-bu, dos la-le-li-lo-lu. Daí que também não pudese reduzir a alfabetização ao ensaio puro da palavra, das sílabas ou das letras (FREIRE, 1983, p.21). Essas palavras apontam para Freire uma pedagogia voltada para o mundo e porque não dizer para a prática social desse mundo (o letramento). São nas práticas sociais que a linguagem ganha sentido, assume valores e é reconhecida, o que põe em evidência as estruturas de poder da sociedade. Assim, o letramento traz consigo uma natureza ideológica que merece ser considerada tando na esfera social como nas práticas escolares. E como diz o autor Batista (1991), Uma concepção de leitura de interesse pedagógico deve considerar, portanto, não apenas suas dimensões psicológicas e linguísticas, apreendidas sob um ponto de vista abstrato e ideal, mas também a sua dimensão histórica e social, que permite, por um lado, compreender as prática efetivas e concretas do ato de ler e, por outro lado, situar, nessas práticas efetivas e concretas do ato de leitura, que é universalizado e apresentado, pelas investigações psicológicas e lingüísticas, como a leitura. (BATISTA, 1991, p. 35) Assim ler um texto significa ler o próprio contexto em que se insere o leitor, ou seja, seu significado relaciona-se com sua própria história ou conhecimento de mundo. Nessa perspectiva, insere-se o pensamento de Freire (1987) para quem a leitura da palavra proporciona condições para ler o mundo, construir sentidos. Aprendemos a ler a realidade que nos cerca em nosso cotidiano social desde que nascemos. Nossa cultura nos transfere conhecimentos sobre a realidade e formas de representá-la. Aprender a ler o mundo é apropriar-se desses valores de nossa cultura. Os autores, Peréz e Garcia (2001), tratam da leitura como ferramenta para compreender o mundo, concebendo que ler é interpretar e compreender ativa e criticamente uma mensagem por meio de um processo dialógico, indo ao encontro das experiências, das idéias prévias e do conhecimento do leitor, assim como das informações proporcionadas pelo texto e pelo contexto em que esse processo é realizado. Nesse confronto, o leitor efetiva múltiplas transações entre seus conhecimentos e as informações oferecidas pelo texto e pelo contexto cultural da leitura. Nesse sentido, acrescentam os autores: A leitura como instrumento útil de interpretação cultural favorece a apropriação da experiência e do conhecimento humano em um processo diálogo, mediante o qual o leitor tem acesso de forma dialética a outras informações, pontos de vista, representações, versões, visões, concepções do mundo (...). Mas a leitura não é apenas uma ferramenta que permite ter acesso às diferentes maneiras de interpretar a realidade que o ser humano foi elaborando ao longo da história, mas, fundamentalmente, é um instrumento útil para aprender de modo significativo, assim como para aproximar os alunos (e todos os seres humanos) da cultura – ou múltiplas culturas -, para aumentar a própria cultura e, sobretudo, para desenvolver um tipo particular de raciocínio reflexivo. (p. 49) Porém, essa leitura reflexiva só será adquirida por meio de leituras significativas que atendam às necessidades reais do leitor e se contextualize nas práticas sociais, ampliando-se, desta forma, as possibilidades de comunicação, de acesso ao conhecimento e de descoberta do prazer de ler. E a escola é a instituição responsável em manter em seu currículo mecanismos para que se façam o uso das funções sociais da leitura. Na concepção das teorias sócio-políticas, a leitura é vista como instrumento de conquista de poder, especialmente, numa sociedade capitalista, dividida em classes tão antagônicas quanto brasileira. Da mesma forma que a leitura implica em dominação, pode também ser um ato libertador, para que isto aconteça é necessário que a escola trabalhe a leitura de forma que desenvolva a consciência dos leitores para se tornar uma atividade provocadora, crítica, tomando consciência dos fatos que interferem na sua existência como ser social e político. Nesse sentido, enquanto sujeito, ou seja, ao mesmo tempo receptor/interlocutor do texto, o leitor seria levado a tomar partido, agir criticamente diante do texto e esse movimento estaria dialeticamente relacionado com a forma de o indivíduo se situar no mundo. Por isso Paulo Freire (1987, p. 22) enfatiza que _“a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo mas por uma certa forma de ‘escrevê-lo’ ou de ‘reescrevê-lo’, quer dizer, transformá-lo através de nossa prática consciente”._ A leitura ou a prática da leitura nesse sentido apresentado pelo autor seria a base de seu projeto pedagógico. Trata-se de um projeto que pressupõe um objetivo específico: a emancipação do leitor através da conscientização do sistema onde se insere (no caso específico, o sistema penitenciário). Nesse sentido, o educador deve sempre assumir sua opção política e fazê-lo não só em termos de discurso, mas como prática, para que os educandos/presos possam conscientemente, posicionar-se. Toda a concepção de educação e, conseqüentemente, de leitura do autor baseiam-se nessa premissa que é, prioritariamente, uma premissa política, que tem forte compromisso ético com a justiça social e a liberdade. Portanto, a prática da leitura, amparada em sua natureza eminentemente política, realiza uma função de libertar o homem de sua alienação e, a partir desse processo, promover a mudança social, num movimento que relaciona leitura e ideologia. OS CAMINHOS METODOLÓGICOS Neste descrevo o processo de pesquisa de acordo com a natureza da investigação embasada na abordagem qualitativa por se tratar de uma investigação no ambiente não-escolar, porém, em salas de aulas de alfabetização (1ª segmento da EJA) que funcionam em um contexto prisional. Salas de aulas essas que estão subordinadas a Escola Estadual Nova Chance (SEDUC/MT) e EMEB “Jescelino Reiners” (SME). É preciso compreender que a construção do conhecimento é um processo, que é histórico, individual e coletivo ao mesmo tempo, e que deriva da práxis humana e, portanto, não é linear nem neutro, como desejava a ciência positivista. Desta forma, toda pesquisa tem uma intenção: elaborar conhecimentos que proporcionem compreensão e transformação da realidade; por ser uma atividade, está posta em determinado contexto histórico-sociológico, ligada à valores, ideologias e conceitos de indivíduo e de mundo. A pesquisa qualitativa vem sendo adotada cada vez mais como estratégia para uma compreensão mais efetiva dos problemas educacionais. A pesquisa quantitativa revelou muitos aspectos macroestruturais da educação, porém aspectos microestruturais, relevantes para quem vive a educação no dia-a-dia, ficaram na sombra. Esses aspectos começaram a ser desvelados pela pesquisaqualitativa.
Por considerar que a pesquisa qualitativa é a que mais se adéqua a este estudo, fundamento-me em alguns teóricos como: Bogdan e Biklen (1994), Fazenda (1991), Ludke e André (1986). Nas metodologias qualitativas, os indivíduos pesquisados não são reduzidos a variáveis isoladas ou a hipóteses, mas vistos como parte de um todo, em seu contexto natural e habitual. Acredita-se que ao transformar pessoas em estatísticas, perde-se de vista a natureza subjetiva do comportamento humano. Existem melhores maneiras de conhecer os seres humanos e entender como ocorre a evolução das definições de mundo destes sujeitos fazendo uso de dados descritivos derivados de registros e anotações pessoais, de falas de pessoas e de comportamentos observados. O sentido que os sujeitos dão à vida é relevante, portanto, observar o que estes experimentam, suas maneiras de interpretar as experiências e estruturar o mundo social em que vivem, torna-se fundamental na pesquisa qualitativa. Desta forma, procuro compreender as ações dos sujeitos no contexto em que estão inseridos embasando-me em Bogdan e Biklen (1994, p. 16) na realização da observação e da entrevista: _“O investigador introduz-se no mundo das pessoas que pretende estudar, tenta conhecê-las, dar-se a conhecer e ganhar a sua confiança, elaborando um registro escrito e sistemático de tudo aquilo que ouve e observa”. _ Refletindo sobre pesquisa qualitativa em educação, Lüdke e André (1986) apontam algumas características que norteiam esse tipo de investigação: o ambiente natural é a fonte direta de dados e o pesquisador, seu principal instrumento; os dados coletados são predominantemente descritivos; a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador; e a análise dos dados tende a seguir um processoindutivo.
Dentre as estratégias mais significativas e representativas da investigação qualitativa, podemos destacar a observação participante e a entrevista em profundidade. O investigador introduz-se no mundo das pessoas que pretende pesquisar, tenta conhecê-las, dar-se a conhecer e ganhar sua confiança elabora um registro de tudo o que houve e observa e contempla o material com outros dados, como registros escolares, documentos em arquivos, documentários, imagens/fotografias, notas/entrevistas em jornais,etc.
Segundo Ludke e André (1986, p. 01), “_para realizar uma pesquisa é preciso promover um confronto entre os dados, as evidências as informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele”._ E com isso os autores defendemque:
Em geral isso se faz a partir do estudo de um problema, que ao mesmo tempo desperta o interesse do pesquisador e limita sua atividade de pesquisa a uma determinada porção do saber, a qual ele se compromete a construir naquele momento. Trata-se, assim, de uma ocasião privilegiada, reunindo o pensamento e a ação de uma pessoa, ou de um grupo, no esforço de elaborar o conhecimento de aspectos da realidade que deverão servir para a composição de soluções propostas aos seus problemas (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 02).ANÁLISE DOS DADOS
Ao iniciar as atividades de leitura, a professora dos alunos da turma de alfabetização de EJA em prisões no Centro de Ressocialização de Cuiabá/MT. Apresenta o texto que irão trabalhar naquele dia, copia o texto no quadro de giz para que os alunos possam fazer a cópia e em seguida faz a leitura em voz alta. Após a leitura da professora, cada aluno lê um fragmento do texto e em seguida é aberta a discussão geral a respeito do entendimento da leitura. Como na maioria das vezes os textos são copiados pelos alunos, por falta de recursos para reprodução, então procura trabalhar com textos pequenos. Mesmo sendo pequeno o texto, os alunos perdem muito tempo tirando do quadro. De acordo com a fala da professora, costuma levar para os alunos textos variados, como informativos, literários entre outros. Porém, durante o período de observação em sala foram trabalhados textos sem a devida preocupação e preparação com o contexto e interesse dos alunos. De acordo com o questionário aplicado com os alfabetizadores em relação à leitura, obtivemos o seguinte resultado: 1. Conte como foi sua infância e como foi o acesso aleitura?
_Professor 1 (ex-preso)_ _“Olha com poucas palavras, a minha infância foi uma infância como qualquer outra criança qualquer, uma infância, tranqüila. Agora o meu acesso a leitura foi a partir de minha vida adulta. A partir dos 30 anos de idade. A leitura eu acho que a criança tem o acesso desde a infância, mas o interesse pela leitura foi na minha vida adulta. Já preso e encarcerado. E eu tive esse contato com a leitura no presídio do Pascoal Ramos. Eu lia livros de literatura, de filosofia, de história muito livro de história e o código penal. A leitura abriu um leque de conhecimentos eu tive muita vontade de voltar estudar pela leitura. Através daquelas pequenas leituras que eu tinha acesso no presídio num canto de uma cela eu tive vontade de voltar aestudar...”_
_Professora 2 (41 a)_ _“A minha infância... você não gostaria de saber não. A minha infância não foi uma infância boa. Eu venho de um lar aonde o homem que mandava neh, ele falava e a mulher só obedecia e foi isso que aconteceu na casa da minha avó, onde o meu pai é meu avô e ele não se conteve só em ser o meu pai (avó e pai), então a escola era no sitio dele neh ! Então ali só estudava e dava aula quem ele queria. Isso no Paraná, interior do Paraná. Então lá nessa cidade quem mandava era ele, uma cidadizinha onde hoje nem sei se ela existe,na época ela tinha o nome de Feijão Verde. Ele (meu avô) não era nem um grande fazendeiro, mas era ipo um coronel da região, quando ele foi pra lá logico que ele tinha suas fazendas, porque aquela coisa assim: vai entrando e vai pegando, ele foi vendendo vendendo até ele fica com um sitio. Mas esse sitio tinha 10 (dez) de harqueiros. O importante que ele tinha la neh, voz com todo mundo. Todo mundo ouvia, então a minha infância foi só aquela coisinha ali. Ai estudei ate a quarta serie, pra mim continuar estudando eu tinha que andar 5 (cinco)Km. E ele não permitiu,ai eu já tinha meus treze (13) anos, mulher não podia, ate quando estava ali do lado da casa podia, porque a nossa casa era encostadinho da escola, terminou o estudo. Sai com os meus dezoitos (18)anos sai de casa. Porque ele queria ir embora pra Rondônia neh, e eu tinha comigo assim que ele queria proceguir a vida dele comigo. Tudo indicava que ele iria pro mato. Porque ele já estava querendo ir embora do Paraná, porque os irmãos dele já tinha descoberto ele, e meus irmãos falou que iria fazer isso...que iria mata-ló, porque ele usou (abuso sexual) a minha mãe, a irmã da minha mãe.Tipo assim eu sou filha dele, comigo minha mãe teve três (3) filhas com ele. E a única que vingou fui eu, ai então eu tive aquele medo, que chega-se em Rondônia ele iria fazer a mesma coisa então eu preferi sair de casa do que ir embora pra Rondônia. Tantos que os outros parentes irmãos da minha mãe todos foram menos eu. Ai a minha mãe não foi porque lógico que ela não me deixaria sozinha no Paraná. Ai foi aonde que eu fiquei ai depois mas ou menos um ano me casei, ai fui ter meus filhos ai já estava com meus vinte e dois (22 anos). De Feijão Verde eu vim pra Foz do Iguaçu divisa com Paraguai, em Foz do Iguaçu conheci o meu esposo nas baladas, nos bailes da noite, ai parei os meus estudos, ate entã fui trabalhar em casas de famílias, ate então nem podia pensar em estudar neh, eu fui cortada ali enquanto você esta naquele augio que queria estudar, então você esquece a historia de querer estudar. Ai nisso nos viemos embora pra Cuiabá, ai chegando aqui uma amiga resolveu voltar a estudar fazer aquele supletivo, aquele modular e elame chamou ._
_Ai falei pra ela que nem havia passado pela minha cabeça em voltar em estudar, mas gostei da idéia neh, não custava nada, falei pra ela que não tinha documento nenhum aqui e pra mandar buscar em Paraná não tenho ninguém. Ai conversando vai e vem, comecei do zero, ai fiz de um a quatro em um ano, porque ali estava estudando só por causa dos documentos, precisava me formalizar, tanto que os meu documentos são todos de Cuiabá. Ai tive privilegio de estudar aqui no Tijucal, ai depois fiz Alina Emilia Ferreira da 5ª á 8ª série, ai terminei o supletivo neh, ai depois inventei de fazer o Magistério, estava no augio o magistério. Na infância não tinha acesso a leitura nm lembro se tinha cartilha, minha professora era a minha tia/irmã. Então não tínhamos contato com a leitura só quando passamos pra Igreja Adventista foi a bíblia ( isso eu já com 12 anos)._ 2. Você teve dificuldades para aprender a ler eescrever?
_Professor 1 (ex-preso)_ _“Não. Não. (pausa) Eu era gago e aprendi a ler e a falar preso(na prisão)”._
_Professora 2 (41 a)_ _“Tive e muita dificuldade, tanto que eu sinto assim que eu tenho bastante falha ao pronunciar, escrever, tenho muito isso”._ 3. Que tipo de livros você tem lido ultimamente? _Professor 1 (ex-preso)_ _“Jean Focanbert, Raquel Vilar, Michael Foucaut. Olha tem várias. Cada um assim que eu pego sempre da educação. Esse Michel foucaut no livro vigiar e punir. Olha... É um livro ideal”._ _Professora 2 (41 a)_ _“Um caminho para Cristo, livro de gênero religioso, e o Pró-Letramento um livro do cursinho da Prefeitura, da secretária municipal de Educação”._ 4. Quais motivos te levaram a trabalhar como professor/alfabetizador neste presídio? Há quanto trabalha emprisões?
_Professor 1(ex-preso)_ _“As dificuldades que eu já conheço, se olhar para o aluno e dizer não este aqui é assim. Tinha aluno meu que escrevia o nome dele porque eu escrevia no quadro, mas quando eu perguntava para ele o que estava escrito ele não sabia. Eu escrevi no quadro JOÃO e ele não sabia que era o nome dele. Mas o preso que tem o crime comoprofissão..._
_Como você me buscou, você. Ia me buscar. A dificuldade antes era as grades hoje está melhor, hoje está fácil de ensinar._ _A dificuldade eu sei, foi o que me fez voltar. O professor é um elo importande para o preso lá dentro com o mundo exterior. Não que o professor vai se vender não. O professor pode levar uma carta para a família orientar o aluno e estimular a estudar”._ _“Há 01 (um) ano pelo Programa do governo federal. Há um ano eu venho trabalhando como alfabetizar pelo MEC – ALFASOL.”_ _Professora 2 (41 a)_ _ “Olha eu cai aqui, porque eu estava em casa e ma amiga me ligou falando: Dirce tem um espaço aqui pra Pedagoga trabalhar no CRC, você topa ? eu falei ta ai topo, não deixa de ser um desafio néh. E imediatamente já fui pra Nova Chance, ai entõ onde eu vim parar aqui. Então eu falo que caí porque não foi aquela coisa planejada, você entrega o seu curriculum e espera ser chamada, nada um da foram me chamam no outro dia já estava aqui.Então quando falo cai, mas é num bom sentido. Esse foi o meu primeiro contato, por isso que falo que cai aqui, porque eu tinha vindo aqui acho que umas duas vezes, mas a muitos anos atrás, que eu vim pra fazer uma visita há um rapaz. Então fora disso não tinha contato com prisão”._ 5. Conte um pouco sua experiência como alfabetizador _Professor 1(ex-preso)_ _“Olha a minha experiência como alfabetizador no primeiro ano eu fui assim uma pessoa que observei muito em tudo. Tentando aprender. Porque eu não quero ser um professor qualquer. Por isso que eu fui ler, fui estudar, eu quero ser um referencial vou atrás... Ora eu fui estudar Confusio. Eu me interessei em procurar e ir atrás de como alfabetizar. Que não é mágica, não é fácil ensinar uma pessoa a aprender a ler e escrever. E depois disso ele irá sair do crime, não. Ele vai ter que querer é uma escolha difícil. E falo da minha experiência, eu já estive preso e eu sei. Falo do Franklin que faz faculdade na UFMT em Engenharia. Eu fiz a minha escolha. Eu soube usar o sistema ao meu favor. A prisão pra mim foi um mal necessário. Ele vai ter que ler para sair do mundo do crime. E exemplos... eu, Franklin e outros que já estiveram presos somente saíram porque fizeram uma boa escolha.”_ _Professora 2 (41 a)_ _ “Olha tudo de bom, eu sempre falo assim:_ _Que trabalhar com criança, que nem o caso eu trabalhei muito tempo em creche, eu falo que trabalhar com criança é tudo de bom, porque vc sente que ele depende de você, pra tudo e trabalhar com adulto só muda a idade, sabe e assim gratificante, trabalhando com ele, conversando com eles e você sentir na carinha deles a dificuldade pra entender uma coisinha tão simples que parece um monstro que esta aparecendo na frente dele, mas ai na conversa, na atividade você ver que alguma coisinhas eles estão conseguindo colocar ali na cabecinhas dele.Sabe tanto que ano passado tive alguns alunos que continuaram comigo, não quiseram ir pra quarta série, preferiram ficar comigo, isso ai também é muito gratificante”._ 6. O que é estar na prisão como professor(a)? _Professor 1(ex-preso)_ _“A visão é diferente, eu não vejo o aluno como preso, vou ti dar um exemplo. Eu fiz o meu estágio no PETi. E eu não olhei aquelas crianças como uma pessoa normal que não conhece o sistema prisional, não. Eu percebi que ali eles são tratado como pequenos marginais. Inclusive eu chamei a pessoa responsável e falei. Olha isso está errado vocês estão tratando essas crianças como pequenos marginais elas são crianças ainda. Eu tô ali como professor e não como preso. Eu vou mudar essa situação de violência dentro da cadeia. Eu nunca aceitei violência na prisão como preso e agora eu não vou aceitar como professor. E eles tem que me respeitar e tem que me ouvir. Quem tá preso? Eu estive e hoje? Os que praticam a violência com os presos onde estão? Quem são? Estão presos. Eles estão presos em seus problemas.”_ _Professora 2 (41 a)_ _“Lá fora sou vista como uma louca, porque trabalhando num presídio não passa de uma louca. Mas aqui é onde você leva um pouquinho o mundo de fora lá pra eles, onde você leva um pouquinho de esperança, onde você leva um pouquinho do ensino, que nem eu falopra eles:_
_Se vocês não aprenderem nada, mas aprenderem a tabuadaque vocês trabalham todos os dias no dia a dia da vida de vocês, me sinto realizada, porque eles encontram tanta dificuldade na tabuada que da dó sabe. E na leitura também,mas na tabuada você sente que eles não querem a tabuada. Mas ai tento explicar pra eles que aonde eles estão, ele vive é a tabuada que é tudo medido”._ 7. Você participa com frequência de cursos, congressos ou eventos ligados à alfabetização de jovens e adultos? _Professor 1 (ex-preso)_ _“Rowayne, a princípio não. Eu participo muito relacionado a ressocialização, mas agora eu vou ter mais tempo e participarei.”_ _Professora 2 (41 a)_ _“Sim, amo participar, tanto do ano passado participei de todos, do Hotel Fazenda Mato-Grosso, organizado pela Seduc, na formação Hotel Global Guarden e o outro no próprio Seduc”._ 8. Você já ouviu falar em letramento? _Professor 1 (ex-preso)__Já._
_Professor 2 (41 a)_ _“Já é o que mais a gente ouve ultimamente, nos cursinhos que nós fazemos, pela prefeitura”._ 9. O que é ser letrado para você? _Professor 1 (ex-preso)_ _É aquela pessoa que sabe escrever uma carta, mas não consegue colocar no papel (risos). _ _Professora 2 (41 a)_ _É aquele que sabe falar bonito, que entende a gramática do português acho que isso que é ser letrado pra mim, agora letrado para a alfabetização no letramento é ali a criança saber o que esta escrevendo, ela ter consciência do que ela esta escrevendo._ 10. O que é alfabetizar? _Professor 1(ex-preso)_ _“Olha hoje se você me perguntasse isso há um ano atrás eu não sabia, mas pra mim alfabetizar é fazer ele gostar da leitura e da escrita e ele entender, aí eu to alfabetizando. Eu vou fazer ele gostar. Eu sou contra ensinar o que ele não faz. Eu nunca ensinei os meninos a ler vovô, vovó, não. Eu vou escrever pra ele coisas que ele caiu dentro do presídio, no cotidiano dele. Ele usa droga? Eu vou escrever pra ele DROGA. Eu não vou escrever pra ele coisas lá de fora. Ele precisa escrever coisas do cotidiano dele. Um ator de novela (nome). Eu não vou escrever para ele PATO. Não. (risos) Um dia eu escrevi FACA no quadro e um aluno me disse: Oh professor não me recorde (risos). Porque ele tinha caído com 7 facadas que ele tinha dado na namorada. E falou que tinha sido suicídio (risos). Tem que fazer o aluno gostar de ler e escrever, senão não vai.”_ _Professor 2 (41 a)_ _“Transmitir um pouco de conhecimento para o outro, poder transmitir... eu falo assim: que eu sei um pouco entao eu tento ensinar o pouquinho que eu sei para os meus alunos,então alfabetizar é transmiti rum pouquinho de conhecimento lógico q eu gostaria de dar mas, mas eu faço o q eu posso, gosto de fazer isso de alfabetizar é bom demais você saber que esta transmitindo algo ali pra alguém e que alguem ta aprendendo. É muito bom quando você transmiti algo pra eles e depois eles vão lá no quadro e falo professora e não sabia disso. Ai eu falo por isso que você esta nessa sala, então se você esta ai é porque você não sabia. Então alfabetizar é bom demais é transmitir conhecimento”.._ 11. Para você o que é letrar um aluno? _Professor 1 (ex-preso)_ _“Eu acho que letrar é o complemento. A leitura interpretativa.”_ _Professora 2 (41 a)_ _“Transmitir conhecimento”._ 12. Qual é a metodologia de alfabetização seguida por você? Explique,por favor. _Professor 1 (ex-preso)_ _“Ah! Inovadora é uma linha de estudo que ele também vai dar a opinião dele. Professor como é isso aqui? Essa palavra está certa? E os livros são fora da realidade são livros para meninos não para homens como os que estão presos”._ _Professora 2 (41 a)_ _“A metodologia que a gente mais usa é a pratica, a pratica do dia a dia. Eu gosto de dar aula de matemática. E sempre falo pra eles que é uma coisa que vai pro resto da vida de vocês, mesmo você aqui dentro você as a matemática, ai quando eu vou no português você quer escrever um bilhete pra sua mãe,sua namorada ? Português você precisa saber o que esta escrevendo ”._ 13. Qual é a concepção de ensino que ampara sua prática como alfabetizadora? Você se julga uma alfabetizadora que ensina numa concepção tradicional ou sócio construtivista? _Professor 1 (ex-preso)_ _Eu acho que as duas são importantes, mas eu acho que eu sou mais sócioconstrutivista. Você tem que ter um pouco também do tradicional, mas tem que ser inovador._ _Professora 2 (41 a)_ _Paulo Freire. O tradicional é aquele que você tinha que decorar, por mas que eu fale que as pessoas só aprendia mesmo quando decoravam, mas isso depende de aluno por aluno. Na sala de aula sou mais o socioconstrutivista do que o tradicional._ Postado há 6th November 2011 por Leiva0
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DE ALFABETIZANDO PARA PROFESSOR/ALFABETIZADOR NUM PRESÍDIO DECUIABÁ/MT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO LINHA DE PESQUISA: CULTURAS ESCOLARES E LINGUAGENS GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM LEITURA E LETRAMENTORAMOS,
Rowayne Soares.
OLIVEIRA,
Ana Arlinda de.
DE ALFABETIZANDO PARA PROFESSOR/ALFABETIZADOR NUM PRESÍDIO DECUIABÁ/MT
INTRODUÇÃO
Este artigo é resultado de uma pesquisa de mestrado em educação realizada em duas salas de alfabetização de EJA do Programa de Alfabetização “Por um Brasil Alfabetizado”, do Governo Federal, que funciona dentro do Antigo Presídio do Carumbé, hoje, Centro de Ressocialização de Cuiabá/MT. Programa esse existente na Unidade Penitenciária desde o ano de 2005 quando iniciaram as ações educativas naquela Unidade com parcerias entre o SESI/SEJUSP/SEDUC/SME e o MEC. Essas ações interinstitucionais possibilitaram não somente o ex-aluno/preso Jakson dos Santos, hoje Educador formado em Pedagogia, uma pessoa livre com ricas experiências de vida, mas como também diversos outros sujeitos que estavam em privação de liberdade e hoje buscando seus projetos de vida por meio da educação em algum lugar desse nosso mundo chamado planeta Terra. A metodologia utilizada para a realização do presente estudo foi a aplicação de questionário com questões abertas e fechadas entre professor e alunos/presos, de uma sala de aula do 1º segmento da EJA, da Escola Municipal de Educação Básica “Jescelino Reiners” e da Escola Estadual “Nova Chance”, que funcionam como salas anexas dentro do antigo Presídio do Carumbé em Cuiabá/MT, Além da observação de sala de aula, a fim de obter os dados descritivos relacionados à temática. A pesquisa se caracteriza como um estudo de caso e de análise qualitativa. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Alfabetização e letramento são processos interligados, porém separados enquanto abrangência e natureza, ou seja, caminham lado a lado, embora guardando diferenças entre si. O letramento é “continuum”. A alfabetização, além de ser um processo que leva ao aprendizado das habilidades da leitura, contribui para a liberação do homem e de seu pleno desenvolvimento. O letramento é mais do que alfabetizar, é ensinar a ler e a escrever dentro de um contexto em que a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte davida do aluno.
Soares (2003) chama a atenção para a possibilidade de uma pessoa ser alfabetizada e não ser letrada. No Brasil encontramos pessoas que sabem ler e escrever, mas não praticam essa habilidade e alguns não sabem sequer preencher um requerimento. Como ocorre no contexto penitenciário com os detentos quanto chegam a Unidade prisional, que ao serem abordados por um servidor administrativo do cartório, onde realiza toda a sua investigação de dados de leitura corporal do sujeito/preso e quando lhe pergunta se sabe ler e escrever. A resposta de imediato é sempre que, sim, mas quando vão para a sala de aula a triste e excludente realidade é outra. São consideradas pessoas que são alfabetizadas e não são letradas. Porém, há aqueles que sabem como deveria ser aplicada a escrita, mas não são alfabetizados. Como se pode ver no filme Central do Brasil, alguns personagens conheciam a carta, mas não sabiam escrevê-la por não dominar o sistema da escrita. Como observamos no contexto da sala de aula no presídio, em que alunos/presos que dominam um pouco mais a escrita e sabem ler, possuem uma relação social de maior importância naquele contexto por escrever para muitos que lá estão os bilhetes (chamados de bereu), petições para a Vara da Execução Penal, cartas aos familiares e outros comunicados de comercialização dentro do presídio como mostra neste, uma cópia de texto do jornal que circula entre eles por nome “A Grade”. Segundo Kleimam (1998), no ambiente de família letrada as práticas e usos da escrita são fato cotidiano, corriqueiro, inseparável de outros fatores e fazeres: a leitura do jornal como parte integrante do café da manhã; a redação de um bilhete ou a consulta a uma agenda como suportes da memória. O uso do texto escrito, nesse ambiente letrado, como fonte de informações permite que, antes de conhecer a forma da escrita, a criança conheça seu sentido e sua função. Para essa criança o processo de letramento se inicia no lar, contribuindo para o sucesso escolar, diferentemente de um ambiente onde a leitura e a escrita não estão tão presentes. Assim, a entrada da pessoa no mundo da escrita se dá pela aprendizagem de toda a complexa tecnologia envolvida no aprendizado do ato de ler e escrever. Além disso, o aluno precisa saber fazer uso e envolver-se nas atividades de leitura e escrita. Ou seja, para entrar no universo do letramento, ele precisa apropriar-se do hábito de buscar jornal para ler, de freqüentar bancas de revistas, livrarias, bibliotecas e com esse convívio efetivo com a leitura e, assim, apropriar-se do sistema de escrita. De acordo com o questionário aplicado com os alfabetizadores em relação à leitura, obtivemos o seguinte resultado: VIDA FAMILIAR E ESCOLARIDADE 1. Conte como foi sua infância e como foi o acesso a leitura? _Professor 1 (ex-preso)_ _“Olha com poucas palavras, a minha infância foi uma infância como qualquer outra criança qualquer, uma infância, tranqüila. Agora o meu acesso a leitura foi a partir de minha vida adulta. A partir dos 30 anos de idade. A leitura eu acho que a criança tem o acesso desde a infância, mas o interesse pela leitura foi na minha vida adulta. Já preso e encarcerado. E eu tive esse contato com a leitura no presídio do Pascoal Ramos. Eu lia livros de literatura, de filosofia, de história muito livro de história e o código penal. A leitura abriu um leque de conhecimentos eu tive muita vontade de voltar estudar pela leitura. Através daquelas pequenas leituras que eu tinha acesso no presídio num canto de uma cela eu tive vontade de voltar aestudar...”_
2. Você teve dificuldades para aprender a ler e escrever? _Professor 1 (ex-preso)_ _“Não. Não. (pausa) Eu era gago e aprendi a ler e a falar preso(na prisão)”._
3. Que tipo de livros você tem lido ultimamente? _Professor 1 (ex-preso)_ _“Jean Focanbert, Raquel Vilar, Michael Foucaut. Olha tem várias. Cada um assim que eu pego sempre da educação. Esse Michel foucaut no livro vigiar e punir. Olha... É um livro ideal”._ 4. Quais motivos te levaram a trabalhar como professor/alfabetizador neste presídio? Há quanto trabalha emprisões?
_Professor 1(ex-preso)_ _“As dificuldades que eu já conheço, se olhar para o aluno e dizer não este aqui é assim. Tinha aluno meu que escrevia o nome dele porque eu escrevia no quadro, mas quando eu perguntava para ele o que estava escrito ele não sabia. Eu escrevi no quadro JOÃO e ele não sabia que era o nome dele. Mas o preso que tem o crime comoprofissão..._
_Como você me buscou, você. Ia me buscar. A dificuldade antes era as grades hoje está melhor, hoje está fácil de ensinar._ _A dificuldade eu sei, foi o que me fez voltar. O professor é um elo importande para o preso lá dentro com o mundo exterior. Não que o professor vai se vender não. O professor pode levar uma carta para a família orientar o aluno e estimular a estudar”._ _“Há 01 (um) ano pelo Programa do governo federal. Há um ano eu venho trabalhando como alfabetizar pelo MEC – ALFASOL.”_ 5. Conte um pouco sua experiência como alfabetizador _Professor 1(ex-preso)_ _“Olha a minha experiência como alfabetizador no primeiro ano eu fui assim uma pessoa que observei muito em tudo. Tentando aprender. Porque eu não quero ser um professor qualquer. Por isso que eu fui ler, fui estudar, eu quero ser um referencial vou atrás... Ora eu fui estudar Confusio. Eu me interessei em procurar e ir atrás de como alfabetizar. Que não é mágica, não é fácil ensinar uma pessoa a aprender a ler e escrever. E depois disso ele irá sair do crime, não. Ele vai ter que querer é uma escolha difícil. E falo da minha experiência, eu já estive preso e eu sei. Falo do Franklin que faz faculdade na UFMT em Engenharia. Eu fiz a minha escolha. Eu soube usar o sistema ao meu favor. A prisão pra mim foi um mal necessário.”_ _Ele vai ter que ler para sair do mundo do crime. E exemplos... eu, Franklin e outros que já estiveram presos somente saíram porque fizeram uma boa escolha._ 6. O que é estar na prisão como professor(a)? _Professor 1(ex-preso)_ _“A visão é diferente, eu não vejo o aluno como preso, vou ti dar um exemplo. Eu fiz o meu estágio no PETi. E eu não olhei aquelas crianças como uma pessoa normal que não conhece o sistema prisional, não. Eu percebi que ali eles são tratado como pequenos marginais. Inclusive eu chamei a pessoa responsável e falei. Olha isso está errado vocês estão tratando essas crianças como pequenos marginais elas são crianças ainda.”_ _“Eu tô ali como professor e não como preso. Eu vou mudar essa situação de violência dentro da cadeia. Eu nunca aceitei violência na prisão como preso e agora eu não vou aceitar como professor. E eles tem que me respeitar e tem que me ouvir. Quem tá preso? Eu estive. E hoje? Os que praticam a violência com os presos onde estão? Quem são? Estão presos. Eles estão presos em seusproblemas.”_
7. Como é o seu convívio com os detentos? _Professor 1 (ex-preso)_ _“Excelente! Graças a Deus! Eu já estive ali. (risos)”_ 8. Você participa com frequência de cursos, congressos ou eventos ligados à alfabetização de jovens e adultos? _Professor 1 (ex-preso)_ _“Rowayne, a princípio não. Eu participo muito relacionado a ressocialização, mas agora eu vou ter mais tempo e participarei.”_ 9. Você já ouviu falar em letramento? _Professor 1 (ex-preso)__Já._
10. O que é ser letrado para você? _Professor 1 (ex-preso)_ _É aquela pessoa que sabe escrever uma carta, mas não consegue colocar no papel (risos). _ 11. O que é alfabetizar? _Professor 1(ex-preso)_ _“Olha hoje se vc. Me perguntasse isso há um ano atrás eu não sabia, mas pra mim alfabetizar é fazer ele gostar da leitura e da escrita e ele entender, aí eu to alfabetizando. Eu vou fazer ele gostar. Eu sou contra ensinar o que ele não faz. Eu nunca ensinei os meninos a ler vovô, vovó, não. Eu vou escrever pra ele coisas que ele caiu dentro do presídio, no cotidiano dele. Ele usa droga? Eu vou escrever pra ele DROGA. Eu não vou escrever pra ele coisas lá de fora. Ele precisa escrever coisas do cotidiano dele. Um ator de novela (nome). Eu não vou escrever para ele PATO. Não. (risos) Um dia eu escrevi FACA no quadro e um aluno me disse: Oh professor não me recorde (risos). Porque ele tinha caído com 7 facadas que ele tinha dado na namorada. E falou que tinha sido suicídio (risos). Tem que fazer o aluno gostar de ler e escrever, senão não vai.”_ 12. Para você o que é letrar um aluno? _Professor 1 (ex-preso)_ _“Eu acho que letrar é o complemento. A leitura interpretativa.”_ 13. Qual é a metodologia de alfabetização seguida por você? Explique, por favor. _Professor 1 (ex-preso)_ _“Ah! Inovadora é uma linha de estudo que ele também vai dar a opinião dele. Professor como é isso aqui? Essa palavra está certa? E os livros são fora da realidade são livros para meninos não para homens como os que estão presos”._ 14. Qual é a concepção de ensino que ampara sua prática como alfabetizadora? Você se julga uma alfabetizadora que ensina numa concepção tradicional ou sócio construtivista? _Professor 1 (ex-preso)_ _Eu acho que as duas são importantes, mas eu acho que eu sou mais sócioconstrutivista. Você tem que ter um pouco também do tradicional, mas tem que ser inovador._ CONSIDERAÇÕES FINAIS Hoje em nossa sociedade contemporânea saber ler e escrever não bastam, é preciso saber fazer uso da leitura e da escrita no cotidiano, apropriando-se da função social dessas duas práticas para atender as demandas colocadas por esta sociedade. Daí a importância da alfabetização como prática do letramento para que proporcione aos alunos o desenvolvimento de suas capacidades, competências e habilidades diversas, contribuindo para que eles se envolvam com as variadas demandas sociais de leitura e escrita em seu cotidiano social e cultural. Na sala de aula observada, percebemos que dentro das limitações do professor em relação à discussão sobre os textos que estavam trabalhando com os alunos, um esforço de sua parte em trabalhar com textos de leitura crítica numa perspectiva cognitivista, respeitando o que considerava significativo para o aluno e sua leitura de mundo. Outro fato observado é a importância que os alunos dão para a leitura de jornais no espaço da prisão, bem como eles produzem seus próprios textos por meio do jornal “A Grade”. A experiência e relatos do professor/alfabetizador e ex-preso J. S., nos possibilita compreender o quão significativo é o pensamento de uma educação crítica defendida por Freire, pois acreditamos que um professor munido de leituras e de atitudes voltadas para a consolidação dos direitos humanos nos espaços educacionais ainda que em uma penitenciária, pode agregar valores humanos e científicos imensuráveis ao sujeito aprendiz. Logo, as experiências que observamos no Centro de Ressocialização de Cuiabá (presídio do Carumbé), nas salas de alfabetização do Programa Por um Brasil Alfabetizado do MEC em parceria com Secretarias de Educação somente contribuem para um fazer pedagógico e educação crítica com mais afinco por parte de muitos educadores daEJA em prisões.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA, Antonio Augusto G. _Sobre a leitura: notas para uma concepção de leitura de interesse pedagógico. _In: Em aberto, Brasília, ano 10, n. 52, out./ dez. 1991. KATO, Mary. _O aprendizado da Leitura._ São Paulo, Martins Fontes.1985.
KLEIMAN, Ângela B. Ação e Mudança na sala de aula: uma pesquisa sobre letramento e interação 1998 in: _Alfabetização e Letramento _(org.) Roxane Rojo, Campinas, São Paulo: Mercado de Letras. FREIRE, P. _A importância do ato de ler e três artigos que se complementam. _São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1983. PÉREZ, F. C. & GARCIA, J. R. _Ensinar ou aprender a ler e a escrever? _Porto Alegre: Artmed, 2001. ------------------------- Mestrando em Educação – Programa de Pós-Graduação em Educação/UFMT – GPELL. Orientadora: Pós-Doutora em Educação pela UFMG e professora titulardo IE/PPGE/UFMT.
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ALFABETO NAS PRISÕES: PALAVRAS DITAS E USADAS COM FREQUÊNCIA NO CONTEXTO DO CENTRO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE CUIABÁ (ANTIGO PRESÍDIODO CARUMBÉ).
ALFABETO
NAS PRISÕES: PALAVRAS DITAS E USADAS COM FREQUÊNCIA NO CONTEXTO DO CENTRO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE CUIABÁ (ANTIGO PRESÍDIO DO CARUMBÉ). RAMOS, Rowayne Soares. Mestrando PPGE - UFMT rowayne.sucesso@gmail.com OLIVEIRA, Ana Arlinda de. Orientadora - Prof. Dra. PPGE – UFMT aarlinda@terra.com.br Este artigo é resultado de coletas e observações em salas de aula de uma turma da EJA do 1º segmento no contexto penitenciário de um presido na cidade de Cuiabá/MT. E com o intuito de analisar e observar as práticas de alfabetização e de letramento entre os alunos/presos. Logo, o que observamos foi o que teóricos da linguagem como Vygotsky e Bakthin falam de forma sociointeracionista sobre o sujeito e a linguagem (fala/discurso/escrita). Para Bakthin, olhar a linguagem como se fosse algo abstrato e regido por normas é impossível, conforme cita o autor: Na realidade não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis etc. A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido lógico (BAKTHIN, 1981, p. 95). A língua tem caráter dialógico e o enunciado é parte de uma cadeia, uma vez que temos de considerar o que foi dito antes e o que será dito. Logo, a visão da Lingüística que separa linguagem, língua e fala, para Bakthin, não faz sentido, segundo o que ele diz: Os indivíduos não recebem a língua pronta para ser usada; eles penetram na corrente da comunicação verbal; ou melhor, somente quando mergulham nessa corrente é o que a sua consciência desperta e começa a operar... Os sujeitos “não adquirem a língua materna”; é nela e por meio dela que ocorre o primeiro despertar da consciência (BAHTHIN, 1981, p. 108). O discurso está sempre dentro de outro discurso, tendo em vista o caráter dialógico da língua. Cabe ressaltar que o conceito de diálogo aqui não se restringe apenas àquele diálogo que temos um diante do outro, ou seja, mas sim ao diálogo que as palavras estabelecem quando significadas na palavra do outro. Isso porque os objetos do mundo são carregados de significados, por idéias, ideologias e pontos de vista. Logo, temos de levar em conta o mundo que cerca esses enunciados, bem como textos e seus significados já existentes no mundo. Bakhtin assim conceitua dialogismo: A orientação dialógica é naturalmente em fenômeno próprio a todo o discurso. Trata-se da orientação natural de qualquer discurso vivo. Em todos os seus caminhos até o objeto, em todas as direções, o discurso se encontra com o discurso de outrem e não pode deixar de participar, com ele, de uma interação viva e tensa. Apenas o Adão mítico que chegou com a primeira palavra num mundo virgem, ainda não desacreditado, somente este Adão podia realmente evitar por completo esta nítida orientação dialógica do discurso alheio para o objeto. Para o discurso humano, concreto e histórico, isso não é possível: só em certa medida e convencionalmente é o que pode dela se afastar (BAKTHIN, 1981, p. 88). A partir dessa citação, podemos ver que, para Bakthin, o discurso, a palavra é o centro de tudo e não é de autoria de um único falante. De fato, nessa perspectiva, a teoria de Bakthin nos faz refletir que várias pessoas usam a mesma palavra para expressar situações vividas em contextos, momentos e com pessoas diferentes. ABAIXO UM BREVE ALFABETO DE PALAVRAS UTILIZADAS NO CONTEXTO OBSERVADO A – Algema, alegria, agente, assistente social. B – Bereu (pequeno texto escrito solicitando algo para alguém), Birico (aparelho de celular), boi (vaso sanitário), bonde (é a palavra mais temida e odiada no contexto. Porque ir de bonde, significa ir para uma penitenciária ou cadeia que o preso não quer ir. Vai de bonde, são os selecionados pelo sistema a irem), beleza. C – Canto (é a palavra mais desejada de ser ouvida pelos presos – significa o alvará de soltura), Cabelo, cabeça, cela, cipó (rádio cipó – diálogos secretos entre os sujeitos/presos), come-quieto (cortina que separa as camas nas celas), Corre (levar e/ou resolver alguma coisa para alguém e também vendas/comércio de vários tiposde objetos).
D – Dia, democracia. E – Esperto, estrada, esquema, enfermeiro/a. F – Fofo (de boa com a direção do presídio – regalias pagas por àqueles presos que detém o poder financeiro a mais que outros presos), fofoca, felicidade. G – Gato, guerreiro, gente. H – Homem, homossexual, homoafetividade. I – Igreja, igual. J – Jéga (a cama de dormir), jóia, jumbo (compras – comidas, roupas que os familiares e amigos levam aos presos em dia de visita), Júlia (nome que eles dão à comida que eles recebem no presídio – Porque quem iniciou a fornecer comida ao presídio foi uma senhora cozinheira que tinha um restaurante próximo da unidade e era conhecida como D. Júlia). L – Liberdade, livre, ligado (estar atento ao discurso, pessoa esperta), líderança. M – Mulher, Mãe, mano veio (pessoa querida). N – Nuvem, novo, nunca, noiado (pessoa com sintomas/efeitos do uso de drogas ilícitas ou lícitas). O – Opressor, obrigado, ontem. P – Polícia, pé preto (nome que os presos dão ao policial militar), processo penal, paz. Q – Querer, quieto. R – Rádio, rua, raiva, ruim, rio. S – Saudade (de casa, da família, de um amigo, da profissão, do trabalho), sucesso, saída, sangue bom (pessoa importante), silêncio. T – Todos, totalidade, trator (bater em alguém que não cumpriu com as regras deles na prisão – violência bruta). U – União, unidos, utá! utá! (rapaz alegre no pedaço/gay eaceito por eles).
V – Vitória, vida, ver.X – Xadrez.
Z – Zuada, zumbido. REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA BAKHTIN, Mikhail. _Marxismo e Filosofia da Linguagem. _11ª Ed. – São Paulo: Ed. Hucitec, 2004. VYGOTSKY, L. S. _A FORMAÇÃO SOCIAL DA MENTE_. São Paulo, MartinsFontes, 1984.
_____________. _PENSAMENTO E LINGUAGEM_. Trad. Jérferson L. Camargo. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1993. ------------------------- Palavras coletadas a partir de observações em sala de aula na unidade penitenciária – Centro de Ressocialização de Cuiabá, no período de Outubro/2010 à Setembro/2011 – Amostragem da pesquisa de mestrado em educação/PPGE/UFMT – Rowayne Soares Ramos, ano de 2010/2012). Orientadora Profª Ana Arlinda de Oliveira - Pós-doutora em Educação pela UFMG. Postado há 6th November 2011 por Leiva0
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ALFABETO NAS PRISÕES: PALAVRAS DITAS E USADAS COM FREQUÊNCIA NO CONTEXTO DO CENTRO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE CUIABÁ (ANTIGO PRESÍDIODO CARUMBÉ).
ALFABETO
NAS PRISÕES: PALAVRAS DITAS E USADAS COM FREQUÊNCIA NO CONTEXTO DO CENTRO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE CUIABÁ (ANTIGO PRESÍDIO DO CARUMBÉ). RAMOS, Rowayne Soares. Mestrando PPGE - UFMT rowayne.sucesso@gmail.com OLIVEIRA, Ana Arlinda de. Orientadora - Prof. Dra. PPGE – UFMT aarlinda@terra.com.br Este artigo é resultado de coletas e observações em salas de aula de uma turma da EJA do 1º segmento no contexto penitenciário de um presido na cidade de Cuiabá/MT. E com o intuito de analisar e observar as práticas de alfabetização e de letramento entre os alunos/presos. Logo, o que observamos foi o que teóricos da linguagem como Vygotsky e Bakthin falam de forma sociointeracionista sobre o sujeito e a linguagem (fala/discurso/escrita). Para Bakthin, olhar a linguagem como se fosse algo abstrato e regido por normas é impossível, conforme cita o autor: Na realidade não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis etc. A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido lógico (BAKTHIN, 1981, p. 95). A língua tem caráter dialógico e o enunciado é parte de uma cadeia, uma vez que temos de considerar o que foi dito antes e o que será dito. Logo, a visão da Lingüística que separa linguagem, língua e fala, para Bakthin, não faz sentido, segundo o que ele diz: Os indivíduos não recebem a língua pronta para ser usada; eles penetram na corrente da comunicação verbal; ou melhor, somente quando mergulham nessa corrente é o que a sua consciência desperta e começa a operar... Os sujeitos “não adquirem a língua materna”; é nela e por meio dela que ocorre o primeiro despertar da consciência (BAHTHIN, 1981, p. 108). O discurso está sempre dentro de outro discurso, tendo em vista o caráter dialógico da língua. Cabe ressaltar que o conceito de diálogo aqui não se restringe apenas àquele diálogo que temos um diante do outro, ou seja, mas sim ao diálogo que as palavras estabelecem quando significadas na palavra do outro. Isso porque os objetos do mundo são carregados de significados, por idéias, ideologias e pontos de vista. Logo, temos de levar em conta o mundo que cerca esses enunciados, bem como textos e seus significados já existentes no mundo. Bakhtin assim conceitua dialogismo: A orientação dialógica é naturalmente em fenômeno próprio a todo o discurso. Trata-se da orientação natural de qualquer discurso vivo. Em todos os seus caminhos até o objeto, em todas as direções, o discurso se encontra com o discurso de outrem e não pode deixar de participar, com ele, de uma interação viva e tensa. Apenas o Adão mítico que chegou com a primeira palavra num mundo virgem, ainda não desacreditado, somente este Adão podia realmente evitar por completo esta nítida orientação dialógica do discurso alheio para o objeto. Para o discurso humano, concreto e histórico, isso não é possível: só em certa medida e convencionalmente é o que pode dela se afastar (BAKTHIN, 1981, p. 88). A partir dessa citação, podemos ver que, para Bakthin, o discurso, a palavra é o centro de tudo e não é de autoria de um único falante. De fato, nessa perspectiva, a teoria de Bakthin nos faz refletir que várias pessoas usam a mesma palavra para expressar situações vividas em contextos, momentos e com pessoas diferentes. ABAIXO UM BREVE ALFABETO DE PALAVRAS UTILIZADAS NO CONTEXTO OBSERVADO A – Algema, alegria, agente, assistente social. B – Bereu (pequeno texto escrito solicitando algo para alguém), Birico (aparelho de celular), boi (vaso sanitário), bonde (é a palavra mais temida e odiada no contexto. Porque ir de bonde, significa ir para uma penitenciária ou cadeia que o preso não quer ir. Vai de bonde, são os selecionados pelo sistema a irem), beleza. C – Canto (é a palavra mais desejada de ser ouvida pelos presos – significa o alvará de soltura), Cabelo, cabeça, cela, cipó (rádio cipó – diálogos secretos entre os sujeitos/presos), come-quieto (cortina que separa as camas nas celas), Corre (levar e/ou resolver alguma coisa para alguém e também vendas/comércio de vários tiposde objetos).
D – Dia, democracia. E – Esperto, estrada, esquema, enfermeiro/a. F – Fofo (de boa com a direção do presídio – regalias pagas por àqueles presos que detém o poder financeiro a mais que outros presos), fofoca, felicidade. G – Gato, guerreiro, gente. H – Homem, homossexual, homoafetividade. I – Igreja, igual. J – Jéga (a cama de dormir), jóia, jumbo (compras – comidas, roupas que os familiares e amigos levam aos presos em dia de visita), Júlia (nome que eles dão à comida que eles recebem no presídio – Porque quem iniciou a fornecer comida ao presídio foi uma senhora cozinheira que tinha um restaurante próximo da unidade e era conhecida como D. Júlia). L – Liberdade, livre, ligado (estar atento ao discurso, pessoa esperta), líderança. M – Mulher, Mãe, mano veio (pessoa querida). N – Nuvem, novo, nunca, noiado (pessoa com sintomas/efeitos do uso de drogas ilícitas ou lícitas). O – Opressor, obrigado, ontem. P – Polícia, pé preto (nome que os presos dão ao policial militar), processo penal, paz. Q – Querer, quieto. R – Rádio, rua, raiva, ruim, rio. S – Saudade (de casa, da família, de um amigo, da profissão, do trabalho), sucesso, saída, sangue bom (pessoa importante), silêncio. T – Todos, totalidade, trator (bater em alguém que não cumpriu com as regras deles na prisão – violência bruta). U – União, unidos, utá! utá! (rapaz alegre no pedaço/gay eaceito por eles).
V – Vitória, vida, ver.X – Xadrez.
Z – Zuada, zumbido. REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA BAKHTIN, Mikhail. _Marxismo e Filosofia da Linguagem. _11ª Ed. – São Paulo: Ed. Hucitec, 2004. VYGOTSKY, L. S. _A FORMAÇÃO SOCIAL DA MENTE_. São Paulo, MartinsFontes, 1984.
_____________. _PENSAMENTO E LINGUAGEM_. Trad. Jérferson L. Camargo. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1993. ------------------------- Palavras coletadas a partir de observações em sala de aula na unidade penitenciária – Centro de Ressocialização de Cuiabá, no período de Outubro/2010 à Setembro/2011 – Amostragem da pesquisa de mestrado em educação/PPGE/UFMT – Rowayne Soares Ramos, ano de 2010/2012). Orientadora Profª Ana Arlinda de Oliveira - Pós-doutora em Educação pela UFMG. Postado há 6th November 2011 por Leiva0
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PENSAMENTO E A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM: UMA REFLEXÃO DA TEORIA DEVYGOTSKY
RAMOS,
ROWAYNE SOARES.
OLIVEIRA,
ANA ARLINDA.
RESUMO: Este artigo aborda a linguagem humana, destacando, conforme a teoria de Vygotsky, a relação existente entre pensamento e palavra, a interação entre o bebê e o sujeito falante, enfatizando a fala egocêntrica, interior e social, nas concepções de Piaget e Vygotsky. Partindo de uma leitura analítica e reflexiva do Livro Linguagem e Pensamento do autor citado. A relação entre linguagem e pensamento para Vygotsky é de suma importância para as relações culturais e sociais do sujeito em sua vivência com o mundo exterior e interior do processo de aquisição da linguagem. PALAVRAS-CHAVE: Linguagem. Pensamento. Palavra. Teoria sociointeracionista.1. INTRODUÇÃO
A criança, desde o seu nascimento, é imersa em um mundo social, onde toda a atividade humana é mediada pela linguagem. Através de sua interação com o mundo, a criança, gradativamente, vai apropriando-se da linguagem em suas relações com os objetos e com o outro, seja criança ou adulto. Quando nasce, o bebê encontra um mundo de linguagem, onde a mãe fala com ele e fala com os demais na presença dele. Desta forma, quando o bebê começa a falar é como outro que ele se refere, dizendo: “ele quer...”, “o nenê gosta...”. Este processo é nomeado por Lacan, como _“alienação”_, é preciso alienar-se no desejo e nas palavras de outra pessoa para poder ter existência simbólica. Portanto, para o bebê poder falar por si mesmo, tendo seu “eu” como sujeito de seu enunciado, primeiramente, a linguagem vai habitá-lo através das palavras que o envolvem e após, ele terá a ilusão de dominá-la. Também será necessária a separação que desalienará o nenê do saber e das palavras da mãe, para que ela tenha uma existência simbólica própria. Os pais se admiram a cada vez que têm o privilégio de acompanhar de perto as primeiras vocalizações do bebê, seus balbucios e fragmentos de enunciados, reconhecendo parte de suas próprias falas. Desta forma, a aquisição da linguagem é um fenômeno que se repete em cada ser. Na convivência com a família, o bebê recebe a transmissão de uma língua, junto com as normas, tradições e costumes da comunidade, do contexto em que está inserido. Pode-se afirmar que a função que a linguagem cumpre no desenvolvimento doser
humano é algo insubstituível. Como coloca Jerusalinsky: Se bem que a criatura humana nasça com uma disposição na suaaparelhagem
orgânica para funcionar no campo da linguagem, ela não nasce coma alinguagem
pré-estabelecida. Ela nasce sim, tanto com a disposição comotambém com a
necessidade imperiosa de funcionar nesse campo. Não há nada noorganismo
humano que venha a suprir a função imprescindível que a linguagemcumpre
(2002, p.9).
A relação do sujeito com a realidade se faz sempre mediada pelo outro, através da linguagem. Vygotsky considera a linguagem como constituidora das funções mentais superiores, sendo que o conhecimento é adquirido nas relações entre as pessoas, através da linguagem e da interação social. Sendo assim, Vygotsky acredita que é no significado da palavra que o sujeito encontra as respostas referentes às questões sobre pensamento e fala. Seguindo esta teoria, é valido questionar: Como se dá este processo de aquisição da linguagem na criança? Qual é a relação da palavra com o pensamento? Para obter respostas para estas questões, busquei auxilio na teoria de Vygotsky sobre pensamento, aquisição e desenvolvimento dalinguagem.
2. QUEM FOI VYGOTSKY Lev Semyonovitch Vygotsky nasceu a 5 de novembro de 1896, na cidade de Orsha, no nordeste de Minsk, na Bielo-Russia. Em 1917, após graduar-se na Universidade de Moscou, com especialização em Literatura, começou sua pesquisa literária. De 1917 a 1923 lecionou literatura e psicologia numa escola em Gomel. Em 1924 mudou-se para Moscou, trabalhando no Instituto de Psicologia e no Instituto de Estudos das Deficiências, por ele criado. Entre 1925 e 1934, reuniu em torno de si um grande grupo de jovens cientistas que trabalhavam na área de psicologia e no estudo das anormalidades físicas e mentais. Dr. Em Educação e Desenvolvimento Humano; Psicólogo Especialista em Psicologia Clínica. O interesse pela medicina fez com que realizasse o curso. Um pouco antes de sua morte, foi convidado para dirigir o departamento de Psicologia do Instituto Soviético de Medicina Experimental. Entre suas principais obras destaca-se: “A Formação Social da Mente”, “Linguagem, Desenvolvimento e Linguagem” e “Pensamento e Palavra”. Vygotsky trouxe uma nova perspectiva de olhar àscrianças.
Ao lado de colaboradores como Leontiev e Luria, apresenta-nos conceitos importantes para a aprendizagem e a psicologia. Vygotsky sempre considerou o homem inserido na sociedade e, desta forma, sua abordagem foi orientada para os processos de desenvolvimento do ser humano com ênfase da dimensão sócio-histórica e na interação do sujeito com o outro no espaço social. Suas maiores contribuições estão nas reflexões sobre o desenvolvimento infantil e sua relação com a aprendizagem em sociedade e o desenvolvimento do pensamento e da linguagem. Vygotsky morreu de Tuberculose, em 11 de junho de 1934, deixando importante contribuição para a psicologia e a aprendizagem. 3. AS RELAÇÕES ENTRE PENSAMENTO E LINGUAGEM No livro “Pensamento e Linguagem”, Vygotsky apresenta uma argumentação elaborada, demonstrando que a Linguagem é um processo pessoal ao mesmo tempo em que é um processo social. Assim, a fala humana é o comportamento do uso de signos mais importante ao longo do desenvolvimento da espécie humana. Através dela, a criança supera as limitações existentes em seu ambiente, controlando o própriocomportamento.
Na psicologia existem vertentes diferentes que explicam a aquisição da linguagem, sendo que umas defendem que a linguagem é inata, já nasce com o bebê e outras, que ela é aprendida no meio, na interação com o ambiente e as pessoas. Para Chomsky “A aquisição da Língua se parece muito com o crescimento dos órgãos em geral; é algo que acontece com a criança e não algo que a criança faz” (1998, p.23). Inatista, Chomsky acredita que a mente já vem dotada de uma estrutura propensa a adquirir saberes, sendo a aquisição da linguagem uma parte específica do processo de aquisição do conhecimento. O autor afirma que através da linguagem o ser humano consegue expor o pensamento e comunicar-se, diferenciando-se assim dos outros seres vivos. Chomsky ressalta que a criança nasce com as condições de aprender línguas, com o órgão da linguagem embutido no sistema nervoso central. Para ele, embora o meio ambiente importe, influenciando no processo da linguagem, o curso geral do desenvolvimento e os traços básicos são pré-determinados pelo estado inicial. A criança não aprende uma língua, ela a desenvolve e todo ser humano considerado normal é capaz de desenvolver qualquer língua natural (humana). Sua teoria é confrontada com a de Skinner, que alega que a linguagem é essencialmente uma questão de aprendizagem, no sentido específico de aquisição pela mente, através de um sistema exterior. Vygotsky, ao contrário, acredita que a aquisição da linguagem na criança se dá devido à interação que a mesma possui com o ambiente que a rodeia e o convívio com outros da espécie. A linguagem não é apenas uma expressão do conhecimento adquirido pela criança, entre pensamento e palavra existe uma inter-relação fundamental, em que a linguagem tem papel essencial na formação do pensamento e do caráter do indivíduo. Pode-se considerar a linguagem como um instrumento complexo que viabiliza a comunicação e a vida em sociedade. Sem ela, o ser humano não é social, nem cultural. Para o autor, pensamento e linguagem têm origens diferentes. Inicialmente (no inicio da vida humana), o pensamento não é verbal e a fala não é intelectual. Desta maneira, o balbucio e o choro da criança nos primeiros meses de vida são estágios do desenvolvimento da fala que não têm relação com a evolução do pensamento, sendo consideradas como manifestações de comportamento emocional. As risadas, os sons inarticulados e os gestos são meios que o bebê dispõe de contato social a partir do nascimento. Embora pensamento e linguagem tenham raízes diversas (genéticas do pensamento e da linguagem), há no desenvolvimento da criança um período considerado como prélinguístico do pensamento e um período pré-intelectual da fala. Vygotsky ressalta que a descoberta mais importante da vida da criança acontece por volta dos dois anos de idade, quando as curvas da evolução do pensamento e da fala se cruzam e unem-se para formar uma nova forma de comportamento, surgindo assim a _fala racional ou pensamento verbal. _Neste período a criança percebe que cada coisa tem um nome, um signo, um significado. A curiosidade desperta e a criança desenvolve seu vocabulário. Desta forma, “É no significado da palavra que o pensamento e a fala se unem em pensamento verbal. É no significado, então, que podemos encontrar as respostas às nossas questões sobre a relação entre o pensamento e a fala”. (Vygotsky, 2005, p. 5). O significado é parte integrante da palavra, pertencendo ao domínio da linguagem e ao domínio do pensamento, pois uma palavra sem significado é um som vazio. A relação entre pensamento e palavra é um processo vivo; o pensamento nasce através das palavras. Uma palavra desprovida de pensamento é uma coisa morta, e um pensamento não expresso por palavras, permanece uma sombra. A relação entre eles não é, no entanto, algo já formado e constante; surge ao longo do desenvolvimento e também se modifica (2005, p.190). A função da linguagem é a comunicação combinada com o pensamento, a comunicação permite a interação social e organiza o pensamento. No desenvolvimento humano, a aquisição da linguagem passa por diversas fases: a linguagem social, a linguagem egocêntrica e a linguagem interior: a social tem a função de comunicar, sendo a primeira linguagem que surge; a egocêntrica e a interior estão intimamente ligadas ao pensamento. 4. FALA EGOCÊNTRICA NAS CONCEPÇÕES DE PIAGET E VYGOTSKY Em relação à fala egocêntrica, Vygotsky e Piaget discordam em vários aspectos: Na concepção de Piaget, em sua fala egocêntrica, a criança não se adapta ao pensamento do adulto, sendo que seu pensamento permanece totalmente egocêntrico, tornando sua conversa incompreensível para os outros. Desta forma, a criança não tenta se comunicar, apenas faz comentários em voz alta do que está fazendo. Esta é uma fala que não apresenta função útil. As observações sistemáticas de Piaget quanto ao uso da linguagem pela criança, definem que as conversas das crianças podem ser divididas e classificadas em dois grupos: o egocêntrico e o socializado. Desta forma, a fala egocêntrica se assemelha a um monólogo, a criança só fala de si própria, sem interesse por interlocutor, não espera resposta, pois não está querendo comunicar-se e não se preocupa se alguém a está ouvindo. Já na fala socializada há a tentativa de estabelecer diálogo, a criança transmite informações e questiona. Para Piaget, a fala egocêntrica deriva da socialização insuficiente da fala e desaparece (se atrofia) na idade escolar, por volta dos sete ou oito anos. Na concepção de Vygotsky, a fala egocêntrica é “Um fenômeno de transição das funções interpsíquicas para as intrapsíquicas, isto é, da atividade social e coletiva da criança para a sua atividade mais individualizada” (2005, p.166). A fala egocêntrica tem um papel importante na atividade da criança, sendo que e o curso do desenvolvimento do pensamento vai do social para o individual. Temos então duas linhas de pensamento referente à fala egocêntrica: Na visão de Piaget a fala social é subseqüente fala egocêntrica e a fala egocêntrica então desaparece: FALA EGOCÊNTRICA → FALA SOCIAL → DESAPARECIMENTO Na visão de Vygotsky, o desenvolvimento evolui da fala social para a egocêntrica, sendo que a fala mais primitiva do ser humano é a fala social e o desenvolvimento do pensamento vai do social para o individual. Desta forma a fala egocêntrica transforma-se em falainterior.
FALA SOCIAL → FALA EGOCÊNTRICA → FALA INTERIOR Sendo um instrumento do pensamento, a linguagem apresenta além das características da fala externa (discurso), a possibilidade da existência da fala interior, que acontece quando o sujeito consigo mesmo, volta-se para o pensamento, exercitando suas funções psicológicas. O declínio da fala egocêntrica representa que a criança abstraindo o som da fala, adquire capacidade para raciocinar e pensar as palavras, sem precisar verbalizá-las, o que representa a fala interior. Portanto, a fala interior surge após a fala egocêntrica, quando as palavras passam a ser pensadas, sem que obrigatoriamentesejam ditas.
5. CONCLUSÃO
A função primordial da fala, conforme Vygotsky é o contato social, sendo que a vivência em sociedade é essencial para o ser humano. O desenvolvimento da linguagem é impulsionado pela necessidade que o sujeito tem de comunicar-se com o ambiente e os outros seres da espécie. Desta forma, quando a criança chora, balbucia ou dá risada, está criando um meio de contato com o outro além de obter umalivio emocional.
Quanto à questão da fala egocêntrica, nota-se que Piaget e Vygotsky discordam em vários aspectos, do surgimento até o desaparecimento. Mas há também uma concordância entre os dois autores referente a este tipo de fala: a fala egocêntrica caracteriza uma fase especial do desenvolvimento da criança, representando uma forma específica de orientação social. Se a linguagem é matéria do pensamento e também o elemento da comunicação social, pode-se afirmar que não há sociedade sem comunicação e consequentemente, sem linguagem. A linguagem é constituída a partir da sociedade humana, sendo um produto social, nascido da necessidade que o ser humano tem de comunicar-se com seus semelhantes. A criança nasce inserida em um mundo de linguagem, um universo repleto de simbolização. O contato com o adulto, que nomeia os objetos, estabelece relações e situações irão auxiliá-la na construção de significados. As experiências do cotidiano oferecem elementos para a criança organizar seu pensamento, interagir com o meio e realizar suaspróprias escolhas.
Vygotsky defende a idéia de que onde houver linguagem há relação entre sujeitos e as nossas funções psicológicas superiores são adquiridas pela convivência com o outro. A transição entre pensamento e palavra passa pelo significado Neste processo, a linguagem de função social, é o sistema simbólico de todos os seres humanos, sendo mediadora do sujeito e o objeto de conhecimento.REFERÊNCIAS
BERNARDINO, L. M. F. (Org.). O que a psicanálise pode ensinar sobre a criança, sujeito em constituição. In: _A Abordagem psicanalítica do desenvolvimento infantil e suas vicissitudes._São Paulo: Escuta,2006.
CHOMSKY, Noam. _Linguagem e Mente_. Brasília: Editora da UnB, 1998. VYGOTSKY, L. S. _A formação Social da Mente._ TraduçãoJosé Cipolla Neto,
Luis S. M. Barreto e Solange C. Afeche. São Paulo: Martins Fontes, 1989. _________________ . _Pensamento e Linguagem._ Tradução Jeferson L.Camargo.
São Paulo: Martins Fontes, 1993. ------------------------- Mestrando em Educação – PPGE/UFMT – Grupo de Estudos e Pesquisas em Leitura e Letramento Orientadora - Professora Pós-Doutora em Educação – PPGE/UFMT Postado há 6th November 2011 por Leiva0
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Aug
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UMA QUESTÃO DE TERMINOLOGIA POR LEIVA CUSTÓDIO PEREIRA UMA QUESTÃO DE TERMINOLOGIAPOR
LEIVA CUSTÓDIO PEREIRA Considero importante compartilhar algumas reflexões a respeito das terminologias utilizadas para se referir à pessoa que se encontra privada de liberdade. Optei ao longo de minha pesquisa do curso de mestrado em educação, cujo objeto era pesquisar a educação no contexto das prisões, referir-me aos sujeitos privados de liberdade como presos. Na legislação penal brasileira, o individuo que se encontra privado da liberdade é denominado preso, mas não foi essa a causa principal da minha opção. Na literatura publicada sobre a situação do preso ou do Sistema Prisional é possível encontrar formas de se referir a esses subalternos privados de liberdade como reeducandos, apenados, ressocializandos, reabilitandos dentre outros. Compartilho da posição de Scarfó (2009, p. 111),
de que, “se algum `re` lhe cabe, é a redução da sua vulnerabilidade social, psicológica e cultural”. Na Unidade Prisional pesquisada (Centro de Ressocialização de Cuiabá/MT- CRC) o preso é denominado de reeducando, mas na realidade é tratado simplesmente como preso. Considero inadequado o termo porque a maioria daqueles que estão privados de liberdade nem sequer passou pelo processo de educação básica obrigatória. Como podem ser considerados reeducandos? Se efetivamente a minoria participa de atividades que são de fato integradoras, socializadoras, não podemos considerá-los nem como educandos, quanto mais reeducandos. A palavra preso origina-se da palavra prisão que é a supressão da liberdade mediante o recolhimento do acusado ou do condenado em um estabelecimento prisional. A palavra prisão por sua vez tem sua origem no latim vulgar _“prensione’’,_ que deriva do latim clássico “_prehensione”, _ato de prender ou capturar alguém, abarcando também o local onde se mantém o individuo preso, sendo sinônimo de claustro, clausura, cadeia, cárcere e xadrez. A palavra preso parece dura, desumana, mas essa é a condição que a maioria se encontra e, não quero florear com palavras, com termos considerados politicamente corretos, que podem ser mais maléficos, ao esconderem a condição desfavorável em que a maioria dessas pessoas sobrevive. A prisão tem três significados básicos que são a segregação, a captura e a custódia. Então, quem está na prisão é preso. Embora a palavra reeducando, ressocializando e tantos outros termos, que se parecem, mas não são sinônimos, sejam mais pulcros, não representam o que de fato são esses sujeitos: presos.Para Rubem Alves
as palavras não são inocentes, são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos. Cria-se então a cultura do politicamente correto, que pode se tornar ridícula, escondendo preconceitos que não são transformados somente com a substituição de uma superficialidade nos termos politicamente corretos. Embora o preconceito nas entrelinhas também seja perigoso, porque em doses ínfimas, reforça estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos, a opção pelo termo preso não carrega, neste caso, nenhum preconceito; apenas reflete a realidade em que se encontram mais de 496.251 pessoas privadas de liberdade. A demonstração de preconceito não está vinculada somente na palavra preso e sim, na concepção que a sociedade tem de quem é esse preso. Podem-se mudar os termos, mas se não houver mudança na postura da sociedade frente aos problemas gerados pela segregação social dessas pessoas, muito em breve, reeducando será substituído por outro termo mais moderno e os presos continuarão na sua condição de subalternidade, de lixo social. ------------------------- Pedagoga/Advogada. Mestranda em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. SCARFÓ, Francisco. EDUCAÇÃO PÚBLICA EM PRISÕES NA AMÉRICA LATINA: GARANTIA DE IGUALDADE SUBJETIVA. In: Educação Pública nas Prisões: Educação e prisão na América Latina: direito, liberdade e cidadania. Brasília: UNESCO, OEI, AECID, 2009. Unidade Prisional é utilizada como sinônimo de cadeia, penitenciária ou centro de ressocialização. Termo utilizado pelo preso K. J. durante a entrevista, se referindo às atividades educacionais: “O povo floreia, mas na prática, muda pouco nossa vida.” Linguagem Politicamente Correta - Matéria Publicada na Folha de São Paulo, de 11/03/2010. Postado há 24th August 2011 por Leiva1
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Aug
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TODOS OS PROFISSIONAIS DO SISTEMA PRISIONAL SÃO EDUCADORES, TODOS OS ESPAÇOS SÃO EDUCATIVOS. POR LEIVA CUSTODIO PEREIRA TODOS OS PROFISSIONAIS DO SISTEMA PRISIONAL SÃO EDUCADORES, TODOS OS ESPAÇOS SÃO EDUCATIVOS. POR LEIVA CUSTODIO PEREIRA Todos os profissionais que atuam no Sistema Prisional recebem as influências do mundo e podem devolver o que dele recebeu. Abrigam essas influências, refugia em si o mundo, deixando-se penetrar por ele, embeberem-se como os sofrimentos, regozijos, opressões e lutas. É imprescindível ganhar o mundo como ele chega e, imprescindível também fazer os questionamentos para hierarquizar e selecionar o que fazer e como portar frente aos desafios. Por isso os profissionais que constituem o Sistema Prisional podem educar para a transformação ou para a conformação com o caos estabelecido nesses espaços. O agente prisional e demais funcionários que atuam nas unidades prisionais estão em contato direto com os presos, com objetivo de “reintegrá-los” ao convívio social. No entanto, na sua tarefa habitual, a maioria se vê como sujeitos que "tão somente abrem e fecham as portas e os cadeados das cadeias". E sabemos que representam mais, que tem papel fundamental no processo ideológico do aprisionamento, uma vez que são eles que passam a maior parte do tempo com os sujeitos privados de liberdade. O agente prisional que crê que seu papel se restringe a “simples” função de abrir e fechar porta de cadeia, não crê também que seu trabalho tem função social importante. Mas esse desmerecimento não procede, sem ele, até os trabalhos desenvolvidos pelos professores ficam prejudicados. Por outro lado, o agente prisional que se inclui como educador também se frustra diante do menosprezo e das condições precárias conferidas ao seu trabalho. Além disso, muitos não sabem com clareza a alcance da sua função, arriscam-se mudar a rotina de trabalho, mas a falta de preparo e estrutura para atuar pode resultar em fracasso. Os agentes prisionais trabalham em péssimas condição de segurança, ficando o clima frequentemente tenso. A sociedade age com muito preconceito em relação ao trabalho desenvolvido por nós, mas corremos riscos o tempo todo. Nossas famílias se preocupam com nós. A sociedade não acredita na recuperação dos presos. Nessas condições não tem como recuperar ninguém. A sociedade acredita que o preso deve ser simplesmente castigado. Há descrédito quanto à possibilidade de educação dentro das prisões, por isso muitos se sentem discriminados socialmente. (Agente X). Ainda que o nome “agente prisional” seja de uso recente, esse profissional surgiu junto com a prisão e sua função foi também se modificando. No entanto, continua contando com uma realidade altamente complexa, em razão de o Sistema Penitenciário funcionar como depósito humano, daqueles indivíduos que a sociedade descarta, que causaram danos a ordem social estabelecida e sem utilidade para a lógica capitalista. Se o preso é desprezível, consequentemente quem trabalha com ele também o é. A cultura da marginalidade se estendeaos agentes.
Para Dahmer (1992)
a formação dos agentes é feita com frequência no nível do senso comum, de passar conhecimentos de uma geração mais antiga de agentes para os novos que chegam, em função da falta de uma orientação geral baseada num conhecimento sistematizado. Deste modo, os agentes carecem de uma formação sólida e continuada em diversas áreas como em psicologia, assistência social, direito, saúde, relações públicas, mediação de conflitos, defesa pessoal, política, filosofia, dentre outros. Deve-se oferecer não apenas um saber prático, mas um saber científico. O dia-a-dia e as rotinas do trabalhador de um Sistema Prisional não são simples de executar. Essa relação se dá de maneira conflituosa e estressante. A maioria das queixas incide sobre o agente, que igualmente sofrem com as condições precárias de alojamento, de alimentação e _stress_ físico. Quando ocorre uma rebelião o agente penitenciário é o refém mais possível devido a sua permanência com os presos. O agente prisional necessita, para entender seu ambiente de trabalho, mudar até mesmo a forma de comunicação: Quando cheguei a primeira vez numa prisão fiquei louco. Para o preso abafado era nervoso; Aluguel era tirar o sarro; Baculejo era revista minuciosa; Bagulho era maconha ou qualquer pertence sem valor; Boi, vaso sanitário ou banheiro; Fariseu era integrante da ralé; Farracho era faca artesanal; Pacaia mesmo que cigarro ruim; Pagar pau mesmo que pagar a proteção; Julia era a marmita e assim por diante. Com o tempo até a gente começa a falar desse jeito. (Agente Prisional X). O sistema punitivo mostra-se propositalmente desestruturado, proporcionando a perpetuação de condições que penalizam tanto funcionários como presos e ambos acabam reproduzindo a lógica desumana e violenta. Por isso esses profissionais educam para a transformação ou para a continuidade da dominação. Alves faz uma analogia ente educador e professor e assegura: Eu diria que educadores são como velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma “estória” a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os ligam aos alunos sendo que cada aluno é uma “entidade” _“sui generis”,_ portador de um nome, também de uma “estória” sofrendo tristezas e alimentando esperanças. Mas, os professores são habitantes de um mundo diferente, onde o educador pouco importa, pois o que interessa é um crédito cultural que o aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais nenhuma diferença faz aquele que a ministra. Por isso mesmo professores são entidades “descartáveis”, coadores de café, copinhos plásticos de café, descartáveis. De educadores para professores realizamos um salto de pessoa para função. (ALVES, 1982, p.16) Alves acrescenta que o que o educador habita num mundo em que a interioridade faz a diferença, em que essas pessoas se definem por suas visões, esperanças e horizontes, o professor que não é educador, ao contrario, é dominado pelo Estado, pelos interesses da classe dominante. Foi possível perceber que poucos profissionais são de fato educadores dentro desse sistema. E, muitas vezes têm suas atividades prejudicadas por aqueles que não querem as mudanças, que faz o jogo dos dominadores, subjugando os presos e os funcionários que lutam por mudanças. A maioria das unidades prisionais brasileiras, incluindo nesta realidade do Centro de Ressocialização de Cuiabá/MT, confronta-se com problemas incuráveis de superlotação, apresentando condições humilhantes e indignas aos presos, constituindo-se em ambientes de experiências e de aprendizagens negativas, de multíplices e ininterruptas violações dos direitos humanos no que se refere saúde, educação, comunicação com familiares, acesso documentação, alimentação, assistência jurídica, segurança física e mental, dentre outras. Os presos terminam por reproduzir entre eles o autoritarismo, a luta pelo poder, a corrupção e a exploração daqueles que são mais vulneráveis. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo,
admitiu recentemente que o Sistema Prisional do país está em uma situação quase “medieval”. Um estudo da Anistia Internacional, divulgado, avalia como degradante o sistema penitenciário nacional. De acordo com a organização, as prisões continuam superlotadas e os detentos sofrem tortura. Para a Anistia Internacional, o tratamento é considerado cruel, desumano e degradante. O Ministro ainda cita que cerca de 66 mil presos estão nas carceragens das delegacias de polícia em condições inaceitáveis. No documento, a Anistia Internacional ainda crítica o alto índice de violência policial e que ativistas e defensores dos direitos humanos vivem sob constantes ameaças no Brasil e encontram dificuldade em obter proteção doEstado.
Assim, tanto os professores quanto os demais funcionários das Unidades Prisionais devem ser educadores comprometidos com as mudanças sociais. Muitos agentes prisionais fizeram a diferença na vida dos presos. Muitos narram que só conseguiram estudar graças insistência de alguns agentes e professores. Isso demonstra que é possível, apesar do sistema buscar o esquecimento desses miseráveis, contribuir para que essas pessoas ao sair da prisão se insiram na sociedade. Devem proporcionar, nas Unidades Prisionais, que todos os espaços sejam educativos e que todos os profissionais sejam educadores, que se busque na rotina da prisão a libertação físicae social do preso.
Diante de situação de precariedade, parece difícil os presos aprenderam algo além daqueles valores difundidos pela burguesia. A estrutura física e de pessoal da prisão contribui para a reprodução da dominação. O Centro de Ressocialização de Cuiabá/MT consegue, através da improvisação, humanizar minimamente os espaços, por isso é considerado pelos presos e agentes que passaram por outras Unidades como a melhor Unidade do Estado de Mato Grosso, a mais humanizada. Imaginem as outras.... ------------------------- Pedagoga/Advogada. Mestranda em Educação da Universidade Federal deMato Grosso - UFMT
DAHMER, Tânia Maria Pereira. SEGURANÇA E DISCIPLINA. Rio de Janeiro:Ed. Mimeo. 1992.
ALVES, Rubem. O PREPARO DO EDUCADOR. In Brandao, Carlos R. (Org.). O Educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Edição Graal, 1982. http://noticias.r7.com/brasil/noticias/ministro-da-justica-admite-que-prisoes-estao-em-situacao-quase-medieval-20110513.html Postado há 24th August 2011 por Leiva0
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Aug
24
O ABANDONO FAMILIAR E SOCIAL DO PRESO - POR LEIVA CUSTÓDIO PEREIRA O ABANDONO FAMILIAR E SOCIAL DO PRESOPOR
LEIVA CUSTÓDIO PEREIRA Se fizermos uma enquete, para levantar quantas pessoas conhece, ou seja, já entrou numa Unidade Prisional, certamente a maioria delas diria que não conhece. E, acredito que aquelas que conhecem não recomendariam essa visita a ninguém. E justifico o porquê... Busquei ao longo do meu trabalho de pesquisa do Curso de Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso me colocar como pesquisadora, embora saiba que não existe neutralidade. Além de ser Pedagoga, por acaso sou também Advogada e como tal, poderia entrar na Unidade Prisional sem haver necessidade de revistas e demais procedimentos constrangedores. No entanto, optei por não revelar essa condição porque queria sentir e saber como os familiares e amigos dos presos são tratados quando entram na Unidade para as visitas. No inicio das observações das famílias e visitantes, busquei verificar a dinâmica da fila, o tempo de espera, a maneira como as pessoas se interagem, como se comportam, como se vestem e o ambiente que contorna a Unidade, buscando subsídios para interpretar essa realidade. Depois desse primeiro contato, procurei interagir com esse universo por meio das entrevistas abertas. Foi essencial buscar uma relação horizontal com os entrevistados. Na primeira abordagem me identifiquei como pesquisadora, revelando os objetivos da pesquisa e a sua relevância, mas preferi não usar gravador, pois as pessoas têm muito medo de revelar o que de fato acontece nesse ambiente. O espaço prisional é assustador para quem não tem familiaridade. No caso específico do Centro de Ressocialização de Cuiabá ∕RO - CRC, além de um enorme muro, existe logo na entrada, a primeira guarita, coordenada pela Policia Militar. É ali que as pessoas são identificadas, revistadas e tem de fato o primeiro contato com a prisão. Foi possível presenciar durante os longos dias de pesquisa a forma como as pessoas que visitam os presos são tratadas e como isso contribui para o abandono familiar e para o isolamento social dopreso.
Meu contato com o ambiente prisional não se deu recentemente, mas quando adentro nestes espaços há certo incomodo e inquietação em pensar que pessoas são tratadas como objetos, sem nenhum valor. A primeira visita no CRC não foi carregada de boa receptividade, não por portes de agentes, diretores, professores e presos, mas por parte da Policia Militar. Ao dirigir-me a um policial para pedir informações sobre os procedimentos para entrada, foi grosseiramente me dizendo: “Não é comigo, procure quem é responsável” e virou-se, sem dar nenhuma outra informação. Educadamente, mas com certa indignação, procurei a pessoa responsável que ali mesmo no pátio aberto, às vistas de muitas pessoas, passou a revistar minha bolsa e meus materiais, expondo tudo que estava dentro. Isso me intrigou: se me apresentando como mestranda da Universidade Federal do Mato Grosso era tratada daquela forma, qual o tratamento dispensado aos trabalhadores pobres da periferia que vem visitar os seus? Isso me fez dedicar alguns dias à observação e conversa com os familiares dos presos na tentativa de compreender como vivem os familiares dos presos após a prisão e seu processo de empobrecimento. Outro fator que me despertou para esse propósito foi o fato de nas entrevistas com os presos perceber que muitos perderam o contato com a família que é para a maioria a única ligação com o mundo fora dos muros, o único apoio que lhes restam. Foram muitas as observações e registros que deram vida ao meu Diário de Campo e que contribuíram para compreender o motivo pelo qual as famílias acabam abandonando os presos nas Unidades Prisionais. O contato com os familiares e visitantes foi realizado do lado externo da instituição, com a intenção de evitar situações que pudessem prejudicar a obtenção das informações. Ficava em frente ao Centro de Ressocialização de Cuiabá, ouvindo e observando as pessoas que chegavam quase sempre aflitas, carregadas de sacolas. Homens saindo e chegando, alguns sem camisa, algemados, transportados como bichos. Observo também o tratamento pouco cordial, para não dizer grosseiro, de alguns policiais (trabalhadores) que deveriam servir aos subalternos com o mesmo trato que servem a classedominante.
A maioria desses homens e mulheres, que possuem familiares presos vem a uma Unidade Prisional buscar formas de devolver aos seus, um pouco de dignidade. Não são bandidos, são principalmente vítimas e sofrem as consequências da prisão, junto com aqueles que se encontram privados de liberdade. Observo uma mulher magra, de aproximadamente 20 anos chegando de moto taxi, vestimentas simples para os padrões burgueses e bate no portão. Pergunta a um determinado Policial Militar como se faz para visitar o marido que havia sido preso há três dias. O Policial rispidamente diz que as orientações estão afixadas no muro da Unidade, do lado de fora. Ela lê... não entende nada e volta a indagar sobre os procedimentos. O policial já irritado por ter que abrir o portão tantas vezes, tanto para ela quanto para as demais pessoas que procuram a Unidade, diz com certa arrogância, própria daqueles que com uma arma subjuga os demais: “Você não saber ler?” E bate o portão. A mulher bem desconcertada sai sem entendernada e eu também.
Outro dia, observo uma mulher que fala ao telefone, pedindo que alguém viesse buscá-la, pois estava em frente ao presidio Carumbé, como é popularmente conhecido o CRC. Insiste que gostaria que viessem buscá-la, pois estava do lado de fora do presidio e as pessoas que passavam iriam reconhecê-lo e perguntariam “o que fulano de tal está fazendo no presídio”. Assim que ela desligou o telefone, conversamos por longo tempo e contou que seu filho mais novo, com apenas 23 anos estava preso e ela sentia muita vergonha dessa situação. Indaguei o porquê da vergonha, se quem cometeu o crime foi o filho e não ela e, com os olhos emprenhados de lágrimas contou-me a historia da sua vida. Percebi, com aquela quantidade de detalhes que relatava, uma vida de extrema pobreza, as muitas dificuldades que passou para criar os sete filhos e as dificuldades que ainda passa, pois não tem trabalho fixo, cria seis netos e ainda precisa dar assistência ao filho que está preso. Precisava de R$ 3.000,00 para pagar advogado, mas essa quantia era impossível para ela. E, eu fiquei refletindo com os poucos neurônios que a nicotina ainda não matou que quem deveria se envergonhar pelo filho daquela humilde senhora são todos os brasileiros que permitem que um jovem que sequer completou o Ensino Fundamental, esteja preso naquelas condições e sem nenhuma perspectiva de melhora. Deveríamos nos envergonhar de votar em partidos e políticos que não apresentam uma proposta de educação nacional e permitimos que os politicas econômicas reforcem sempre mais as diferenças entre ricos e pobres. De uma maneira geral, os familiares fizeram relatos desaprovando a forma como são tratados pela maioria dos Policiais Militares. Isso também acontece em relação aos agentes prisionais, mas em proporção menor. O que mais afasta os familiares das prisões não são os presos, mas a forma como são tratados. Muitos pais relataram que não concordam com aquilo que os filhos fizeram, mas não podemabandoná-los:
Meu filho cometeu vários crimes eu sei que ele é errado, mas eu não fiz nada. Nunca roubei nada de ninguém. Tenho vergonha do que ele fez. Mas eu não sou bandido. Tratam aqui a família dos presos como se todo mundo tivesse feito um crime. (Pai de um preso). Esse depoimento demonstra que a família do preso também sofre as discriminações e muitas vezes aparecem explicito o conformismo e a culpa que a família carrega pelo crime cometido pelos seus. As famílias têm muita dificuldade para acompanhar os presos. Além do tratamento pouco cordial e do próprio clima de hostilidade que impregna o ambiente, existem as revistas constrangedoras. E não haveria necessidade de assim ser, pois a Unidade possui detector de metais, que não funciona e, poderiam ser Instalados equipamentos sofisticados que evitaria a entrada de entorpecentes, armas e celulares, assim como o constrangimento da exposição física dos visitantes. Mas para tanto é preciso vontade e interesse de “ressocializar” e me parece contraditório “ressocializar” no isolamento total. O preso, via de regra, tão somente pode desfrutar do convívio familiar nos dias de visitas que podem ser esporádicas ou regulares, sendo este o único elo que o vincula ao mundo comum das pessoas. A gente se prepara para receber a família. Lavamos roupa, cuidamos do cabelo. Deixamos tudo arrumado para ver se eles ficam bem aqui. Mas quando ninguém vem dá uma tristeza. Eu já vi muito marmanjão chorar aqui dentro. Vejo homem bravo se desmanchar quando a mãechega. (Aluno K).
O preso que sabe que receberá a visita da mulher, da mãe e dos filhos de maneira pacífica, tem esperança de sobreviver ao encarceramento. Mas para muitos a prisão pode chegar a períodos relativamente longos de 12, 14 anos ou mais e o contato pode ser perdido, ocorrendo assim o abandono familiar. Em alguns casos esse abandono ou afastamento é anterior e o aprisionamento o reforça. Por isso a manutenção dos vínculos familiares, a aproximação familiar e restabelecimento do vínculo que pode estar fragilizado ou distendido e até corrompido, deve contar com a intervenção do Serviço Social. O Assistente Social contribui muito, no entanto, o CRC possui apenas quatro profissionais para atender um número tão expressivo, 1400 presos. A prisão, além de limitar o convívio familiar, restringido aos dias de visitas, para aquelas que possuem condições econômica para suportar os custos de transporte coletivo, viagem e em alguns casos a hospedagem, pode partir decisivamente ligações afetivas com a família de origem ou aquela que foi constituída. Com o passar do tempo, o preso se dá conta de que perdeu o contato com pessoas próximas. Os relatos que narram as perdas são sempre sobrecarregados de emoções, esperanças e frustração causada pelo abandono ou por sua possibilidade iminente. E, agregado ao esquecimento familiar há o esquecimento social. Em muitos depoimentos é possível perceber o medo que o preso tem em perder a esposa e, consequentemente, ocorrer o afastamento dos filhos e/ou pais. Além do apoio moral, a família também responsável por fornecer apoio material como os produtos de higiene, roupas, comidas e demais produtos que necessitam, além de, em muitos casos, ter que sustentar os vícios. Tudo que entra no presidio vira produtos para comercialização. Existe um mercado paralelo e superfaturado. Um macarrão instantâneo pode custar R$3.000, um sabonete R$4.000 e assim por diante. Às vezes a família leva produtos não porque o preso preciso usar, mas por que precisa comercializá-lo. As cenas de hostilidades acontecem no cotidiano daqueles que precisam visitar algum membro da família que se encontra preso. Faz-se necessário refletir como alguns trabalhadores incorporam tão bem a visão das classes dominantes. Como um trabalhador não exprime nenhum sentimento de solidariedade para com aquela mulher pobre e desesperada com a prisão do marido e de tantas mães, pais, filhos e amigos. Essas pessoas necessitam de ajuda para que possa continuar ajudando ao preso, visando a continuidade de seu vinculo familiar que é extremamente importante para o processo de socialização do preso. De acordo Batista e Thompson (2011) na maioria dos presídios do Brasil, as familiares e amigos dos presos também sofrem vários tipos de agressão. O procedimento de revista é tão humilhante que muitos detentos preferem não receber visitas. Os visitantes são submetidos a uma revista rigorosa, tudo é revistado: comida, roupas, utensílios de limpeza e higiene. A comida é praticamente destruída. As mulheres são submetidas a situações degradantes. Muitas vezes elas têm que se despir e agachar várias vezes em cima de um espelho para que os agentes tenham certeza de que elas não levam nada na vagina ou no ânus. Quando isto não basta, elas são submetidas à prova do toque vaginal e anal. Recentemente acompanhamos os meios de comunicação de Mato Grosso denunciaram essa situação, revelando que mulheres e familiares de detentos da Penitenciária Central de Mato Grosso (antigo Pascoal Ramos), em Cuiabá, estavam sendo vítimas de humilhação e abuso de autoridade por policiais. Os atos estariam ocorrendo nas filas de visita, que ocorrem aos domingos e quartas-feiras. As mulheres reclamaram do rigor das revistas, denunciando que os policiais estariam apreendendo as carteirinhas de visita caso reclamassem de algo ou questionassem. Um dos motivos seria em relação à quantidade de alimentos que estão sendo restringidos na unidade. A comida levada pelos familiares dos detentos, em muitos casos, vai parar no lixo por estar em quantidade considerada pelos policiais acima do limite permitido. No entanto, não há balança para verificar o peso real. De acordo com as denuncias “Eles simplesmente olham a sacola de comida e dizem que só vamos entrar se jogar a metade fora. Outros já pegam a nossa carteirinha como punição por termos excedido no peso. Isso é umahumilhação”
,
afirmou Paula Santos que é esposa de um detento que está cumprindo pena por tráfico de drogas. Segundo as denuncias a apreensão da carteirinha pode levar algumas horas e até mesmo um mês. De acordo com a declaração de uma aposentada de 60 anos, ficou mais de duas semanas sem poder ver o filho porque teve a carteirinha retida. O motivo: duas sobremesas para o filho, quando os policiais disseram que ela poderia levar apenasuma.
Nesta unidade onde houve as denuncias assim como no CRC, possui na parede externa recomendação sobre o que os detentos podem receber como alimento nos dias de visita. Mas, aos familiares afirmam que esta regra não vale para todos, alguns tem privilégios. Além dos problemas relacionados a visitas, aos alimentos, a movimentação no entorno da penitenciária, que se encontra superlotada, começa logo cedo. Jovens, idosas, grávidas, mulheres com crianças no colo, chegavam de madrugada ou no dia anterior, na tentativa de garantir o lugar na fila. Isso porque elas reclamam que as revistas para entrar no presídio são demoradas e, se não dormirem na fila, não conseguem entrar. As denuncias da Penitenciária Central não é exclusividade do Estado de Mato Grosso, nem por isso deixa de servergonhosa:
Quem chega tarde não entra porque a revista é muito enrolada. Aí temos que ficar vindo quase 24 horas antes para conseguir um bom lugar na fila e não correr o risco de não entrar (Declaração de uma senhora que não quis se identificar). As denúncias integram o relatório de inspeção realizada por uma equipe da Defensoria Pública de Mato Grosso, na Penitenciária Pascoal Ramos. Seis defensores públicos dos Núcleos de Direitos Humanos, Ação Penal e Criminal recolheram depoimentos dos familiares após receberem denúncias de irregularidades e as famílias esperam amedrontadas respostas concretas. A transgressão dos Direitos a que são submetidos esses familiares anda na contracorrente de um projeto que tem como objetivo proporcionar condições para que o preso volte ao convívio social de maneira digna. Atribuir visibilidade a essa realidade social é necessária para potencializar políticas de renuncia aos processos de desigualdades institucionalizadas que se processam nas mais diversas maneiras de exclusão, de arbítrio, de autoritarismo e preconceito presentes na sociedade e que acabam por se configurar como fatos inevitáveis e naturais. A família não pode ser punida juntamente com o preso, compartilhando de todo o processo de exclusão e de disciplinamento. Assim, é imprescindível a compreensão desta problemática e de outras duras realidades em que se encontram os presos no Sistema Penitenciário brasileiro, reprodutor da exclusão. Assim, os efeitos maléficos da prisão incidem não somente sobre os presos, mas, de maneira muito injusta, sobre os seus familiares. As famílias passam a fazer parte do jogo de poder das práticas prisionais, uma vez que precisam seguir as normas e imposições do sistema penal, que muitas vezes são ilegais e imorais. Os abusos acontecem não é por falta de legislação. A ONU determina através das Regras Mínimas da ONU (ONU,1955) os direitos dos presos e de suas famílias, sendo reconhecidos formalmente em normas nacionais e internacionais. Além dessas normas temos o Código Penal (BRASIL, 1940), a LEP ( BRASIL, 1984), entre outras. E, não haveria necessidade de nenhuma outra se fossem cumpridos os direitos estabelecidos na Constituição brasileira. Mas, o Brasil degusta a realidade prisional absolutamente fora da lei, existindo um distanciamento imenso entre aquilo que é formalmente estabelecido em lei e sua concretização nesta sociedade capitalista. O que se pode concluir ao logo das observações e entrevistas é que em grande parte das visitas nos sistemas penitenciários em geral é realizada por mulheres (mães e esposas) e que são as mais atingidas por violação de direitos provenientes do próprio Estado, que as fazem passar por revistas desrespeitosas e humilhantes, abusos de autoridade, carência de assistência jurídica e de recursos materiais mínimos. São subtraídos dessas famílias direitos fundamentais como o direito à saúde, educação, a habitação digna, dentre outros que não alcançam os mais pobres. A ausência do Estado na concretização de políticas públicas de inclusão social segue na contra mão da repressão. O processo de exclusão social que se inicia na estigmatização, na segregação dos grupos populares, que são considerados pela classe dominante como classes perigosas, marcha para a prisão ou a morte prematura. ------------------------- Pedagoga/Advogada. Mestranda em Educação da Universidade Federal deMato Grosso - UFMT
BATISTA Nilo e THOMPSON Augusto. PENITENCIÁRIAS E ESTADO CRIMINOSO.Disponível em:
http://www.anovademocracia.com.br/no-27/570-penitenciarias-e-estado-criminoso.
Acesso em: 07/04/2011.Fonte:
http://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2011/06/mulheres-reclamam-de-humilhacao-e-agressao-na-visita-detentos-em-mt.html Postado há 24th August 2011 por Leiva0
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